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 | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

O que será da mulher do século 21? Referimo-nos à construção social e não ao gênero. Mais especificamente à mulher heterossexual. E o homem heterossexual é capaz de vida inteligente? Ou ele só pensa que a mulherada existe para se enquadrar em seus padrões?

Nossa hipótese é a de que, conforme nos tornamos mais livres, já não aceitamos a possibilidade de sermos “comidas” e nos interessamos pela descoberta do nosso próprio corpo. Podemos viver nossa liberdade sexual, às vezes com homens que entendem que sexo é consenso e não caça, às vezes com uns cuja mediocridade não conseguimos identificar a tempo.

Mas em algum momento a mulher do século 21 se pergunta “o que eu quero da vida?”, e a cada dia ela vai querer mais ser dona dessa vida inteira. Mas isso parece chato, não é? Histérico demais!

Será assim que casamentos abusivos acabarão. Filhos sem consentimento desaparecerão. O mercado de trabalho crescerá com mulheres construindo grandes carreiras. Famílias serão finalmente saudáveis, com pais e parceiros de verdade. Os homens entenderão que nunca foram oprimidos: as imposições sobre suas vidas são colocadas por eles mesmos.

O feminismo empurra as mulheres para a experimentação do que lhes der vontade. E os machos que continuarem achando que são o centro do universo serão identificados nos locais públicos como responsáveis pelo seu próprio fracasso.

Os homens nunca foram oprimidos: as imposições sobre suas vidas são colocadas por eles mesmos

A ideia da mulher sempre insatisfeita é um mito. Acontece que somos ensinadas a satisfazer os outros. Esperem a hora em que todas descobrirem que não precisam atender só às expectativas masculinas. Aí teremos toda uma geração de mulheres satisfeitas. Vai ser bom pra todos, paguem para ver.

Sim, vai ficar difícil para quem nunca quis nos entender. O feminismo faz da sororidade um laço social, mas, para dificultar, tem filósofo tonto que olha e não sabe reconhecer o machismo quando ele diz “bom dia, estou aqui na sua cara!”

É claro que a catarse que passamos a nos permitir obriga o homem a “se mexer”. Mas já não era hora?

O machista diz que evoluiu num ambiente mais violento, em que nunca lhe ensinaram o significado do “não”. Daí ser ele quem se sente castrado quando se fala em igualdade. Os meninos terão de se esforçar um pouco mais para entender que as mulheres não são objetos para “valer algum investimento”.

Tem aqueles que ficarão revoltados, esbravejando que não querem aderir à moda de tratar mulher dignamente, querendo ser politicamente incorretos porque isso é ser legal (tem coisa mais chata que machista querendo aprovação de outros machistas?), incapazes de reflexão, inseguros, tremendo diante da possibilidade de que alguém não os considere viris o suficiente só porque decidiram agir com respeito.

Na “ponta dos meninos”, o fato é que não existe coisa mais triste do que moleque imaturo quando se sente ameaçado. A espécie humana seguramente não acabará, mas acabarão os machos-hetero-narcisos e surgirão as mulheres que encontraram o seu lugar. Deus dirá: Ótimo! O machismo deu muito errado, melhor não procriar.

O homem do século 21, se quiser uma mulher ao lado dele, terá de aprender a ser empático. Menos resistência e mais diálogo. A mulher livre exige o respeito que o homem livre já tem.

Tuany Baron, graduada em Direito, é pesquisadora do Grupo Política por.de.para Mulheres (Uerj/UFPR). Paula Bernardelli, advogada e pesquisadora do grupo Política por.de.para Mulheres, é membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político e da Comissão Permanente de Direito Político e Eleitoral do Instituto dos Advogados de São Paulo.
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