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Felipe Lima

Os governantes que implementam medidas impopulares – embora benéficas para o futuro – são alvos de agressões, isolamento e críticas. Encontram uma resistência feroz por parte de muitos e o apoio tíbio de uns poucos. São os estadistas, que vão além do seu tempo e forçam passagem em meio a uma maioria reivindicadora. “Ainda não descobri a maneira infalível de governar. Mas aprendi a fórmula certa de fracassar: querer agradar a todos, ao mesmo tempo”, discursava apropriadamente John F. Kennedy.

Confortam-se com o dever cumprido e com o julgamento da posteridade. Sim, a história – essa “juíza imparcial” – repara injustiças, mas tem o péssimo hábito de andar devagar. É notório o gap entre o aplauso de um tempo atual e o aplauso da história. Em contrapartida, a demagogia, o assistencialismo e o populismo seduzem o líder míope como o canto da sereia. Nesse mister, se faz oportuno Roberto Campos: “Nas veias dos demagogos não corre o leite da ternura humana e sim o vinagre da burrice ou o veneno da hipocrisia”. Na América Latina, há três modelos de governos populistas que deixaram como legado o caos econômico, a desesperança, a frouxidão moral e meritocrática: chavismo, peronismo e lulopetismo.

O atual governo e o Congresso têm o dever cívico e institucional de oferecer um norte

No Brasil, qual presidente se circunstanciou das condições mais favoráveis para ascender ao pódio de maior estadista deste país? Sim, Lula! Aprovação popular que beirou os 80%, bela trajetória de vida e superação, maioria absoluta no Congresso, oposição desarticulada e enfraquecida, comércio internacional favorável pelo preço das commodities. Ademais, sucedeu um governo que deixou bons fundamentos macroeconômicos e controle fiscal. Ou seja, um ecossistema propício para as necessárias reformas política, previdenciária, trabalhista, tributária. A maior herança de um governante é o apoio a um candidato para sucedê-lo. Indicou Dilma e deu no que deu.

Mas Lula se deixou fascinar pelo aplauso do seu tempo, bem sabendo que implementar as necessárias reformas seria enfrentar insatisfações. Faltou-lhe uma postura como a de Abraham Lincoln – até hoje o mais venerado presidente dos Estados Unidos –, que em meio às vicissitudes do cargo costumava repetir que, se fosse responder a todas as críticas e ofensas que lhe eram direcionadas, não trataria de mais nada. E deixou como legado uma frase tantas vezes reiterada: “Você pode enganar todo o povo durante algum tempo e parte do povo durante todo o tempo, mas não pode enganar todo o povo todo o tempo”. O britânico Winston Churchill, celebrado como o maior estadista do século 20, ao assumir o governo de coalizão, em 1940, proferiu seu célebre discurso, nada prometendo além de trabalho, suor e lágrimas.

Estamos vivenciando uma das fases mais graves da nossa história, com a imbricação de três crises simultâneas: política, econômica e ética. O atual governo e o Congresso têm o dever cívico e institucional de oferecer um norte, enquanto nós, cidadãos, devemos compreender que não há solução fácil e de curto prazo.

Austeridade fiscal para o equilíbrio das contas públicas e para manter a sanidade da nossa moeda – eis uma receita amarga, porém imprescindível. Henrique Meirelles, como líder de uma equipe de notáveis, tem competência e credibilidade para as medidas necessárias. Ao presidente Temer – que conhece todos os escaninhos do Congresso – cabe uma pertinaz interlocução com deputados e senadores para a aprovação das imprescindíveis reformas. À Polícia Federal e ao Judiciário, que investiguem e julguem os malfeitos, restabelecendo os valores republicanos. E ao PT? Antes de voltar ao seu histórico papel de oposição, que faça uma honesta autocrítica.

Os nossos fundamentos econômicos, democráticos e éticos estão passando por uma prova de fogo. Mas cremos que o Brasil sairá desta crise fortalecido com a defenestração de governantes e políticos populistas, corruptos e gastadores, pois geram miséria, lassidão moral e infelicitam toda uma nação.

Jacir J. Venturi foi professor da UFPR e PUCPR e é presidente do Sinepe/PR e vice-presidente da Associação Comercial do Paraná.
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