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O sistema de defesa israelense Iron Dome (Domo de Ferro), projetado para interceptar e destruir foguetes de curto alcance e projéteis de artilharia, perto da fronteira síria nas colinas de Golã, em 9 de maio de 2018.  | JALAA MAREY/AFP
O sistema de defesa israelense Iron Dome (Domo de Ferro), projetado para interceptar e destruir foguetes de curto alcance e projéteis de artilharia, perto da fronteira síria nas colinas de Golã, em 9 de maio de 2018. | Foto: JALAA MAREY/AFP

Israel acusou forças iranianas baseadas na Síria de terem disparado 20 foguetes contra bases militares israelenses nas colinas de Golã nesta quarta-feira (9; quinta-feira no horário local). Ninguém ficou ferido no lado israelense. Segundo o Exército de Israel, os danos foram "limitados" e o ataque foi retaliado. 

Um porta-voz militar israelense disse que os foguetes foram disparados pela força Quds do Irã, uma unidade de forças especiais afiliada à Guarda Revolucionária do Irã, marcando a primeira vez que as forças iranianas dispararam diretamente contra tropas israelenses. 

Do monte Bental, nas colinas de Golã, o porta-voz do Exército israelense, tenente-coronel Jonathan Conricus, apontou para onde disse que um lança-foguetes iraniano havia disparado contra Israel logo após a meia-noite. "Ficou muito claro o que os iranianos estavam fazendo, atacando Israel de solo sírio". 

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Os disparos seriam retaliação ao ataque de terça (8), atribuído a Israel, contra bases do Irã na Síria. Segundo a imprensa síria, 15 militares morreram, oito deles iranianos. 

Houve também explosões em Damasco no fim da madrugada, e sirenes do sistema antiaéreo do regime de Bashar al-Assad foram ouvidos toda a noite. Ativistas sírios afirmaram se tratar de ataques de Israel a alvos na região da capital da Síria. 

Os donos das centenas de pousadas espalhadas pelas colinas de Golã — anexada por Israel em 1981 e que faz fronteira com Síria, Líbano e Jordânia — já começam a contabilizar o prejuízo com os cancelamentos causados pela tensão crescente. Em vez de filas de ônibus de turismo, era mais fácil identificar, nesta quarta, comboios de veículos militares. 

O Exército de Israel deslocou para Golã dezenas de tropas e tanques, além de baterias do sistema de defesa antiaéreo Iron Dome (Domo de Ferro) e de 70 abrigos antiaéreos de concreto. 

Resposta israelense

O Exército israelense disse nesta quinta-feira (10) que bombardeou dezenas de instalações militares ligadas ao Irã na Síria.  

O Exército disse em um comunicado que seus caças tinham como alvo os pontos de inteligência e logística iraniana em Damasco, bem como armazéns de munição, postos de observação e militares. 

Israel atacou 70 locais ligados ao Irã na Síria. "Este foi de longe o maior ataque que fizemos contra locais iranianos", disse o porta-voz do Exército israelense, tenente-coronel Jonathan Conricus. 

As defesas antiaéreas sírias também foram atingidas depois que dispararam contra os jatos israelenses, reconheceu ele.

Falando na conferência anual de Herzliya na manhã de quinta-feira, o ministro da Defesa de Israel, Avigdor Liberman, disse que a posição de seu país é clara: "não permitiremos que o Irã torne a Síria um posto de linha de frente contra Israel".

O porta-voz do exército Brig. O general Ronen Menalis também disse que Israel ainda poderia fazer muito mais se quisesse.  

"O que fizemos esta noite é apenas a ponta do iceberg da capacidade do Exército israelense", disse ele na manhã de quinta-feira na Rádio do Exército de Israel.

Tensão entre os moradores

A apreensão chegou ao ponto mais alto dos últimos 12 anos. Na terça, o Exército emitira um alerta para que as autoridades abrissem todos os bunkers a fim de que os 47 mil moradores da região (metade judeus, metade drusos) pudessem se abrigar em caso de ataques aéreos. 

"Está tenso aqui", disse Yafit Ochaion, moradora de Katzrin, a maior cidade da região, com 7.000 habitantes. 

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Para outros, a ameaça dos vizinhos é uma constante: "Estou há 32 anos aqui e já estou acostumado. Os bunkers estão sempre abertos", disse o agricultor Amir Duvdevani, do vilarejo de Alonei Habashan. 

A orientação oficial se aplicava apenas a Golã, mas alguns prefeitos da Alta Galileia também abriram bunkers. 

Implicações

A crescente presença iraniana na Síria foi discutida entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, que viajou para Moscou para participar da parada militar em comemoração ao 73º aniversário do Dia da Vitória sobre os nazistas. 

Ninguém duvida que a fricção entre Israel e Irã na fronteira com a Síria esteja apenas começando. Mas o consenso não é o mesmo quando se trata da retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irã, anunciada pelo presidente Donald Trump na terça. 

A manchete do jornal Israel Hayom, alinhado a Netanyahu, foi só elogios: "Os EUA retomaram sua grandeza". O colunista Amnon Lord comparou a medida à recusa do ex-presidente americano Ronald Reagan, em 1986, de negociar com o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev, influenciando no colapso da União Soviética, três anos depois. 

