• Carregando...
Segundo assessores, Trum não descarta apoio a projeto de lei que pode restringir a compra de armas de fogo | Mandel Ngan/AFP
Segundo assessores, Trum não descarta apoio a projeto de lei que pode restringir a compra de armas de fogo| Foto: Mandel Ngan/AFP

O presidente Donald Trump sinalizou nesta terça-feira (21) uma abertura para adotar medidas modestas de controle de armas em resposta ao que ele chamou de “massacre do mal” em uma escola secundária do sul da Flórida na semana passada, que deixou 17 mortos e provocou fortes manifestações de estudantes pedindo por mudanças.

Trump assinou um memorando direcionado ao Departamento de Justiça pedindo a proibição de dispositivos conhecidos como “bump stock”, peças moldadas de plástico ou metal que podem se conectar a uma arma semiautomática legal e permitir que ele dispare até 100 rodadas em sete segundos, semelhante às armas de fogo consideradas ilegais.

Leia também: Sobreviventes do massacre em Parkland estão mudando o debate sobre controle de armas nos EUA

Em conversas privadas na Casa Branca, ele indicou que ele poderia fazer mais, dizendo aos assessores e amigos que ele está determinado a pressionar por algum tipo de legislação de controle de armas.

Em um desses diálogos, durante um jantar com o comentarista de televisão Geraldo Rivera em Palm Beach, Flórida, o presidente ouviu com interesse como Rivera sugeriu aumentar a idade mínima permitida para a compra de uma arma semiautomática de 18 para 21. A secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse a repórteres na terça-feira que a ideia está “sobre a mesa para discussão”.

Até agora, as posições públicas de Trump não ameaçaram a agenda da poderosa Associação Nacional de Rifles (NRA), que o patrocinou durante a primária republicana de 2016 e gastou mais de US$ 30 milhões para apoiar sua candidatura e atacar sua concorrente nas eleições gerais, Hillary Clinton. Mas, nos bastidores, Trump está cozinhando ações que poderiam colocá-lo em desacordo com a NRA.

Procurada, a NRA não quis comentar a postura de Trump.

A tentativa de Trump de dar um novo tom à questão das armas nos EUA ocorre quando a opinião pública sobre o tema parece estar mudando após o tiroteio na semana passada em Parkland, Flórida.

Os alunos que sobreviveram ao tiroteio estão pedindo maior controle de armas, e alguns se comprometeram a não retornar à aula até as mudanças serem feitas. Na terça-feira, cerca de 100 alunos da escola viajaram para Tallahassee, Flórida, para pressionar legisladores estaduais sobre a necessidade de uma legislação de controle de armas. Mas, à medida que seus ônibus estavam na estrada, os deputados, de maioria republicana, votaram contra qualquer debate sobre a proibição de armas como a usada no ataque.

Enquanto isso, uma nova pesquisa do Washington Post-ABC News divulgada nesta semana descobriu que mais de 6 em cada 10 americanos culpam o Congresso e o Trump de não fazer o suficiente para evitar tiroteios em massa.

Trump planeja se reunir nesta quarta-feira (21) com alunos, professores e pais que foram afetados por tiroteios em massa, incluindo o de Parkland. O grupo também contará com simpatizantes da causa residente em Washington.

“Estamos trabalhando muito para dar sentido a esses eventos”, afirmou Trump na Casa Branca na terça-feira à tarde. “Eu me encontrei com alguns dos sobreviventes e suas famílias, e fiquei comovido – muito emocionado, muito emocionado – por sua força, sua resiliência ... Nós devemos fazer mais para proteger nossos filhos. Nós temos que fazer mais para proteger nosso crianças.”

Leia também: 5 ações que podem facilitar a compra e o porte de armas no Brasil

Tentativas frustradas de mudanças na lei

Uma ação bipartidária no Congresso foi bloqueada mesmo após os tiroteios em massa anteriores, incluindo alguns dos ataques mais mortíferos na história moderna dos EUA. Depois do tiroteio de 2012, na Sandy Hook Elementary School em Connecticut – em que 20 crianças e seis adultos foram mortos –, um esforço dos parlamentares para criar mecanismos para fiscalizar melhor os antecedentes de quem compra armas e proibir certos tipos de rifles falhou. A NRA recusou-se a apoiar o projeto de lei e pressionou, no Senado, republicanos e vários democratas moderados que enfrentaram a reeleição desse ano e, finalmente, votaram contra a legislação.

