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Turistas enfrentam a tradicional inundação das ruas de Veneza: uma das cidades mais famosas da Europa pode ficar sem moradores até 2030. | Andrea Pattaro  / AFP
Turistas enfrentam a tradicional inundação das ruas de Veneza: uma das cidades mais famosas da Europa pode ficar sem moradores até 2030.| Foto: Andrea Pattaro / AFP

56 mil

é o número de habitantes fixos de Veneza. Cerca de 70% das pessoas que deixam a cidade têm menos de 45 anos. Em compensação, é uma cidades mais procuradas por turistas na Europa: estima-se que a cidade recebe em média 20 milhões de turistas por ano, de todas as partes do mundo.

Nas ruas estreitas ou em uma de suas 409 pontes, milhares de turistas recém desembarcados de um cruzeiro se aglomeram para a melhor selfie da cidade construída sobre as águas que está destinada a desaparecer com o avanço do mar.

Um dos lugares mais belos do mundo, Veneza desperta curiosidade e fascínio. Mas a cidade hoje em nada lembra a época efervescente, quando era mais rica que Paris ou Roma e dominava os centros mercantil e naval. Uma melancólica decadência tomou conta do lugar. Não financeira, pois recebe mais de 20 milhões de turistas por ano. Nem em termos de salários: um gondoleiro ganha em torno de R$ 35 mil a 38 mil por mês. A decadência está no número de habitantes que não para de fugir da cidade. Em 30 anos, a cidade italiana perdeu metade de seus residentes fixos, que hoje não passam de 56 mil.

O comércio de rua, como mercearias e bancas de jornais, também desapareceram. O número de cinemas na cidade caiu de 20 para dois. O preço exorbitante dos aluguéis e as poucas alternativas de trabalho, com exceção da indústria turística, fazem os jovens migrarem para os grandes centros. Cerca de 70% das pessoas que deixam a cidade têm no máximo 45 anos. Para cada 10 venezianos com mais de 65 anos, há uma criança de 0 a 5 anos, segundo dados da Unesco.

Veneza caminha cada vez mais para se transformar em uma cidade-museu. Demógrafos preveem que, se o fluxo migratório continuar neste ritmo, em 2030 não haverá mais residentes fixos na cidade.

Enquanto os venezianos fogem, os estrangeiros chegam. Florence Boaretto Husson trocou a França por Veneza há sete anos e não se arrepende. “Aqui é mais barato. Quando chegamos (ela vive com o marido e duas filhas) em 2008, o preço do metro quadrado era o mesmo que em Paris, 6 mil euros. Hoje Paris já está em 9 mil euros e em Veneza continua o mesmo valor”.

A mesma opinião tem o brasileiro Pedro Fonseca, de 28 anos, que está há oito anos na cidade. “Pago mil euros de aluguel por 70 metros quadrados. Isso é mais em conta que em outras cidades da Itália, como Roma ou Milão”, afirma.

Turistas reclamam

Os turistas também têm reclamado de Veneza. A Comissão Europeia abriu neste mês uma investigação, após um casal de turistas belgas denunciar a diferença de preços cobrados para turistas e residentes. Eles alegam que a medida viola os acordos da comunidade europeia. A entrada no Palácio dos Doges, por exemplo, custa 18 euros, mas para os habitantes é gratuita. O motivo para a explosão dos preços seria o aumento dos navios com turistas, que nos últimos 15 anos invadiram a cidade.

“É verdade que os turistas pagam bem mais nos transportes. Eu pago apenas 14 euros por mês pra andar o quanto quiser. Mas é como no Rio de Janeiro, a empadinha para o turista é sempre mais cara”, afirma Fonseca.

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