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Dias atrás veio a público – e foi amplamente debatido pelas redes sociais – um vídeo realizado por um grupo pró-vida dos Estados Unidos, que flagrou uma mulher do alto escalão da Planned Parenthood oferecendo partes de fetos abortados para venda. Financiada, entre outros, pelo governo dos Estados Unidos, essa entidade tem a maior rede mundial de clínicas de aborto, e também busca a aprovação de leis que legalizem essa prática em outros países, como o Brasil.

Inúmeras vezes tive a oportunidade de dizer, em debates, que a legalização do aborto faz com que este seja banalizado, comece a ser usado como método de controle de natalidade, deixe de ser percebido como o ato em que uma mãe mata o seu próprio filho em gestação. Em resposta, geralmente me dizem que não, que o aborto só será realizado quando “necessário”...

É recorrente também o argumento de que é preciso encontrar solução para o dito “aborto inseguro”, porque se trataria de uma questão de saúde pública, que assim se evitariam mortes de mulheres – geralmente exagerando muito o número dessas mortes, que no Brasil não passam de 100 por ano, já há muitos anos.

O respeito à dignidade da vida humana não permite brechas

O vídeo citado ajuda-nos a olhar o assunto por outro ângulo: o da existência de uma indústria do aborto, que é muito lucrativa, e que deseja expandir a sua atuação. A comercialização de partes do feto traz requintes de crueldade ao processo de abortamento, uma vez que é necessário manter a criança viva para preservar o órgão desejado, até o momento em que este possa ser extraído. As várias metodologias são explicadas com detalhe, em conversa informal, enquanto a mulher que faz o relato come salada e toma vinho.

A população brasileira é majoritariamente contra o aborto, mas cresce a pressão internacional para que ele seja legalizado em nosso país. Um dos atores é o Consórcio Latino-Americano Contra o Aborto Inseguro (Clacai). O foco na alegada “saúde reprodutiva da mulher” mal disfarça outra questão: a da natalidade, ou seja, as instituições que o financiam preocupam-se com os números da população mundial, e veem no aborto um modo de reduzi-la. Citam-se a Ford Foundation, o Grupo de Información en Reproducción Elegida (Gire), o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o Population Council e a Marie Stopes International, dentre outras entidades.

Esta última ONG, Marie Stopes International, oferece em seu site aborto por preços que oscilam entre 450 e 2 mil libras, dependendo da idade gestacional. Mas faz ofertas mais baratas para mulheres que queiram abortar na Inglaterra, vindas de países em que o aborto seja mais restrito. O site oferece também informações em diversas línguas, incluído o português, onde se lê, por exemplo: “Será necessário ficar no Centro Marie Stopes apenas algumas horas para o aborto, ou até um dia se estiver grávida de 19 a 24 semanas”. Vale lembrar que uma criança que nasça com 24 semanas tem hoje grandes chances de sobrevivência, o que faz com que esse limite venha sendo questionado na Inglaterra.

O respeito à dignidade da vida humana não permite brechas. Quando estas são abertas, fatalmente se chega a situações como as mostradas no vídeo. Afinal, por que jogar no lixo os corpinhos abortados, se a venda dos seus órgãos pode aumentar o lucro do negócio?

Lenise Garcia, professora do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília, é presidente do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto.
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