O senador Patrick Toomey, que liderou esse acordo bipartidário sem sucesso, disse na terça-feira que planeja reapresentar o projeto de lei nas próximas semanas. Se aprovada, a norma deve melhorar e ampliar a verificação de antecedentes criminais para permitir a compra de armas de fogo. Nesse sentido, a Casa Branca informou na segunda-feira que Trump apoia todos os esforços para “melhorar o sistema federal de verificação de antecedentes”.

Os dipositivos “bump stocks”

Os “bump stocks”, os dipositivos que permitem que fuzis semiautomáticos deem rajadas contínuas, funcionando como automáticos, não foram usados no tiroteio da semana passada na Flórida, de acordo com as autoridades locais.

Mas o dilema em relação a esses equipamentos ganhou fama depois de mais de 58 pessoas terem morrido em outubro em um festival de música country em Las Vegas, onde as autoridades disseram que o atirador estava armado com 14 AR-15s com “bump stocks”, além de outras armas de fogo.

A NRA disse que apoiaria uma maior regulamentação dos “bump stocks”, mas se opunha à proposta de mudança na lei. Os legisladores republicanos passaram a questão para um dos órgãos do Departamento de Justiça, o Escritório de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF), que respondeu que não pode regulamentar os “bump stocks”, a menos que o Congresso altere a lei.

Em dezembro, o Departamento de Justiça parecia sinalizar uma mudança de atitude e começou a explorar a possibilidade de proibir esses dispositivos, alterando os regulamentos federais, um longo processo que envolveu a publicação de uma consulta pública e a participação de pessoas interessadas, que terminou em 25 de janeiro. Trump disse que o departamento recebeu 100 mil comentários.

No memorando desta terça, Trump orientou o Departamento de Justiça a “dedicar todos os esforços disponíveis para concluir a revisão dos comentários recebidos e, o mais rápido possível, propor a notificação e comentar uma regra que proíba todos os dispositivos que transformam armas legais em metralhadoras”.

Se a regra for alterada, o governo poderá enfrentar uma enxurrada de processos na Justiça – especialmente dos fabricantes desses dispositivos – que continuaram a vendê-los, enquanto as autoridades federais estudam em regulamentá-los. Um funcionário do Departamento de Justiça disse que a Casa Branca e o Departamento de Justiça já estavam em acordo sobre o tema, no sentido de um controle maior das armas, antes que o presidente emitisse esse memorando. O funcionário disse que os envolvidos na Casa Branca também examinaram cuidadosamente o memorando do presidente para tentar garantir que não teria efeitos negativos em possíveis litígios futuros.

Dado que uma mudança de regulamentação provavelmente será desafiada, a senadora Dianne Feinstein, Califórnia, líder democrata no Comitê Judiciário do Senado, disse na terça-feira que Trump precisa, em vez disso, apoiar o projeto de lei que tenta proibir os “bump stocks”. Uma disputa na Justiça, disse ela, poderia significar que os “bump stocks continuariam a ser vendidos” por anos. “Uma mudança na lei é a única resposta”.

Professores armados?

Grande parte do debate público desde o tiroteio da semana passada no Marjory Stoneman Douglas High School centrou-se nos sinais de alerta levantados antes do massacre e como o suspeito de 19 anos conseguiu comprar legalmente pelo menos 10 rifles e espingardas.

Sanders disse na terça-feira que o aumento da idade mínima para a compra de uma arma semiautomática é “certamente algo que está na mesa para discussão e que esperamos uma proposta mais concreta nas próximas duas semanas”.

Outra ideia também flutua por entre os membros da administração Trump e aliados próximos: aumentar o número de professores armados e manter agentes policiais aposentados nas escolas.

O tiroteio de Parkland foi o terceiro tiroteio em massa da Flórida nos últimos anos e os três ocorreram apesar de oficiais armados estarem nas instalações.

Na escola da Flórida, um agente armado estava na escola, que ocupa uma área de 182 mil metros quadrados, mas ele não conseguiu encontrar o homem armado durante a fúria de cinco minutos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]