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Refugiado iraniano faz greve de fome na fronteira da Grécia com a Macedônia, principal rota de chegada à Europa. Na boca, um papel com a mensagem “abra a fronteira” | YANNIS BEHRAKIS/REUTERS
Refugiado iraniano faz greve de fome na fronteira da Grécia com a Macedônia, principal rota de chegada à Europa. Na boca, um papel com a mensagem “abra a fronteira”| Foto: YANNIS BEHRAKIS/REUTERS

A União Europeia deveria fechar suas fronteiras e parar de receber refugiados do Oriente Médio porque atingiu seu limite, disse o primeiro-ministro da França, Manuel Valls, segundo o jornal alemão Sueddeutsche Zeitung.

“Nós não podemos receber mais refugiados na Europa -- isso não é possível”, disse Valls em entrevista a vários jornais europeus, segundo a edição do diário desta quarta-feira.

A Europa lida com o maior influxo de imigrantes desde o fim da Segunda Guerra, com a Alemanha apenas podendo receber 1 milhão de refugiados e imigrantes neste ano, vindos do Oriente Médio, da África e da Ásia, em fuga de conflitos e perseguições e em busca de vida melhor na Europa.

Valls advertiu que dois dos suspeitos dos ataques de Paris do dia 13 viajaram para a Europa ocidental disfarçados de refugiados. Segundo ele, o controle das fronteiras externas da Europa será crucial para determinar o destino da UE. “Se não fizermos isso, então as pessoas dirão: chega de Europa”, advertiu.

A Europa deve buscar uma solução com os vizinhos da Síria, como Turquia, Líbano e Jordânia, para que estes recebam mais refugiados, argumentou o premiê, pedindo o fim do fluxo descontrolado de imigrantes na UE.

Após ataques, ONU teme situação dos refugiados

O Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) pediu nesta terça-feira (17) aos países europeus que não rejeitem ou culpem os refugiados que buscam asilo no continente após os ataques em Paris.

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As declarações são dadas no momento em que a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, se reúne em Paris com o presidente da França, François Hollande, nesta quarta-feira (25). Merkel também enfrenta pressão doméstica para mudar a política em relação aos refugiados, com várias autoridades e membros de sua própria coalizão pedindo que se limite o fluxo de pessoas.

Alemanha fecha porta para afegãos

A sensação crescente de que o Afeganistão está mergulhando em um caos ainda maior e que não irá se estabilizar logo está levando cada vez mais afegãos a fugir para Europa, com a esperança de desfrutar das mesmas boas-vindas dadas a sírios e iraquianos procurando segurança contra a guerra e o terror.

Ajudados por contrabandistas e temendo que as fronteiras logo se fechem com o rastro de imigrantes atravessando os Bálcãs, foram registrados 64 mil afegãos entrando na Grécia em outubro, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, atrás apenas de sírios, somando mais do que o dobro dos 27.500 contabilizados no mês anterior.

Em uma manhã recente na ilha grega de Lesbos, um barquinho de borracha preto encostou suavemente na praia ao raiar do dia, e Hadi Atti, 17 anos, colegial com cara de bebê de um vilarejo nos arredores de Cabul, capital afegã, gritou: “Estamos aqui, estamos aqui!”.

Atti contou que a travessia da Turquia foi tranquila, mas muito fria. “Mas nós conseguimos, e agora podemos continuar,” ele disse.

Para onde? “Alemanha!”, gritaram vários de seus companheiros de viagem. “Áustria”, disse um homem. “Eu vou para a Suécia”, declarou Atti.

Contudo, um mês após a viagem angustiante, correndo para chegar à Europa Central e Setentrional antes que mais fronteiras se fechassem, os imigrantes afegãos podem estar enfrentando um novo obstáculo a seus sonhos de segurança: uma posição mais rígida do governo alemão sobre quem pode ficar um ano ou mais.

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As autoridades alemãs argumentam que o Afeganistão não é inseguro por inteiro, então nem todo imigrante deveria receber asilo. O ministro do interior, Thomas de Maizière, tem dito que os candidatos devem ser julgados caso a caso, acrescentando que “nem todas as pessoas que nos procuram como refugiadas do Afeganistão podem esperar ficar na Alemanha”.

