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Reconhecidamente, a drástica queda de competitividade do setor industrial operante no Brasil está presente na mesa de discussões e proposições das comunidades acadêmica e empresarial e do próprio Executivo federal. A participação do parque de transformação na renda interna do país caiu de 17,8%, em 2004, para 11,4%, em 2015.

A avaliação corrente elenca a interferência de um grupo de elementos desfavoráveis relevantes, conhecidos como aspectos sistêmicos, com ênfase para a elevada carga tributária, o substancial custo do capital, expresso nos juros estratosféricos, a precariedade infraestrutural, o câmbio ainda apreciado, a excessiva burocracia, a insuficiência de inversões em ciência e tecnologia, a escassez e o alto custo do fator trabalho, dentre outros entraves.

A solução para o problema, na visão protecionista, requereria o aumento das alíquotas dos impostos de importação e a concessão de incentivos tributários e de subsídios, numa espécie de restauração das principais bases do modelo de industrialização por substituição de importações, vigente no Brasil entre o começo dos anos 1930 e o fim da década de 1970.

Há de se atentar para os fatores determinantes das discrepâncias de custo e produtividade

Embora seja importante a consideração da necessidade de correção daquelas variáveis de eficiência, que afetam a performance de todo o sistema de produção e transações, a observação parece inoportuna e, mais que isso, incompleta, por não incorporar, no conjunto de entraves, não a panaceia da racionalidade do mercado reinando soberanamente, mas os pontos derivados do funcionamento específico da microeconomia fabril da nação.

Mais precisamente, há de se atentar para os fatores determinantes das discrepâncias, muitas vezes apreciáveis, de custo e produtividade entre os distintos ramos de atividade e, no interior destes, entre as várias unidades industriais, fruto de diferentes posturas e táticas empregadas pelas organizações.

A esse respeito, um primeiro eixo de abordagem microcompreende o racional e firme posicionamento do negócio, especialmente em um país detentor de vantagens comparativas naturais quase que exclusivamente nas cadeias produtivas atreladas às commodities alimentares, minerais e metálicas. Nesse particular, certas companhias vêm perseguindo, de forma ferrenha, a aplicação de estratégias de mercado diferenciado, centrada em inovações tecnológicas, marcas específicas e contemporâneos patamares de serviços, capazes de anular majorações de despesas mediante maior agregação de valor nas etapas e processos.

Uma segunda fronteira, em contraposição aos defensores da reversão da liberalização comercial, corresponde ao encaixe pesado das corporações na internacionalização dos fluxos de produção e de comércio, priorizando a concatenação com supridores em escala global e ações voltadas à penetração em mercados novos e qualitativamente superiores nas exigências e especificações de demanda, o que facilita o desenvolvimento e a otimização de peculiaridades e competências pontuais na matriz de operações e transformação industrial.

Um terceiro eixo abarca a elevação dos níveis de eficiência com a utilização de modernas e disseminadas técnicas de produção e gestão. No campo dos métodos de produção, sobressaem a racionalização de linhas, a substituição de processos, a terceirização e a automação. No terreno da gestão, o salto está vinculado ao estabelecimento de planos de resultados, ancorados em metas, descentralização decisória, com a eliminação de degraus hierárquicos, e da aplicação de recompensas diferenciadas por méritos.

Por certo, com o clima macroeconômico atual, as chances do desencadeamento de posições empresariais mais ousadas ainda são exíguas, estando mais para uma situação de compasso de espera por uma política industrial abrangente, que priorize a combinação entre progresso técnico e geração de empregos, ladeada por reformas estruturais que propiciem a depreciação sustentada do real, desprovida de pressões inflacionárias.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é professor da FAE Business School.
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