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Recentemente foi publicada uma pesquisa segundo a qual a maioria dos estudantes de ensino superior reconheceram ter praticado diversos tipos de fraude, tais como colar em provas, pedir a colegas que inserissem seu nome em trabalhos dos quais não participaram, copiar textos da internet e usar como se fossem seus e assinar a lista de presença pelos colegas. Esses comportamentos com certeza são a síntese de múltiplas determinações, mas vou me ater a apenas dois.

O primeiro deles se refere a uma verdadeira crise ética, amplificada no momento atual pela percepção da população acerca da corrupção que aflige nosso país. A todo tempo somos bombardeados por notícias nos dando conta de mais alguma figura pública envolvida em fraudes e processos ilícitos. A mensagem que a realidade passa aos jovens, de certo modo, pode ser traduzida por uma expressão usada por alguns deles: “não dá nada, todo mundo faz isso de vez em quando”.

Ainda são fortes os ecos de uma época em que o ensino superior era baseado numa estrutura de ensino frontal

O segundo aspecto se refere à falta de significado do ensino para os jovens de hoje. Na atualidade, a partir de demandas tais como a globalização, a reestruturação produtiva e a revolução técnico-científica, o ensino superior precisa se repensar. Se em outras épocas a universidade formava as elites condutoras, hoje seu papel é oferecer a todos que a procuram uma formação profissional e cidadã que permita a atuação consciente, autônoma e crítica na sociedade.

Mas como o ensino superior tem reagido a esses clamores?

Ainda são fortes os ecos de uma época em que o ensino superior era baseado numa estrutura de ensino frontal, tendo o professor como “dono do saber” e o aluno como mero receptáculo. Mas o aluno mudou, tem outras expectativas e outro modo de se relacionar com o saber e com a autoridade. Ele já não aceita a mera transmissão de um saber descontextualizado, tem acesso a várias fontes de informação, é mais imediatista e, em muitos casos, tem mais dificuldade de usar as ferramentas básicas de aprendizagem: a leitura compreensiva, a escrita autônoma e o domínio da matemática básica.

O ensino superior nem sempre leva em conta essa realidade e muitos docentes agem tendo em mente um aluno ideal, que na verdade não existe. Por causa disso, a organização das atividades letivas muitas vezes é distante das necessidades do aluno. A falta de significado do conteúdo é um fator que favorece atitudes de descaso, levando a níveis sofríveis de dedicação. O modo como são solicitados os trabalhos, muitas vezes sem problematização, também induz à cópia e à divisão de tarefas entre os alunos, de modo que não raramente uma parte da equipe realiza o trabalho da disciplina “A” e outra parte faz o da disciplina “B”, e todos assinam depois.

Obviamente essas atitudes são erradas e devem ser coibidas com firmeza, mas não podemos culpar apenas o aluno por essas atitudes fraudulentas. É preciso refletir quais são as várias interfaces dessa situação, analisando a proposta curricular e sua efetivação.

A instituição de ensino também tem um nível de responsabilidade nessa situação. Cabe-lhe primeiramente analisar, com base em dados concretos e estudos da área, quem são os jovens da atualidade, evitando o olhar preconceituoso sobre essa fase da vida. A partir da compreensão de quem é o aluno que hoje frequenta o ensino superior, é necessário repensar os currículos, a metodologia, as estratégias e instrumentos de avaliação.

Várias instituições têm buscado inovar neste sentido, principalmente buscando apoio nas metodologias ativas, mas ainda há um caminho a percorrer no sentido de tornar o processo ensino-aprendizagem mais significativo e, com isso, ampliar o nível de comprometimento dos alunos. Mas isso já é assunto para outro texto.

Inge Renate Fröse Suhr é professora e coordenadora pedagógica no Centro Universitário Internacional Uninter.
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