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Muitos corpos cremados em Catmandu eram de rapazes de Gongabu, escala para trabalhadores que emigram para o Golfo. | Daniel Berehulak/The New York Times
Muitos corpos cremados em Catmandu eram de rapazes de Gongabu, escala para trabalhadores que emigram para o Golfo.| Foto: Daniel Berehulak/The New York Times

Quando a densa coluna de fumaça das cremações junto ao rio Bagmati estava diminuindo, todos os corpos vinham de Gongabu, escala comum para trabalhadores nepaleses que rumam para o exterior, e eram todos de homens jovens.

O costume hindu manda que as piras fúnebres sejam acesas pelo filho mais velho do morto, mas esses homens eram jovens demais para ter filhos, então foram queimados por seus irmãos ou pais.

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O agricultor Sukla Lal viajou 14 horas para recuperar o corpo de seu filho de 19 anos, que estava a caminho do golfo Pérsico para trabalhar como operário. “Ele queria viver no campo, mas foi obrigado a ir embora pela pobreza. Ele me disse: ‘Você pode viver na sua terra, eu voltarei com dinheiro e teremos uma família feliz’.”

O Nepal não consegue calcular quantos rapazes foram perdidos para os terremotos de 25 de abril e 12 de maio. Os jovens já vinham partindo em grandes levas —1.500 por dia, segundo algumas estimativas—, deixando muitas pequenas comunidades povoadas apenas por pais idosos, mulheres e crianças.

Economistas dizem que em certas épocas do ano um quarto da população do Nepal está trabalhando fora do país.

Muitas crianças apanhadas pela destruição dos terremotos já estavam crescendo sem pais em casa. E pessoas mais velhas e frágeis ficaram para cuidar da recuperação por conta própria.

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Economistas dizem que a menos que o governo aja rapidamente para criar oportunidades de trabalho o êxodo de jovens vai se acelerar, prejudicando de modo permanente a capacidade de reconstrução do país.

“O governo tem de criar um pacote de socorro se quiser retê-los”, disse Chandan Sapkota, economista-chefe do Banco de Desenvolvimento Asiático em Katmandu. “Se esses imigrantes tiverem incentivos para ficar na aldeia, seu primeiro instinto será esse. Mas tem de ser rápido.”

O Banco de Desenvolvimento Asiático reduziu suas projeções de crescimento econômico no Nepal para 4,2% este ano, contra 4,6% em 2014, mas Sapkota disse que o índice ficará mais perto de 3%. O turismo, que contribuía com 9% da produção do país, deverá cair acentuadamente.

O bairro de Gongabu foi um dos lugares onde houve mais mortes em Katmandu em 25 de abril. É uma área onde as agências de recrutamento abrigavam os rapazes que esperavam para trabalhar no exterior, com muitos hotéis baratos e pensões lotados nas ruas próximas à rodoviária.

Um dos mortos foi Ram Bahadur Chapagain, 26, cujo corpo estava inchado e coberto de moscas depois de seis dias nos escombros.

Três homens levantaram o corpo em uma lona e o depositaram na pira. Um deles encheu uma das mãos com água do rio Ganges e a despejou na boca, e besuntou o cadáver com manteiga clarificada para acelerar a queima. Depois empilharam o corpo com troncos até que só uma mão podia ser vista pendurada, os dedos crispados.

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Chapagain estava a caminho da Arábia Saudita para trabalhar como operário, disseram os homens. Ele havia se despedido da família meses antes, quando lhe disseram que em breve viajaria para o Golfo, mas a agência de recrutamento continuou adiando a partida, deixando-o à espera em Gongabu.

Os jovens fizeram muita falta quando o Nepal tentava enfrentar os efeitos dos terremotos, segundo Kanak Mani Dixit, fundador da revista “Himal Southasian”.

Isso pôde ser sentido nos funerais, onde, de acordo com o costume, os corpos são carregados sobre varas de bambu sem ser depositados durante horas, até que o funeral chegue à margem do rio.

Em Gongabu, Sumah Thapa, um antigo morador, pensava sobre os jovens que foram apanhados nas pensões. “Eu não os conheço, mas são homens bons. Ir trabalhar em países estrangeiros é muito duro. Hoje suas famílias não têm nada.”

Colaborou Chris Buckley

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