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Um corretor olha para tela que exibe o resultado do referendo do Brexit | DANIEL ROLAND/AFP
Um corretor olha para tela que exibe o resultado do referendo do Brexit| Foto: DANIEL ROLAND/AFP

Os britânicos decidiram abandonar a União Europeia (UE) em referendo. A decisão causou um ‘terremoto’ que levou o primeiro-ministro David Cameron a anunciar nesta sexta-feira (24) que vai deixar o cargo, afundou os mercados e provoca o temor de um efeito dominó na Europa.

Os britânicos votaram por estreita margem, 52% a 48%, a favor da saída do Reino Unido do bloco europeu que integrava desde 1973. Mas escoceses e norte-irlandeses se mostraram em desacordo e pediram a organização de referendos para decidir seu futuro por conta própria.

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E enquanto os bancos centrais e os investidores internacionais tentam superar a tempestade, a primeira vítima política foi o homem que convocou o referendo sobre a permanência britânica na UE, o próprio Cameron. “Eu não penso que seria correto tentar ser o capitão que orienta nosso país até seu próximo destino”, disse Cameron, visivelmente abalado, diante da residência oficial de Downing Street.

Ele completou que o “novo primeiro-ministro deveria estar no cargo antes do início do congresso do Partido Conservador”, em outubro. “Os britânicos votaram a favor de deixar a União Europeia e sua vontade têm que ser respeitada”, declarou.

“Acredito que o novo primeiro-ministro é quem deve tomar a decisão de ativar o Artigo 50”, afirmou, a respeito do Tratado Europeu de Lisboa, que abrirá o período de negociações para a ruptura. Cameron defendeu a ideia de convocação do referendo, o segundo na tortuosa relação entre Reino Unido e UE. Os britânicos votaram “sim” à permanência no bloco europeu em 1975. “Temos uma democracia parlamentar, mas há momentos em que o correto é consultar a população”.

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O referendo apresentou uma conta muito cara ao Partido Conservador, dividido até a medula, e ao opositor Partido Trabalhista, que também fez campanha pelo “Remain” (permanecer). Mas os vencedores não deram trégua. “Agora precisamos de um governo Brexit”, disse um dos representantes da vitória histórica, Nigel Farage, o líder do minúsculo Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), que tem apenas um deputado na Câmara dos Comuns.

Farage, que incendiou a campanha com um discurso duro e contra os imigrantes, pediu que o 23 de junho seja declarado “Dia da Independência”. Cameron deve permanecer no posto de chefe de Governo até outubro, quando o Partido Conservador celebrará seu congresso.

Reações

Os países fundadores da UE (Alemanha, França, Holanda, Itália, Bélgica e Luxemburgo) anunciaram uma reunião extraordinária no sábado em Berlim, um prelúdio do que pode virar uma disputa diplomática com Londres de resultados imprevisíveis para todo o bloco. A Espanha pediu imediatamente uma “soberania compartilhada” sobre Gibraltar, território que votou quase por unanimidade na permanência na UE.

O candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, que visita a Escócia nesta sexta-feira (24) para inaugurar um campo de golfe, afirmou que o Brexit é “fantástico”.

As bolsas desabavam, a libra esterlina registrava a menor cotação em 30 anos e os investidores compravam de maneira intensa títulos da dívida alemã, em uma possível nova crise financeira na ainda combalida Eurozona. O Banco da Inglaterra se mostrou disposto a injetar imediatamente 250 bilhões de libras esterlinas em liquidez no mercado.

Sem precedentes na UE

Nunca na história da UE um país havia votado para abandonar o projeto nascido nos anos 1950, das cinzas da Segunda Guerra Mundial. Os chefes da diplomacia da Alemanha, França, Holanda, Itália, Bélgica e Luxemburgo anunciaram uma reunião de emergência em Berlim.

“Sou totalmente consciente de quão sério, dramático, é este momento. (...) É um momento histórico, mas certamente não é um momento para reações histéricas”, afirmou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. Não existirá um vazio jurídico enquanto o Reino Unido negocia formalmente como abandonar o bloco, completou.

A negociação, de acordo com os tratados europeus, pode levar dois anos no máximo, a partir do momento em que um membro denuncia. Após os dois anos, o divórcio precisa ser consumado, independente das divergências ainda existentes.

Em jogo está o status legal de milhões de trabalhadores europeus no Reino Unido, de centenas de milhares de aposentados britânicos em países como Espanha, França ou Portugal.

A Escócia, onde a opção pela permanência venceu, vê seu futuro como “parte da UE”, reagiu Nicola Sturgeon, chefe do Governo regional escocês. O Sinn Fein também pediu um referendo no Ulster, para unir-se a Irlanda. A permanência na UE também foi vitoriosa na Irlanda do Norte.

As reações não demoraram no continente. A líder da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, também defendeu a ideia de um referendo sobre a UE na França, assim como o político de extrema-direita holandês Geert Wilders.

A Otan fez questão de destacar que o Reino Unido continuará sendo um “sólido” aliado na organização e permanecerá com seu papel de liderança.

O referendo histórico evidenciou uma brecha insuperável entre regiões, gerações e classes sociais britânicas. As grandes cidades votaram de maneira majoritária pela permanência, enquanto as zonas rurais optaram pela saída. Os jovens estavam dispostos a permanecer dentro de um bloco que possibilita liberdade de movimentação, mas os idosos só conseguiam enxergar uma invasão de imigrantes, 300 mil por ano, que deveria ser interrompida o mais rápido possível.

Motivo de alegria para muitos, mas que abala a Europa e os partidários do bloco. “Um desastre f...”, resumiu um corretor da Bolsa de Londres.

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