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Felipe Lima

A cada eleição, são realizadas propagandas para estimular as candidaturas de mulheres, bem como a eleição de mulheres. No entanto, essas iniciativas não têm se reproduzido na prática e as mulheres estão longe de compor sua representatividade, pois somos 52% da população e menos de 10% dos eleitos. As estatísticas apresentadas no site do TSE-PR para as eleições municipais de 2016 indicam que 68% dos candidatos são homens e 32%, mulheres. Do total, 80% se declaram brancos. O dado carece de análise mais profunda, mas primariamente pode-se perceber que os partidos, em sua maioria, apenas cumprem a cota para as eleições.

As dificuldades das candidaturas de mulheres continuam as mesmas das eleições anteriores: machismo, desprestígio por parte dos partidos políticos, tripla jornada de atuação (casa, trabalho e política), falta de apoio familiar, desprezo por parte dos setores conservadores. Dados estatísticos mostram, também, que a maioria das mulheres é eleita pela chamada “herança familiar” – elas herdam os votos e atitudes de seus pais, maridos etc. Poucas mulheres eleitas são oriundas de movimentos sociais que trazem as reais reivindicações da população.

Mesmo com esse cenário adverso, surgem novidades na política, como candidatas levantando bandeiras específicas como as pautas LGBT, da negritude, da saúde feminina, do repúdio à cultura do estupro, entre outros temas relevantes que fazem parte do cenário nacional. Cientes de seu papel e da importância de apontar situações que impedem as mulheres de terem vida plena e digna, as candidatas valorizam a oportunidade desse momento único e fantástico de expor suas ideias e propostas, buscando mudar a realidade e contribuir para que a democracia seja realmente representativa da nossa população.

As dificuldades das candidaturas de mulheres continuam as mesmas das eleições anteriores

Outro ponto a ser considerado nas eleições municipais é o papel das organizações de mulheres que buscam apresentar suas propostas aos candidatos(as) a prefeito(a) para que as encampem e coloquem ações para melhorar a vida das mulheres em seus governos. Propostas como as que fortalecem o combate à violência contra a mulher, por exemplo, são de extrema relevância, principalmente em um país que ainda considera a vítima de estupro como a culpada pela violência sofrida – em pesquisa recente, 30% dos entrevistados disseram achar que a mulher foi estuprada porque “deu mole”.

A cultura de desvalorização da mulher, tratando-a como culpada da própria agressão, ainda é muito forte em nosso país e as eleições com mulheres candidatas possibilitam colocar na ordem do dia reivindicações relevantes como o fortalecimento da rede de enfrentamento à violência contra a mulher; o cumprimento da lei de salários iguais para mulheres e homens no exercício da mesma função; a necessidade da rede de atendimento à saúde da mulher; a qualificação de profissionais de saúde, Justiça e segurança pública no atendimento às mulheres em situação de violência; o funcionamento adequado dos equipamentos públicos; a igualdade da presença da mulher na política; e o cumprimento real da Lei Maria da Penha, entre tantas reivindicações dos movimentos organizados e conselhos de mulheres.

Assim, nos municípios podem ser realizadas muitas ações para o enfrentamento à violência contra as mulheres, com ações por parte do Executivo e do Legislativo: desde a criação de órgãos de atendimento às mulheres na estrutura hierárquica das prefeituras até campanhas de informações e conscientização.

A criação de organismos municipais de atendimento às mulheres, com orçamento próprio, é uma dessas ações possíveis que contribuem para uma vida com mais dignidade para as mulheres e, consequentemente, para as crianças e suas famílias. Por sua vez, campanhas pelo fim da violência contra as mulheres podem ser realizadas nos municípios com o envolvimento da sociedade, mostrando, principalmente, que os relacionamentos abusivos são sinais claros de violência emocional que pode culminar em violência física.

Por fim, a presença das mulheres na política equilibra as relações de poder e de representatividade, para além de tratar as situações de violência contra a mulher, com atuação em todos os setores da sociedade.

Tania Fatima Calvi Tait, professora universitária e pós-doutoranda em História, é coordenadora da ONG Maria do Ingá-Direitos da Mulher e integrante dos conselhos municipal e estadual dos Direitos da Mulher.
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