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 | Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Somos um grande país governado pelo pensamento pequeno. A busca e proteção de interesses pontuais bloqueia o surgir de uma lógica pública impessoal. Nossa democracia carece de um autêntico projeto de nação. Se o poder emana do povo, a política tem sido decidida por poucos a favor de alguns. Por consequência, os anos passam, sonhos se desfazem e as palavras da Constituição viram ecos despidos de significado real. E, quando a lei perde consistência, as injustiças ganham relevo nos contornos sociais.

Diante da insistente ausência de mínimos resultados concretos, o sistema começou a ruir; trata-se de um movimento sem volta. É hora de admitirmos que os velhos instrumentos da política não funcionam mais; estamos vendo a fadiga dos materiais de um modelo republicano falido. Sim, durou muito, até mais do que devia. O fato é que os mecanismos de governo perderam vitalidade e eficiência prática. No apagar das velhas teorias, abre-se um vácuo de dúvidas e questionamentos pulsantes. Com a decadência estrutural da República, a sociedade navega perdida em uma época de explícito relativismo moral.

Em vez da imobilidade burocrática, a gestão pública vencedora será feita de dinamismo transformador

O diagnóstico é claro e determinado: temos um sistema político medieval em um mundo de tecnologia digital. Ou seja, o tempo da política não mais condiz com a atual velocidade da vida. Os lerdos e solenes processos do passado são flagrantemente incompatíveis com as urgentes necessidades do hoje. Sim, é sabido que algumas mudanças exigem um natural período de maturação. Todavia, não podemos negar uma realidade autoevidente: ou a política muda ou será mudada pelo calor das circunstâncias.

Ora, em vez de depender de movediças variáveis incertas, sempre é melhor antever os desejos sociais, adaptando as instituições aos contextos que se desenham no horizonte. Cabe à política – a grande arte de regência da vida coletiva – captar os ventos da mudança, construir um persuasivo discurso público legitimador e, ao fim, transformar ideias em atos efetivos de aperfeiçoamento humano. Da teoria constitucional à prática política, precisamos acabar com a visão paternalista estatal, extinguindo os feudos ineficientes, antieconômicos e corruptos da máquina pública. Sem integridade pessoal, coerência interna e responsividade, nenhum sistema político ficará de pé nas próximas décadas.

Leia também: As instituições vão bem, obrigado (artigo de Bernardo Guimarães e Ivan Vianna Filho, publicado em 28 de janeiro de 2018)

Leia também: Fortalecer as instituições (editorial de 3 de agosto de 2015)

O jogo do futuro é substancialmente outro. Com as carcomidas estruturas da política atual, apenas viveremos crises institucionais sucessivas. A tendência do amanhã está desnuda aos olhos de todos. O sucesso das redes sociais bem demonstra que os modelos verticais hierarquizados não mais condizem com as modernas relações de poder. Em vez da imobilidade burocrática, a gestão pública vencedora será feita de dinamismo transformador. Para tanto, é fundamental impor uma nova lógica no sistema democrático brasileiro. Precisamos de gente que pense diferente, que acredite em um país melhor e que não mais aceite a atual forma indigna de se fazer política.

Para mudar, é preciso querer. E só quem sonha é capaz de ir atrás do que quer. Então, que Brasil queremos nós?

Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr., advogado, é vice-presidente da Federasul.
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