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 | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Na sociedade em que vivemos tudo é muito rápido, dinâmico e intenso, e isso fica mais visível com o uso das tecnologias de informação e comunicação que agilizam a vida de todos. As mídias sociais favorecem o contato entre as pessoas na palma da mão, sempre com um dispositivo móvel, com acesso à internet, para obter qualquer tipo de informação. Neste contexto, como fica a biblioteca escolar? Ela precisa existir na escola ou não? Se o acesso à informação é fácil e rápido, por que ter um espaço diferenciado em uma instituição de ensino? Será que no século 21 os estudantes ainda têm necessidade de bibliotecas?

Estes questionamentos nos levam a refletir e a olhar com mais atenção para a biblioteca escolar. Primeiramente, é preciso saber quais são as suas funções no contexto educacional e cabe aqui destacar duas: o incentivo à leitura e a orientação dos trabalhos escolares, além de serem indicadas no Manifesto da Biblioteca Escolar – escrito pela Federação Internacional das Associações e Instituições Bibliotecárias (Ifla) em parceria com a Unesco –, também têm o apoio governamental e legislações que fortalecem a sua existência.

Mas isso não é o suficiente: é preciso que a comunidade escolar se apodere deste espaço tornando-o dinâmico, aconchegante, interativo e com todos os recursos informacionais disponíveis para proporcionar ao estudante a construção do conhecimento. Vale ressaltar que a parceria entre bibliotecários e professores faz toda a diferença no reconhecimento deste espaço, pois ambos são mediadores do conhecimento, organizando as informações e serviços que possibilitam o apoio ao currículo escolar em sala de aula, instigando o aluno a questionar, a repensar conteúdos, refletir sobre fatos e descobrir novos pontos de vista.

Devemos apagar alguns conceitos sobre a biblioteca escolar, principalmente o de que é um lugar de silêncio

Como o estudante nativo digital se relaciona com a biblioteca? Com o avanço da tecnologia, novos direcionamentos ocorreram para aproximar a biblioteca e os estudantes. Antes, porém, devemos apagar alguns conceitos sobre a biblioteca escolar, principalmente o de que é um lugar de silêncio, onde não se pode falar; ou o de que os livros e outros materiais são para sempre e que se deve guardar tudo, pensamento que faz da biblioteca escolar um depósito. Outro conceito errado sobre o espaço da biblioteca é o uso como sala de “castigo” para aqueles alunos que não se comportam bem na sala de aula. Em pleno século 21 a biblioteca ainda não é vista como espaço pedagógico. Agora, destituídos destes conceitos errôneos, vamos construir a biblioteca para ser amada e desejada pelos estudantes.

O local da biblioteca tem de ser de fácil acesso, sem muito ruído, espaçoso, bem iluminado e arejado. Tem de ser aconchegante, com cores alegres, móveis diferenciados e novos que proporcionem o desejo de permanência dos estudantes. O espaço ainda deve contemplar assentos para a maior turma da escola, não só cadeiras, como poltronas, pufes e outros, onde possam ter conforto. Após a definição do local, é de suma importância contratar profissionais habilitados – ou seja, o bibliotecário. A formação dele permite que planeje a organização e o funcionamento do espaço para que seja conhecido como um local de aprendizagem. Para fortalecer este trabalho, ainda são necessários os auxiliares de biblioteca, pois muitas atividades precisam ser desenvolvidas.

Outro aspecto a ser considerado são os serviços. Apenas emprestar e devolver não é o suficiente; é necessário estabelecer programas e projetos que levem os estudantes a utilizar a biblioteca, que assim se torna o espaço de aprendizagem tão falado. A Unesco, em seu documento Information Power, propõe que a biblioteca escolar desenvolva programas de competência informacional – que, de forma simplificada, consiste no ensino do uso de recursos informacionais e no trabalho com a informação (identificar, buscar, analisar, sintetizar, comunicar e avaliar).

Leia também:O útil e o fútil do mundo digital (artigo de Jacir Venturi, publicado em 18 de julho de 2016)

Leia também: Leituras aos pedaços (editorial de 22 de agosto de 2015)

Para aproximar o estudante da biblioteca, é preciso conhecer o nativo digital. Quem é ele? De acordo com Marc Prensky, são todos aqueles que nasceram e cresceram com as tecnologias digitais, não concebem o mundo sem redes sociais, entendem muito mais de tecnologia que seus pais, buscam todos os assuntos no Google e utilizam todos os tipos de software. Eles estão conectados o tempo todo e a tecnologia é vista como uma extensão do cérebro. Preferem informações rápidas de múltiplas fontes, trabalhar com imagem, som e vídeo, em vez da escrita. Preferem aprender de forma instantânea as coisas relevantes e úteis, explorando um aprendizado lúdico e divertido. Não veem o mundo com fronteiras geográficas, mas como uma aldeia global. Como são multitarefa, conseguem ouvir televisão, rádio e se conectar à internet, porém sem muito foco naquilo que fazem. Falam com os pais de igual para igual, sem respeitar hierarquia e, com isso, não têm a dimensão dos seus erros, uma vez que consideram a vida como um videogame em que podem reverter facilmente o que fizeram, iniciando uma nova fase. Esta geração ficou conhecida como Z e tem como desafio aprender a selecionar a informação e transformá-la em conhecimento para poder exercer a cidadania.

Para conhecer a opinião dos adolescentes sobre leitura e recursos digitais, foi realizada uma pesquisa com 350 estudantes do ensino médio de uma rede confessional do Paraná, para saber sobre suas preferências de leitura. Com o resultado foi possível mapear as seguintes características: do grupo entrevistado, 80% dos estudantes gostam de ler, desmistificando uma noção comum sobre os adolescentes; apesar de ser tecnológico, esse adolescente (61%) ainda prefere ler no formato tradicional (impresso), mas o número de leitores vem crescendo, pois 31% já leem apenas só no formato digital; e o que eles mais leem no suporte digital são as redes sociais (39%), seguido de livros (29%), jornais e revistas (9%); quanto ao gênero literário, eles gostam de ler romance e séries (40%) e quadrinhos (12%); a leitura é realizada no formato PDF (35%), 28% em PDF e e-book e 11% só no e-book; além disso, 51% dos estudantes têm aplicativos de leitura nos dispositivos móveis e 56% disseram que a tecnologia contribui para aumentar a cultura em geral.

Conhecendo as características dos nativos digitais e as funções da biblioteca, é possível criar programas e projetos que os aproximem. Como o nativo digital é tecnológico, o bibliotecário deve usar as redes sociais para divulgar os lançamentos da biblioteca e inteirar sobre as dicas de leitura, além de ter materiais digitais como jornais, revistas, livros ou bibliotecas digitais que o aluno possa acessar de qualquer lugar para ficar antenado e fornecer informações de qualidade e com credibilidade. Com o acesso à informação, vem a leitura, fundamental para o desenvolvimento dos estudantes, para apoio ao processo de aprendizagem, pois possibilita o diálogo que extrapola o tempo e o espaço, um alargamento de mundo. A biblioteca escolar pode proporcionar diversas atividades de leitura que estimulem o estudante a ler, como contação de histórias, clube do livro e oficinas literárias. Há trabalho a realizar para aproximar a biblioteca escolar e os nativos digitais.

Raquel Pinto Correa é coordenadora das bibliotecas da Rede Adventista de Educação – Associação Central Paranaense.
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