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Humilhação talvez seja a palavra que melhor define a sensação que sentimos quando temos que – forçosamente – admitir que estamos errados. Estudiosos do assunto afirmam que isso acontece porque, naturalmente, enxergamos o erro como sinônimo de incompetência e acreditamos que pessoas bem sucedidas nunca erram. De onde vem essa crença? Em que momento de nossas vidas passamos a enxergar as coisas dessa forma? Se voltarmos no tempo e recuperarmos a maneira como as gerações anteriores eram ensinadas, vamos notar que a raiz desse pensamento pode ter brotado dentro das escolas. Professores costumavam – e alguns ainda insistem nisso – ensinar que existia apenas uma resposta certa para cada questão apresentada. Quem não conseguisse chegar ao resultado apontado pelo mestre, falhava – e ponto final. Aquele que respondesse da forma esperada, ganhava pontos e a admiração de todos.

Quando erramos, ficamos alerta, tentamos descobrir onde foi que erramos e o que é necessário para acertar na próxima vez

Tal constatação nos leva a refletir que, desde cedo, somos programados a não permitir que o erro aconteça, quando, na verdade, o correto seria sinalizar para crianças e jovens que todos têm a permissão de errar – não para transformar o erro em hábito, mas como parte de um processo natural de aprendizado que começa na escola e se estende para a vida. Essa cultura de que o erro é algo nocivo produz resultados desastrosos para a sociedade.

Entre os desafios diários que líderes enfrentam à frente de uma equipe, organização ou país talvez um dos mais difíceis seja aprender a lidar com os próprios erros. Quantos gênios e prêmios Nobel erraram antes de acertar? Alguns dos negócios mais bem sucedidos do mundo foram criados por pessoas que já faliram outras empresas antes. Startups promissoras no atual cenário tecnológico estão em permanente mudança porque conseguem enxergar que os erros que surgem pelo caminho podem ser uma oportunidade de virada para um novo recomeço. Precisamos aceitar, sem resistências, que cometer erros faz parte da natureza humana. Aprender a enxergá-los de maneira positiva é o primeiro passo para errar cada vez menos.

Vamos agora voltar nossa reflexão para o contexto escolar e as crianças. O processo de desenvolvimento infantil envolve aprender e isso só se concretiza quando a criança tem a oportunidade de experimentar e descobrir. O que pais e educadores precisam ter em mente para ajudar essa criança no caminho das descobertas é que, de início, é normal e até esperado que ela não acerte e não consiga ter êxito em suas tentativas. E a forma como as primeiras falhas são encaradas é que será determinante para o sucesso futuro. Quando os adultos fazem com que essa criança enxergue que o erro é aceitável, ela se sente menos pressionada para descobrir, por conta própria, o que pode ou não fazer e o que deve mudar para conseguir resultados melhores.

Do mesmo autor: O retorno para a rotina escolar (artigo de 26 de fevereiro de 2015)

Leia também: A escola que temos e a que queremos (artigo de Ademar Batista Pereira, publicado em 13 de outubro de 2017)

Tomemos como exemplo a matemática. A resistência em relação à disciplina vem da crença de que é difícil demais e não é qualquer um que consegue ser bem sucedido na resolução das questões e conceitos matemáticos. E como, culturalmente, temos o receio de errar, a reação natural é resistir ou fugir da matéria. Não por acaso, o Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes mostrou que em 2016 o Brasil ocupava a 66ª colocação no ranking que avalia o desempenho dos jovens em matemática – a colocação mais baixa alcançada pelo país nas últimas cinco edições do programa.

Mas, e se os alunos perderem o medo de errar? Podemos, com certeza, melhorar essa realidade. O PED Brasil, um programa desenvolvido na Universidade de Stanford em parceria com o Centro Lemann, propõe novas abordagens para o ensino da disciplina, mostrando o quão produtivo pode ser o aprendizado quando o erro é tratado em sala de aula como algo positivo. Sim, positivo! Afinal, é possível aprender muito mais com o erro do que com o acerto. Quando erramos, ficamos alerta, tentamos descobrir onde foi que erramos e o que é necessário para acertar na próxima vez. Portanto, fica aqui um convite para pais e educadores: vamos ajudar nossas crianças e jovens a enxergarem no erro uma oportunidade para fazer sempre mais e melhor?

Celso Hartmann é diretor-geral do Colégio Positivo.
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