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O fim do Orkut e o boom do Facebook e do WhatsApp proporcionou o acesso à informação aberta, inclusive de outros países. No mundo real, embora o Brasil tenha dez países vizinhos, não tem laços culturais com o resto da América Latina por quatro motivos: o sonho de conhecer bem o Brasil, o alto gasto com celular e internet, a barreira da língua e o preço absurdo das passagens aéreas e da gasolina. O baixo nível de inteligência cultural, a inteligência de descobrir o mundo e aprender por comparação, é também causado pelo excesso de nacionalismo que faz com que a população e o governo ajam como se o exterior não existisse. A barreira não se restringe ao espanhol; o Brasil ficou na 70.ª posição dentre 78 países em uma pesquisa da GlobalEnglish com 200 mil funcionários de empresas nacionais e multinacionais sobre o nível de inglês.

A inteligência cultural é fundamental para vencer a cultura de dependência, de tirar vantagem, da troca de presentes e favores, da falta de conhecimento relevante e de curto prazo da cultura brasileira. Já que o sucesso da economia brasileira é conhecido internacionalmente como Chicken-flight growth – em português, “crescimento de voo de galinha” (queda do consumo, do preço das commodities, do valor do real, o endividamento, a estagnação econômica e alta da inflação) – pela falta de integração dos três alicerces da inteligência (estratégia, previsão e ação) na ação governamental, o governo poderia ao menos contribuir para o amadurecimento dos brasileiros, controlando o preço das passagens áreas. O resultado seria mais empresas e menos bares, restaurantes, motéis, igrejas e, em consequência, mais empregos e mais arrecadação para o governo.

As habilidades sociais dos brasileiros são fundamentais numa economia globalizada, mas é preciso também conhecimento relevante de países com mais de 1,5 mil anos de existência e já industrializados

Na Europa, o custo médio para voar de um país para outro é de 30 euros por empresas de baixo custo, como Ryanair e Easyjet. Aqui, os preços para ir de um estado para outro são, em média, de 200 euros, exceto na época de eventos grandes – quando o preço fica infinitamente maior. Os preços das passagens de TAM e GOL, que operam no mercado internacional, podem ficar muito mais baratas se compradas no exterior com cartão de crédito do país. O que determina o valor das passagens é a oferta disponível, o que pode variar de acordo com cada mercado. Por isso, as companhias brasileiras têm versões para cada país em que a empresa opera.

As habilidades sociais dos brasileiros são fundamentais numa economia globalizada, mas é preciso também conhecimento relevante de países com mais de 1,5 mil anos de existência e já industrializados. As descobertas de petróleo e pré-sal e a migração de 25 milhões de pobres para a classe média estão se perdendo, não só por causa da inflação e da corrupção, herança histórica de Portugal, mas por falta de cultura e conhecimento de países inteligentes.

Se o governo entender a diferença entre esperto e inteligente, vai perceber que ser inteligente é melhor que ser esperto, mas cuidado: atitude sem conhecimento é contrainteligência. Governos espertos tomam medidas com base na sua forma egoísta, tentando obter vantagem em todas as situações, sem pensar no interesse público e no bem-estar da população. Os governos inteligentes resolvem problemas considerando o conhecimento coletivo à procura de soluções ganha-ganha.

O sábio é o indiano que gosta de meditar para fugir dos problemas, mas sempre tem frases prontas para situações que ele nunca enfrentou. O gênio é o japonês que estuda muito antes de entrar no mercado de trabalho, mas não tem atitude e coragem para tomar decisão. A passagem do esperto para o inteligente precisa de meditação e reflexão (o sábio) e de muita leitura (o gênio). Eis o grande desafio de passar diretamente de esperto para inteligente.

Cristiano de Angelis, PhD, é pesquisador da Skema Business School (França) e analista do Ministério do Planejamento.
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