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Um mosteiro arménio abandonado em Cungus, Turquia | Bryan Denton/The New York Times
Um mosteiro arménio abandonado em Cungus, Turquia| Foto: Bryan Denton/The New York Times

As ruínas de pedra do mosteiro, construído numa encosta, representam um monumento abandonado a um passado terrível. O mesmo se aplica à deteriorada igreja no outro lado desta aldeia nas montanhas.

Mais adiante, a terra exibe um sulco tão profundo que, ao olhar para ele, só se enxerga a escuridão. A história assombra. Foi aqui que, um século atrás, um incontável número de armênios foi atirado para a morte.

“Jogaram todos os homens naquele buraco”, relatou Vahit Sahin, 78, apontando para o mosteiro. “Aquele lado era armênio. Este lado era muçulmano. No início, eles eram muito simpáticos uns com os outros.”

Cem anos atrás, em meio à agitação da Primeira Guerra Mundial, esta aldeia e inúmeras outras em todo o leste da Anatólia se tornaram campos de extermínio, pois a liderança do Império Otomano, desesperada depois de perder os Bálcãs e diante da perspectiva de se ver privada também dos seus territórios árabes, viu uma ameaça mais perto de casa.

Temerosos de que a população cristã armênia estivesse planejando uma aliança com a Rússia, inimiga dos turcos otomanos, as autoridades de Istambul iniciaram aquilo que os historiadores descrevem como o primeiro genocídio do século 20.

Cerca de 1,5 milhão de armênios foram mortos, alguns em massacres, outros de fome durante marchas forçadas para o deserto sírio.

O genocídio continua sendo o legado mais polêmico daquela guerra, merecendo há cem anos o silêncio e a negação das autoridades turcas. Para os sobreviventes armênios e seus descendentes, o genocídio tornou-se um símbolo central da sua identidade, uma ferida psíquica transmitida de geração em geração.

“Os armênios passaram um século inteiro gritando para o mundo que isso aconteceu”, disse Gaffur Turkay, cujo avô, quando criança, sobreviveu ao genocídio e foi acolhido por uma família muçulmana. “Queremos fazer parte deste país com nossas identidades originais, assim como éramos há um século”, acrescentou.

Em 24 de abril de 1915, os otomanos prenderam personalidades armênias em Istambul, no primeiro passo para aquilo que, concordam os historiadores atuais, era um plano mais amplo de aniquilação.

Recentemente, o Parlamento Europeu e o papa Francisco descreveram os massacres como um genocídio, aumentando a pressão sobre Ancara.

O governo turco reconhece que atrocidades foram cometidas, mas argumenta que elas ocorreram em tempos de guerra. As autoridades negam que tenha havido qualquer plano para eliminar sistematicamente a população armênia —o que é a definição comumente aceita de genocídio.

A Turquia não parece disposta a atender às exigências armênias de um pedido de desculpas. Depois de oferecer condolências aos armênios no ano passado, o presidente Recep Tayyip Erdogan se tornou mais combativo.

“A diáspora armênia está tentando incutir o ódio contra a Turquia por intermédio de uma campanha mundial baseada em alegações de genocídio, com vistas ao centenário de 1915”, disse Erdogan recentemente.

“Se examinarmos o que nossa nação precisou passar ao longo dos últimos cem a 150 anos, encontraremos muito mais sofrimento do que os armênios viveram.”

Em um país definido por suas divisões, entre laicos e religiosos, ricos e pobres, liberais e conservadores, o legado do genocídio armênio é uma questão unificadora para os turcos.

Uma pesquisa recente do Centro de Estudos Econômicos e da Política Externa, uma instituição acadêmica de Istambul, concluiu que apenas 9% dos turcos consideram que o governo deveria rotular as atrocidades como genocídio e pedir perdão.

Essa arraigada posição turca é um legado da maneira como república foi estabelecida no país após a Primeira Guerra Mundial.

Sob a liderança de seu fundador, Mustafa Kemal Atatürk, a sociedade passou por um processo de “turquificação” —um grande feito de engenharia social, baseado em apagar o passado e negar uma história multiétnica.

Os massacres armênios foram eliminados da história turca, só voltando a aparecer para os turcos comuns na década de 1970, após uma campanha terrorista armênia contra diplomatas do país.

Muitos dos líderes da nova república turca —mas não Atatürk— estiveram entre os principais mentores do genocídio, e alguns deles enriqueceram a partir do confisco de propriedades dos armênios.

“Não é fácil para uma nação chamar seus fundadores de assassinos e ladrões”, disse Taner Akcam, um importante historiador turco do genocídio.

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