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Já o jornal Haaretz, de esquerda, disse que o retorno das sanções "só aumenta o risco de conflito na região". 

"Uma diplomacia que se baseia em não honrar acordos não consegue muito. A curto prazo, o Irã sofrerá. Mas a longo, a retirada não afasta o perigo da bomba iraniana", escreveu o influente jornalista Ronen Bergman. 

A tensão na fronteira norte se une ao nervosismo na fronteira sul, que começou há cerca de um mês e deve alcançar seu auge nos próximos dias. 

Na segunda (14), acontece a transferência oficial da embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém. São esperados confrontos na fronteira com Gaza e em Jerusalém. No dia seguinte, os palestinos vão marcar os 70 anos da "Nakba" (a "tragédia"), como classificam a criação do Estado de Israel. 

Escalada

Israel e Irã estão em rota de colisão na Síria, já que Israel, determinado a não deixar o Irã expandir sua presença militar na Síria, atingiu a fronteira pelo menos 100 vezes durante a guerra, estendendo seus alvos de supostos comboios de armas a bases militares ligadas ao Irã. O Irã prometeu retaliação após sete de seus soldados terem sido mortos por um ataque aéreo israelense em abril.

Analistas dizem que após a saída dos EUA do acordo nuclear, o Irã passou ter menos a perder com a retaliação, e a medida aumentou o peso interno dos radicais da República Islâmica que desejam mostrar força. 

"A retirada dos EUA acelerou a escalada entre Israel e Irã", disse Ofer Zalzberg, analista do International Crisis Group. "O Irã enfrenta menos contenção em termos de tempo para uma retaliação", disse ele, acrescentando que o Irã provavelmente estava esperando pela decisão dos EUA antes de formular seu próximo passo.

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O forte apoio de Teerã ao presidente sírio, Bashar al-Assad, permitiu que as forças do país se estabelecem na Síria, mas a mídia iraniana minimizou o papel de Teerã, descrevendo tudo apenas como um confronto entre Israel e a Síria. 

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, um grupo de monitoramento, disse que mortes são esperadas, embora não tenha fornecido um número. 

Cerca de 62% dos israelenses acham que uma guerra é iminente, de acordo com uma pesquisa encomendada na quarta-feira pelo canal de notícias israelense Hadashot.

O que esperar do Irã

"O Irã vai retaliar através de aliados, mais cedo ou mais tarde, contra locais militares israelenses no norte", disse Gary Samore, ex-coordenador da Casa Branca para o controle de armas e armas de destruição em massa, em uma conferência de segurança em Herzliya, Israel.

Mas ele disse que nenhum lado está interessado em um conflito de grande escala, e há um debate no Irã sobre como proceder. Ele disse que o presidente iraniano, Hassan Rouhani, quer evitar o confronto porque está tentando preservar o acordo nuclear com as potências mundiais. 

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Rouhani disse que seu governo continua comprometido com um acordo nuclear com a Europa, Rússia e China, apesar da decisão dos EUA de se retirar, mas também está pronto para aumentar o enriquecimento de urânio se o acordo não produzir mais benefícios. 

  • Uma bandeira de Israel é vista no Monte Bental nas Colinas de Golã, em 10 de maio de 2018.
  • Soldados israelenses estão no Monte Bental nas Colinas de Golã anexadas por Israel
  • Tanques e soldados israelenses são vistos em uma área perto da fronteira síria nas colinas de Golã, anexadas por Israel, em 10 de maio de 2018.
  • Tanques Merkava e soldados israelenses são vistos em uma área perto da fronteira síria nas colinas de Golã, anexadas por Israel, em 10 de maio de 2018.
  • Soldado das tropas israelenses reza nas colinas de Golan, anexadas por Israel, nesta quinta-feira (10)
  • Imagem divulgada pela Agência de Notícias Árabe da Síria (SANA) em 10 de maio de 2018 que supostamente mostra os sistemas de defesa aérea interceptando mísseis israelenses no espaço aéreo sírio
  • Imagem divulgada pela Agência de Notícias Árabe da Síria (SANA) em 10 de maio de 2018 que supostamente mostra os sistemas de defesa aérea interceptando mísseis israelenses no espaço aéreo sírio
  • Imagem divulgada pela Agência de Notícias Árabe da Síria (SANA) em 10 de maio de 2018 que supostamente mostra os sistemas de defesa aérea interceptando mísseis israelenses no espaço aéreo sírio
  • Imagem divulgada pela Agência de Notícias Árabe da Síria (SANA) em 10 de maio de 2018 que supostamente mostra os sistemas de defesa aérea interceptando mísseis israelenses no espaço aéreo sírio
  • Uma unidade de artilharia israelense se posiciona perto da fronteira síria nas colinas de Golã, em 9 de maio de 2018
  • Soldados libaneses inspecionam restos de um míssil que caíram no vilarejo de Hebarieh, no sul do Líbano, no dia 10 de maio de 2018.
  • Soldados libaneses inspecionam restos de um míssil que caíram no vilarejo de Hebarieh, no sul do Líbano, no dia 10 de maio de 2018.
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