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Estamos diante da primeira grande negociação da OMC, depois de 18 anos. Essa negociação envolve a redução e, em alguns casos, a eliminação das tarifas de importação em aproximadamente 80 países. E estamos de fora dessa! De novo. O atual presidente da Associação Brasileira da Industria Elétrica e Eletrônica afirma categoricamente que nunca foi “de nosso interesse” participar desse acordo, uma vez que o mesmo ameaçaria a integridade de nossa indústria eletroeletrônica.

A última vez que isso aconteceu foi em 1984 – e seus efeitos estimados foram de 20 anos de atraso em todas as áreas da indústria nacional, da automobilística à indústria de brinquedos. E as intenções eram as melhores possíveis. Porque elas sempre são.

Tudo começou na ditadura, quando nossos militares quiseram construir seus próprios computadores para embarcá-los em suas fragatas. Por acharem que precisariam impedir as empresas de outros países de terem acesso aos nossos segredos militares (supostamente porque isso era algo que pudesse ameaçar nossa soberania nacional), nascia a ideia da reserva de mercado para fabricantes nacionais de tecnologia.

Essa ideia entrou em vigor no dia 29 de outubro de 1984, com a primeira Lei da Informática, a Lei Federal 7.232/84, que durou oito anos. Aos olhos de hoje, é muito fácil julgar o que houve naquela época, assim como é possível observar as consequências positivas e negativas.

Não somos mais incipientes como no passado. Hoje temos uma indústria mais preparada para o enfrentamento

De negativo, tínhamos, além do atraso de toda a nossa indústria, os valores dos equipamentos nacionais – até cinco vezes acima dos similares estrangeiros. Mas penso que o pior de todos os efeitos negativos foi a cultura da pirataria. Porém, nem tudo foi tão ruim assim. Graças, em parte, a essa política de proteção temos hoje o mais moderno sistema financeiro do mundo, além de sermos o único país da América Latina a ter uma fabricação nacional de PCs. Digo “em parte” porque tem muita gente que fala que isso tudo aconteceu “apesar da lei” e não “por causa” dela.

O fato é que não somos mais incipientes como no passado. Hoje temos uma indústria mais preparada para o enfrentamento. Temos um sólido parque de hardwares e uma forte formação de profissionais capacitados a produzir soluções de softwares, de serviços e inovações. Não tenho dúvida de que nossa participação nesse acordo seria muito positiva por vários aspectos.

Curiosamente, já há algum tempo preparamos nossos alunos para essa realidade, citando incansavelmente que os concorrentes não estão aqui, mas sim do outro lado do planeta – e que devemos estar preparados para um mundo globalizado, onde a inovação pode ocorrer em qualquer lugar. A simples superação de nossos compatriotas não pode ser nossa meta. Devemos pensar em como superar os asiáticos, os norte-americanos, os europeus.

É no ambiente acadêmico que, historicamente, se fazem as grandes mudanças de paradigmas. Quem sabe um dia possamos olhar para o nosso passado e vermos o dia de hoje como uma oportunidade de, apesar de não sermos contemplados com o acordo da OMC, gerarmos inovações tecnológicas de ponta.

Rafael Pereira Dubiela é coordenador do curso de Jogos Digitais do Centro Tecnológico (CT) Positivo.
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