As autoridades alemãs também observam que o país mantém soldados no Afeganistão há 14 anos e injetou mais de dois bilhões de euros em projetos civis. A chanceler Angela Merkel sugeriu que essas iniciativas satisfazem o compromisso alemão de cuidar dos necessitados, significando que não seria também necessário ter de abrigar afegãos na Alemanha.

Essa posição mais rígida da Alemanha está se transfigurando no maior teste à disposição dos países do norte e do centro da Europa em absorver pessoas das regiões mais problemáticas do mundo. Ao mesmo tempo, a questão pode forçar um debate sobre quem se qualifica como refugiado.

“A vida no Afeganistão está piorando e o combate, se intensificando. Existe o Talibã. Existe o Estado Islâmico. Está muito ruim”, declarou Atti.

O próprio ministro do Exterior da Alemanha “adverte com veemência” contra viagens do Afeganistão.

Melissa Fleming, porta-voz do Alto Comissariado da ONU, afirmou que alguns dos imigrantes afegãos podem ter saído em busca de uma vida melhor nos países mais prósperos da Europa, mas para muitos, “está muito bem documentado que se trata de situação extremamente perigosa” que eles enfrentam ao viver no Afeganistão, um dos países mais pobres do mundo.

Ao mesmo tempo, as sofisticadas redes de contrabandistas afegãs parecem ter acelerado suas operações, tirando proveito do medo crescente de avanço do Talibã e de incursões do Estado Islâmico.

Perto de 67 mil afegãos entraram na Alemanha procurando asilo neste ano – quase metade deles somente em outubro, segundo as autoridades. De Maizière tem dito que a chegada de tantos membros da classe média afegã era “inaceitável”.

“Temos um acordo com o governo afegão”, ele disse, em relação ao temor de que a população ficasse sem futuros líderes. “Não queremos isso.”

Efeitos

Imigrantes afegãos na Alemanha dizem que já sentem os efeitos do endurecimento do país.

Recentemente, Sayed Aliraza, 24 anos, estava entre os milhares de recém-chegados no maior centro de recepção aos imigrantes de Berlim, pois lhe fora negado o direito de cursar aulas de alemão e ele esperava poder apelar da decisão.

Aliraza disse ter abandonado os estudos de Direito e Política no terceiro ano na Universidade de Cabul e partido em direção à Europa, em abril, com os pais, irmão, cunhada e cinco sobrinhos.

Ele disse que era seu terceiro dia procurando uma nova posição da burocracia berlinense severamente atarefada pelo influxo de imigrantes, para apresentar um documento que liberaria o começo das aulas. Para Aliraza, o governo, que insiste que os recém-chegados aprendam alemão, não estava ajudando os afegãos.

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“Acho que o governo alemão não quer que o povo afegão aprenda alemão. Eu compreendo. Não há mais lugar para refugiados, mas nós também somos seres humanos.”

“Não temos segurança alguma lá”, ele acrescentou, referindo-se ao Afeganistão. “Essa é a realidade. O Afeganistão não é seguro, e o governo alemão sabe disso.”

A Alemanha hesita em cuidar dos afegãos nos dois lados. Desde que suas primeiras tropas chegaram ao Afeganistão em 2001, em solidariedade aos Estados Unidos após o 11/9, 54 soldados alemães foram mortos, as maiores baixas em qualquer missão do país no exterior desde 1945.

Observando que forças alemãs e norte-americanas, entre outras, agora ficarão além de 2016, Merkel tem argumentado que esse compromisso – além de mais ajuda – pode dar aos afegãos “mais possibilidade de construir seu país”.

Mohamed al Zoda, 20 anos, um hazara da província de Baghlan no principal centro para imigrantes em Berlim, afirmou não engolir o argumento de Merkel.

“O caso aqui é que nosso governo foi subornado. Eles não são bons sujeitos”, ele afirmou, sentado entre um grupo de jovens afegãos no centro.

“Países estrangeiros dão ajuda, mas o governo pega o dinheiro e enfia no bolso”, ele acrescentou.

“Eles não têm soluções para o povo”, garantiu.

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