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| Foto: Lluis Gene/AFP

Tenho a honra e a responsabilidade de ter nascido em uma família que há séculos preza por valores como verdade, honestidade, honradez, simplicidade e crença no que é certo e para o bem, mesmo que este não seja o caminho mais fácil para prosperar. Assim tem sido desde os tempos de meus tataravós, e trabalho para que assim continue com os meus filhos.

Tenho acompanhado as novas tendências globais e uma delas, em especial, me chamou muito a atenção: a criação da palavra “pós-verdade” e sua escolha como a “palavra do ano” de 2016 pelo famoso dicionário Oxford. Primeiramente, pela natureza dos fatos, pois em princípio a palavra é no mínimo intrigante. Em segundo lugar, preciso entender como lidar com esta nova realidade do mundo moderno e como criar meus filhos em uma sociedade na qual as verdades não mais correspondem aos fatos, na qual a opinião simplesmente prevalece e ponto.

Preciso entender como criar meus filhos em uma sociedade na qual as verdades não mais correspondem aos fatos

Não se pode ser ingênuo. A mentira sempre existiu desde que o mundo é mundo. Já ganhou guerras, já fechou acordos, já inspirou grandes movimentos e ideologias. Faz parte do dia a dia das pessoas. O que está acontecendo agora é diferente. As redes sociais catalisaram o potencial que ela por si só já tinha. Virou uma arma poderosa. É a afirmação de que a mentira vale mais do que realmente pesa, mais até que a própria verdade, que é glamourosa e que recompensa! Afinal, a pós-verdade pode ser entendida por alguns como uma evolução da verdade, o que de fato não é. Definitivamente, não é e não pode ser.

Ricardo Campelo Magalhães, consultor financeiro, escreveu: “Vivemos tempos curiosos, em que a verdade já não é o que era. À esquerda como à direita, a ciência da persuasão é hoje mais importante que o rigor dos fatos e conceitos frios como números e matemática”. Atualmente, os fatos importam menos que aquilo em que as pessoas escolhem acreditar – ou seja, são tempos em que a verdade foi substituída pela opinião.

E como isso pode nos impactar? Reputações de pessoas e empresas, construídas e mantidas a duras penas durante décadas ou mesmo séculos, podem ser arruinadas em minutos. Pessoas mal intencionadas, radicais em busca de poder e mercado, de forma fraudulenta, disseminam e tornam virais vídeos, notícias e documentários que acabam com produtos, serviços e pessoas. Estudos indicam que mais de 70% das notícias que hoje são colocadas nas redes sociais são falsas. Somado a isso, nos deparamos com pessoas que leem e analisam pouco e que, mesmo sem ler, compartilham como se verdade fosse, sem medir os possíveis impactos.

Leia também:Nossas convicções: o poder da razão e do diálogo

Leia também:Nem tudo o que cai na rede é fato (editorial de 7 de janeiro de 2017)

Parece besteira, mas empresas de jornalismo estão criando departamentos de verificação de notícias para não serem corresponsáveis pela disseminação de notícias inventadas. Organizações de todas as naturezas hoje têm a necessidade de verificar várias vezes dados de leitura de mercados, de posicionamento de produtos e marcas e até dados compartilhados por associações em teoria confiáveis. Dados econômicos mascarados e adulterados, somente para que sejam bem vistos e aprovados pela grande massa.

Charles Darwin definiu que sobrevive aquele que se adapta melhor. Será que, se ele fosse vivo hoje, diria que sobrevive quem influencia e molda a opinião pública melhor?

E você, qual a sua opinião? Eu preferia a palavra do ano de 2015 da Oxford, o emoji “Chorando de Alegria”. Ou será de tristeza, depois de 2016? Fica a reflexão!

Eduardo Müller Saboia é técnico e engenheiro industrial mecânico, pós-graduado em Gestão Industrial e Business Management e mestre em Administração Estratégica.
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