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 | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Brasil e Israel têm um potencial enorme de cooperação, temos dois estados democráticos e de cultura muito aberta

Primeiro embaixador de Israel a fazer uma visita diplomática ao Paraná, Reda Mansour considera que o episódio que estremeceu a relação entre os países já foi superado. Em setembro do ano passado, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense, Yigal Palmor, declarou que o Brasil “é, ao mesmo tempo, um gigante econômico e um anão diplomático”. “Foi um incidente muito isolado”, declarou o embaixador em uma entrevista exclusiva à Gazeta do Povo. Mansour tomou posse em agosto do ano passado e, anteriormente, atuou como embaixador no Equador. Ele considera que há muitas áreas com possibilidade de integração entre Brasil e Israel, especialmente no Paraná. “Principalmente na agricultura”, diz. Sobre a relação entre judeus e árabes em Israel, ele considera que pode servir de exemplo para outras nações que vivenciam conflitos.

Qual a sua avaliação da visita ao estado do Paraná?

Esta foi a primeira visita formal ao estado, fiquei muito contente em ver que a comunidade judaica aqui é muito ativa e integrada. Tive uma reunião com cinco secretários de Estado e pudemos falar abertamente sobre a possibilidade de integração entre Israel e Paraná, principalmente na agricultura.

No ano passado, houve um incidente diplomático entre os dois países, pois o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense, Yigal Palmor, declarou que o Brasil “é, ao mesmo tempo, um gigante econômico e um anão diplomático”. Qual a repercussão disso?

Foi superado. Foi um incidente muito isolado. Primeiramente, isso começou com a guerra em Gaza e a guerra terminou, então agora já não temos nenhum problema sobre esse assunto. Mas as declarações dos porta-vozes dos estados foram fora do comum, não aceitáveis em um mundo de diplomacia.

A reeleição do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pode ser benéfica para o Brasil? Como?

Brasil e Israel têm um potencial enorme de cooperação, primeiramente porque temos dois estados democráticos e de cultura muito aberta em relação aos direitos humanos, à liberdade, aos direitos da mulher, o que não existe no Oriente Médio. Para o Brasil, por exemplo, pode ser difícil estabelecer cooperação com países grandes porque há competição entre companhias que não vão compartilhar tecnologias de alta qualidade. Em Israel, não temos esse problema, já que temos muita tecnologia, mas como país muito pequeno, não podemos produzí-la. Aqui, podemos compartilhar essa tecnologia. Já temos quatro ou cinco companhias israelenses aqui no Brasil. Estão planejando produzir satélites e drones brasileiros com tecnologia israelense. Outro nível de cooperação parte da existência de uma comunidade judaica grande, ativa e integrada no Brasil e da comunidade israelense de origem brasileira, que ainda é pouco conhecida.

Netanyahu declarou, durante a última campanha eleitoral, que não haveria Estado Palestino? Essa polêmica pode acirrar a tensão entre Israel e Palestina?

O sistema político israelense é de uma democracia muito dinâmica e a competição entre os dois partidos grandes é muito difícil. Por isso, ocorrem situações na campanha que não mudam a principal política do governo posteriormente. Menos de 24 horas depois da eleição, o primeiro-ministro aclarou sua posição formal sobre esse aspecto. Ele falou que não mudou de opinião sobre os palestinos, mas pediu que a comunidade internacional entendesse que não é fácil seguir nesse tema sem ter a confiança de que este Estado Palestino vá ser seguro para Israel. Quase todos os países árabes do Oriente Médio têm guerras internas, alguns estão totalmente destruídos, como Síria e Líbia. Com essa situação, temos em Israel a dimensão de que esse Estado Palestino novo pode ser outro país árabe com guerras internas, pois inclusive já temos guerras internas do povo palestino. Mas a maioria dos israelenses é a favor da criação do Estado Palestino. Também há outro fator: não estamos falando de países do tamanho dos latino-americanos, mas de um território do tamanho do Sergipe, o menor estado do Brasil. Dividir um espaço desse tamanho entre dois países, necessita de muita confiança de que um não possa ser perigoso ao outro.

E como estão as relações com os EUA?

Estamos mantendo relações muito fortes com os EUA, que hoje chegaram ao nível de defensor mais importante de Israel no mundo. Às vezes, temos problemas por causa de ideologias de partido, não entre países. Parte dessa crise acontece porque os EUA têm agora um governo de esquerda e Israel vive um governo de direita. Mas as relações entre os países são muito profundas .

O senhor é de origem drusa, uma minoria árabe. Como vive essa minoria em Israel?

Fora de Israel esse é um tema pouco conhecido. Costumamos usar o termo “estado judeu” e, por isso, muita gente pensa que toda Israel é judia, mas nós temos 18% da população que é árabe e de outras religiões. Toda essa comunidade preserva sua cultura, sua língua. Há escolas governamentais israelenses em árabe. É uma experiência muito especial porque, com todos os conflitos que ocorrem em Israel – afinal, Israel é um país de natureza judaica e seus inimigos principais são os países árabes do Oriente Médio – e ter uma minoria árabe nessa situação é algo muito sensível à comunidade. Não é fácil viver nesse ambiente, mas conseguimos integrar essa comunidade em Israel. Nas últimas eleições, um dos partidos árabes chegou a se tornar a terceira força no parlamento, é algo histórico. É muito importante, porque acreditamos que podemos ser um modelo para o Oriente Médio.

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