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Depois de “Fogo e Fúria”, de Michael Wolff, um novo livro promete trazer revelações mais polêmicas sobre os primeiros dias do governo Trump | JIM WATSON/AFP
Depois de “Fogo e Fúria”, de Michael Wolff, um novo livro promete trazer revelações mais polêmicas sobre os primeiros dias do governo Trump| Foto: JIM WATSON/AFP

O livro de Michael Wolff está cheio de erros. Ele tem um histórico que sugere que exageros são parte do seu comportamento. Ele enganou para obter acesso à Casa Branca. O quanto das suas revelações sobre Donald Trump são exageros ou invenções não está claro e talvez nunca fique. 

Tudo isso faz com que um novo livro sobre os primeiros dias do governo Trump tenha potencial para ser ainda mais prejudicial do que o livro de Wolff. 

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O autor desse livro é o crítico de mídia da Fox News Channel e ex-repórter do Washington Post, Howard Kurtz. E como Ashley Parker, do Post, escreve, seu livro – “Media Madness: Donald Trump, the Press, and the War Over the Truth” (“Loucura da Mídia: Donald Trump, a Imprensa e a Guerra pela Verdade”, em tradução livre) – confirma e expande, de acordo com relatos da mídia, o caos acontecendo por baixo dos panos na Avenida Pennsylvania, 1600. 

Algumas das revelações mais interessantes: 

- Trump tem a tendência de fazer qualquer coisa que os seus assessores contraindiquem firmemente, e eles têm até um termo para esse comportamento: “distúrbio desafiador”. 

- Ele, de repente, tweetou a sua decisão de banir pessoas transgênero das forças armadas antes de agendar uma reunião com o então Chefe de Gabinete, Reince Priebus, para discutir as suas opções sobre a questão. “Meu Deus, ele acabou de tweetar isso”, Priebus teria dito. 

- Seus assessores também foram pegos de surpresa pela sua acusação, também via Twitter, de que o presidente Barack Obama teria colocado escutas em Trump durante a campanha presidencial. 

- Trump recebeu recomendações veementes de que não mandasse o então secretário de imprensa, Sean Spicer, refutar as histórias sobre o tamanho da multidão na sua inauguração e depois ele admitiu: “Eu não deveria ter feito isso”. 

Não sabemos qual o tom geral do livro e quantas revelações contém; Parker obteve trechos do livro, que será lançado em 29 de janeiro. Ela destaca que esses trechos às vezes contém um retrato mais favorável de Trump do que vemos no livro de Wolff ou em qualquer outro lugar na mídia. 

Mas essa é meio que a ideia. Kurtz é um âncora da Fox News que têm oferecido uma abordagem cética do tratamento da mídia em relação a Trump. Não, ele não é Sean Hannity, mas ele tem demonstrado uma disposição para questionar a narrativa predominante que foi vendida pelo livro de Wolff – e que o livro de Kurtz agora parece confirmar, pelo menos até certo ponto. 

Um exemplo: Kurtz disse que a mídia é muito negativa em relação a Trump e que os repórteres são muito incisivos no Twitter. Ele comparou o que ele considerou uma avalanche rápida de cobertura negativa de Trump durante a campanha presidencial a um “golpe da máfia”. Ele escreveu uma coluna no mês passado argumentando que erros jornalísticos permitiram que Trump “destruísse a credibilidade da mídia”. Ele defendeu os ataques de Trump no Twitter – até mesmo aqueles vistos como sexistas ou promovendo violência – como respostas às “agressões” que o presidente teria recebido. Ele questionou por que a mídia decidiu retomar as acusações de assédio sexual contra Trump após o surgimento do movimento #MeToo. 

E ele até mesmo argumentou que a mídia usa muitas fontes anônimas quando detalha o que acontece por trás dos panos na Casa Branca: 

“Fontes anônimas são usadas em excesso, principalmente pelos grandes noticiários. As pessoas têm permissão para darem golpes baixos sem revelarem os seus nomes. Elas ganham o poder de participar de agressões políticas se escondendo atrás do anonimato. E os grandes executivos da mídia sabem disso.” 

O fato de que o homem que usou esse argumento no começo da presidência de Trump agora está se apoiando em revelações – aparentemente por meio de fontes anônimas – sobre o caos nos bastidores da Casa Branca não deveria passar batido. 

As críticas à mídia feitas por Kurtz são necessariamente escolhidas a dedo e incompletas, e ele algumas vezes já foi contra algumas coisas que Trump fez ao montar o seu caso contra a mídia. Mas ele também foi cético quanto ao tratamento da mídia em relação a Trump e algumas das narrativas que acompanharam. Também não foi revelado quantas revelações como as acima estão no livro.

Mas o que é descrito acima é um presidente que está agindo ao acaso e sem a orientação dos seus assessores, fazendo grandes acusações e decisões políticas com base em caprichos e – no caso do episódio da multidão na inauguração – promovendo deliberadamente narrativas falsas apesar de saber que isso é errado. A parte mais chocante por enquanto parece ser o “distúrbio desafiador”, um termo que apenas surgiria com episódios recorrentes em que Trump é visto como alguém que age sem considerar o interesse do país, mas apenas o seu interesse em desafiar aqueles ao seu redor e tentar provar que ele é mais inteligente – ou que ele pode se safar de coisas que eles dizem que ele não pode. 

O fato de que é assim que Trump é descrito por um âncora da Fox News geralmente favorável faz isso parecer ainda mais verdadeiro. 

Uma pesquisa da Suffolk University realizada no mês passado mostrou que os espectadores da Fox News têm uma visão desfavorável da mídia em uma margem de 64-24. Outra pesquisa mostrou que 76% dos eleitores do Partido Republicano acreditam que a mídia inventa histórias sobre Trump. E uma pesquisa do Quinnipiac realizada em novembro mostrou que 91% dos eleitores do Partido Republicano desaprovaram a cobertura da mídia sobre Trump e apenas 10% confiaram mais na mídia do que em Trump. 

Considerando que esse livro mostra um retrato sobre o qual os âncoras e espectadores da Fox News têm se mantido céticos, é isso que pode ser realmente importante.

Tradução de Andressa Muniz.
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