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Na tela da tv na Coreia  do Sul, o ditador norte-coreano Kim Jong-Un | JUNG YEON-JE/AFP
Na tela da tv na Coreia  do Sul, o ditador norte-coreano Kim Jong-Un| Foto: JUNG YEON-JE/AFP

O exército dos Estados Unidos está se preparando para lançar um grande exercício militar com a Coreia do Sul nos próximos dias e enfrenta um perigoso equilíbrio: como assegurar a seus aliados na região de que se está preparado para uma guerra com a Coreia do Norte sem provocar um conflito de fato no processo? 

O exercício anual Ulchi-Freedom Guardian está agendado para durar 10 dias, começando em 21 de agosto, e incluirá por volta de 25 mil soldados americanos juntamente com milhares de soldados sul-coreanos. O exercício é focado em defender a Coreia do Sul contra um ataque do norte e a cada ano desencadeia ameaças e repreensões da Coreia do Norte. Mas o exercício ocorrerá em um momento especialmente sensível, seguido de uma série de trocas de ameaças entre o presidente Donald Trump e a Coreia do Norte. 

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O US Forces Korea, o comando que inspeciona e orienta 28,5 mil militares americanos na península coreana, atualmente não tem planos de mudar o tamanho, formato ou rede de comunicação para o exercício deste ano, disse o Coronel do Exército Chad G. Carroll, um porta-voz militar na Coreia do Sul. A missão é planejada com grande antecedência por ser considerada de natureza defensiva e permite que tanto as forças militares quanto oficiais civis fiquem mais bem preparados e fortalecidos para uma crise, conforme disse Carroll. 

“Nós veremos um maior número de tropas na península, mas não mais do que vemos todos os anos”, disse Carroll em um e-mail. 

“Nossa rede de transmissão se manterá consistente. . . Estes exercícios são necessários para manter a prontidão diante de atos provocativos ameaçando a Coreia do Sul e os Estados Unidos. Nosso trabalho é fornecer nossa liderança com opções militares viáveis para caso sejamos chamados, e exercícios como este aprimoram nossa capacidade de fazê-lo”. 

A Coreia do Norte denunciou o exercício na segunda-feira (14), alertando que mesmo um acidente no meio deste poderia desencadear um conflito nuclear. Mas a simulação de guerra também atraiu neste ano o escrutínio da Rússia e China, que sugeriram cancelar a operação para suavizar as tensões. Os Estados Unidos rejeitaram tal opção dizendo que o exercício é necessário para desencorajar a agressão norte-coreana enquanto Washington busca meios pacíficos de parar o desenvolvimento de armas nucleares de Pyongyang. 

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“É por isso que temos uma capacidade militar que fortalece nossas atividades diplomáticas”, disse o General da Marinha Joseph F. Dunford Jr, o presidente da Joint Chiefs of Staff (grupo que reúne os comandos das três forças armadas americanas), durante uma apresentação na segunda-feira em Seul. “Estas ameaças são sérias para nós e por isso precisamos estar preparados”. 

Na terça-feira (15), a Coreia do Norte parece ter aliviado uma ameaça de lançar mísseis em direção à Guam, ilha americana no Pacífico. Um meio de comunicação estatal publicou que o líder da Coreia do Norte Kim Jong Un disse que ele observaria os Estados Unidos “um pouco mais” ao invés de responder rapidamente, mas que “faria uma importante decisão, como já declarado”, se os “ianques persistirem em suas ações extremamente imprudentes e perigosas na península da Coreia e suas proximidades”. 

O relatório veio horas depois do Secretário de Defesa Jim Mattis ter alertado que se a Coreia do Norte atingir a ilha de Guam com um míssil, isso significaria o início de uma guerra. 

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O Secretário de Estado Rex Tillerson recusou responder diretamente na terça-feira à decisão de Kim Jong Un de voltar atrás em sua ameaça de lançar mísseis em Guam, mas disse que a porta permanece aberta para conversas. 

“Nós continuamos interessados em encontrar uma maneira de estabelecer um diálogo, mas é algo que depende dele”, disse Tillerson, no Departamento de Estado. 

Tillerson e Mattis receberão juntos seus equivalentes japoneses em Washington na quinta-feira, com a Coreia do Norte no topo da lista de assuntos a serem tratados. 

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O Coronel do Exército Robert Manning, um porta-voz do Pentágono, disse que ele não discutiria cenários específicos envolvendo no exercício de treinamento. Este permanece focado em assegurar que forças americanas e coreanas possam trabalhar bem juntas, ele disse. Cerca de 2,5 mil tropas americanas extras chegaram na península da Coreia temporariamente no ano passado para o exercício, de acordo com as notícias do Pentágono da época. 

Manning disse que os Estados Unidos e a Coreia do Sul têm “feito muito progresso” nos últimos anos para se prepararem contra qualquer ameaça norte-coreana. O Ulchi-Freedom Guardian é uma grande parte disso, com dois exercícios relacionados – Foal Eagle e o Key Resolve – na primavera servindo como outros exercícios combinados importantes, ele disse. 

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Os exercícios militares envolvendo americanos e sul-coreanos já exacerbaram tensões no passado. Em março, o início do Fort Eagle incitou a Coreia do Norte a fazer testes com quatro mísseis, o que em troca incitou o Pentágono a anunciar que estava convocando um sistema de defesa de mísseis conhecido como Terminal de Defesa Aérea de Alta Altitude (THAAD, na sigla em inglês) na península coreana com a aprovação do governo de Seul. 

Em 2015 o Ulchi-Freedom Guardian veio logo após um ataque em 4 de agosto em que dois soldados sul-coreanos pisaram em minas terrestres na região fortemente militarizada de fronteira com a Coreia do Norte, ironicamente conhecida como a Zona Desmilitarizada. A Coreia do Sul jurou revidar e as duas Coreias trocaram fogos de artilharia e foguetes na fronteira durante o exercício Ulchi-Freedom Guardian após a Coreia do Sul começar a transmitir mensagens de propaganda para o norte pela fronteira e a Coreia do Norte responder com o ato de ligar seus próprios alto-falantes. 

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O exercício em si já mudou várias vezes e remonta a 1968, quando a Coreia do Sul e os Estados Unidos criaram uma simulação de guerra chamada Focus Lens. Isso ocorreu após a Coreia do Norte sequestrar um navio da inteligência da Marinha americana, o USS Pueblo, e lançar um sangrento ataque com suas forças de Operações Especiais na Casa Azul, o centro do governo a Coreia do Sul, com planos de assassinar o presidente sul-coreano Park Chung-hee.

Tradução de Maíra Santos
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