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O Departamento americano de Justiça dos Estados Unidos pediu à cidade de Ferguson, no Missouri, que reforme seu sistema de justiça criminal, declarando que a cidade se envolveu em tantas violações constitucionais que elas só poderiam ser corrigidas através de uma melhor formação, novas políticas e supervisão externa.

As recomendações foram contidas em um relatório do Departamento que descreveu uma cidade onde os policiais destacavam negros por crimes menores, ao mesmo tempo em que se livravam das multas de seus amigos. Autoridades da cidade enviaram piadas racistas de seus endereços de e-mail profissionais durante o expediente sem medo de serem punidos quando seus colegas as repassavam. As queixas de abusos policiais, esmagadoramente contra os negros, raramente foram investigadas ou punidas.

Os resultados forçarão Ferguson, uma cidade da classe trabalhadora na qual dois terços da população são negros, a fazer mudanças ou enfrentar um processo judicial de direitos civis. Funcionários do Departamento de Justiça disseram que as autoridades da cidade pareciam estar dispostas a realizar alterações que evitariam uma batalha judicial.

“A situação de Ferguson é muito grave, e a lista de mudanças necessárias é longa”, disse o procurador-geral Eric Holder nesta quarta-feira em um comunicado.

É raro que o Departamento de Justiça use o peso do governo federal sobre uma pequena cidade. Normalmente, tais medidas têm como alvo grandes forças policiais. Mas no verão passado, a morte de um adolescente negro desarmado, Michael Brown, baleado por um policial branco gerou uma investigação mais ampla, e as autoridades federais ficaram chocadas com as descobertas.

O Departamento de Justiça pediu uma abordagem totalmente nova, baseada no policiamento comunitário. Isso exigirá novos horários de trabalho e um foco na prevenção do crime e na empatia com a comunidade. As autoridades federais disseram que Ferguson deve mudar a maneira com que pessoas são paradas, revistadas e detidas. Ao longo dos últimos dois anos, os negros foram responsáveis ​​por 85% de todos os bloqueios de trânsito, 90% das multas e 93% de detenções. Em casos como os de pessoas atravessando a rua fora da faixa de segurança, que muitas vezes dependem de arbítrio policial, os negros representaram 95% de todas as prisões.

O Departamento de Justiça também pediu exames mais atentos quanto ao uso da força por policiais, uma melhor formação dos agentes e uma supervisão mais rigorosa.

Uma moradora de Ferguson que organizou protestos, Alexis Templeton, disse que o relatório do Departamento de Justiça confirmou sua crença de que a cidade precisava de uma faxina.

“Eu acho que muitas pessoas precisam perder seus empregos”, disse ela. “Quando você tem pessoas enviando certos e-mails e dizendo certas coisas, e então eles saem e policiam a comunidade, que por acaso é predominantemente negra, esses estereótipos influenciam seu trabalho.”

A desconfiança de Templeton, que acredita que o departamento de polícia de Ferguson deve ser dissolvido, é mais profunda. No ano passado, quando a casa de sua avó foi invadida, Templeton conta que ela lhe disse para não chamar a polícia, por “não confiar neles para fazerem seu trabalho.

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