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A deportação de Jorge Garcia o transformou na mais nova figura pública do que muitos críticos do governo Trump consideram uma repressão excessiva a imigrantes não documentados | Reprodução
A deportação de Jorge Garcia o transformou na mais nova figura pública do que muitos críticos do governo Trump consideram uma repressão excessiva a imigrantes não documentados| Foto: Reprodução

Com dois agentes de imigração pairando por perto, Jorge Garcia se aproximou da sua família para um último abraço no portão de segurança do Aeroporto Metropolitano de Detroit. Sua esposa e sua filha de 15 anos choraram nos seus braços. Seu filho de 12 anos permaneceu parado firmemente. Garcia ficou em silêncio.

Pouco depois, o paisagista de 39 anos de Lincoln Park, Michigan, embarcou em um voo para o México, deportado para o seu país natal na segunda-feira, depois de três décadas vivendo, trabalhando e criando uma família nos Estados Unidos. 

Garcia foi trazido para o país com um parente não documentado quando ele tinha dez anos de idade, de acordo com a Detroit Free Press. Ele vinha enfrentando uma ordem de remoção dos tribunais de imigração desde 2009, mas a sua deportação ficou parada durante o governo Obama enquanto a sua família procurava meios de obter status de imigração legal para ele. Com o presidente Donald Trump, isso deixou de ser uma opção. 

“É um pesadelo”, disse sua esposa, Cindy Garcia, ao Detroit News, após ver o seu marido passar pelos detectores de metal no aeroporto. “Não consigo nem descrever com palavras esse sentimento.” 

Um porta-voz de Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE) não respondeu ao pedido para comentários na manhã de terça-feira. 

A deportação de Jorge Garcia o transformou na mais nova figura pública do que muitos críticos do governo Trump consideram uma repressão excessiva a imigrantes não documentados. No governo Obama, pessoas na situação de Garcia raramente se tornavam alvos para deportação. 

No começo do ano passado, Trump emitiu uma ordem executiva expandindo as deportações prioritárias e considerando todas as categorias de “estrangeiros removíveis” como alvos de punição pela Imigração e Fiscalização Aduaneira. O presidente e oficiais do Departamento de Segurança Nacional dizem que tais medidas são necessárias para proteger a segurança nacional. 

No geral, as deportações caíram de 2016 a 2017, mas as prisões de imigrantes aumentaram. O número crescente de prisões, em setembro de 2017, era formado por pessoas como Garcia, que não tinha nenhuma acusação criminal. A ICE prendeu mais de 28 mil “violadores de imigração não criminosos” nos primeiros sete meses do mandato de Trump, um aumento de quase três vezes do que o registrado no mesmo período em 2016, de acordo com Nick Miroff do Washington Post

Garcia e sua esposa, uma cidadã americana e trabalhadora aposentada da indústria automobilística, se conheceram em Detroit e se casaram há 15 anos. Quando eles tentaram legalizar o status de Garcia em 2005, acabaram em meio a procedimentos de deportação, conforme ela contou ao ABC News. Ela acrescentou que ele mantinha contato regular com oficiais da ICE e nunca viajava para outra cidade sem autorização. Ele parece não ter antecedentes criminais nos Estados Unidos. 

Garcia recebeu diversos pareceres de remoção durante os dois mandados do presidente Barack Obama, mas era muito velho para se enquadrar na Deferred Action for Childhood Arrivals (DACA), política criada pelo governo Obama para proteger de deportação filhos de imigrantes não documentados. Imigrantes que tinham até 31 anos em 15 de junho de 2012 podem se enquadrar na DACA. Qualquer pessoa mais velha do que isso é excluída. 

Outro programa da era Obama, Deferred Action for Parents of Americans, buscava proteger imigrantes adultos não documentados, como Garcia, que tivessem filhos que fosse cidadãos americanos ou residentes permanentes legais. A política foi bloqueada pelos tribunais federais. 

Em novembro, após a sua última conferência, agentes de imigração falaram a Garcia que ele teria que deixar o país, de acordo com a mídia local. A família Garcia disse que pediu à ICE se poderiam adiar a deportação para ver se o Congresso e a Casa Branca chegariam a um acordo para passar a legislação do DACA . Os agentes de imigração teriam dito que Garcia poderia permanecer durante as festas de fim de ano, mas ele teria que voltar ao México em 15 de janeiro. 

Niraj Warikoo tweetou: “‘Parem de separar famílias’, dizem os cartazes de aliados de Jorge enquanto ele se prepara para embarcar no voo para o México em uma deportação da ICE, parte da repressão do governo Trump”. 

“Nós não quisemos montar uma árvore de natal porque era muito triste fazer isso”, disse Cindy Garcia ao Detroit News. “Foi difícil porque nós sabíamos que eventualmente ele iria embora. Tudo o que podíamos fazer era criar memórias.” 

Uma noite antes de ele ser mandado embora, os amigos de Garcia fizeram uma festa de despedida no sudoeste de Detroit, de acordo com o Detroit Free Press. “Eu estou um pouco triste”, contou ele ao jornal. “Eu tenho que deixar a minha família para trás, sabendo que eles provavelmente terão dificuldades para se adaptarem. Eles não poderão contar comigo, não sabemos por quanto tempo. É muito difícil.” 

No aeroporto na manhã de segunda-feira, um grupo de amigos e aliados do projeto UAW 600 e do grupo ativista Michigan United foram apoiar Garcia e sua família, alguns com cartazes que diziam “Parem de separar famílias”. Eles observaram em silêncio enquanto a família se despedia. Um vídeo da cena emocionante foi compartilhado nas redes sociais. 

“Eu não vejo justiça nisso”, disse AJ Freer, da UAW 600, ao Detroit News. “Para um homem que sustenta e cuida muito da sua família, obedece à lei, paga impostos e tem um histórico de ajudar o próximo, eu acredito que a ICE e o governo federal dos Estados Unidos agiram com crueldade com a sua família.” 

Garcia poderia ser barrado por dez anos ou mais, mas a sua esposa disse que lutará para trazer o seu marido de volta antes disso. 

Para Chris Cuomo, da CNN, Cindy Garcia disse na noite de segunda-feira que ela quer o presidente saiba que Jorge “não é um criminoso”. 

“O seu caso precisa ser analisado individualmente porque ele merece permanecer em um país que ele conhece, não no México”, disse, acrescentando que há outras famílias em situações similares. 

“Isso afeta 11 milhões de pessoas”, disse. “Mas pelo menos eu posso vir a público e contar a minha historia porque sou uma cidadã americana e não preciso me esconder.”

ICE tears Garcia family apart on MLK day from Michigan United on Vimeo.

Tradução de Andressa Muniz
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