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| Foto: C. Messier/Wikimedia Commons

Pode-se questionar quais foram as origens, ou os fatores preponderantes ou os marcos históricos a constituir determinantemente o que chamamos de cultura ocidental, mas inquestionável, a priori, é sua capacidade de pôr em questionamento o sujeito, sua existência e o que ou como ele conhece o mundo. É uma capacidade tão forte que, frente à colisão com culturas distintas, ouve-se vozes de que seremos aniquilados pela opressão desses estrangeiros. E essas vozes dizem uma verdade – mas uma verdade psíquica, emanada do primitivo medo humano de sucumbir ante a angústia de existir.

O ocidente é uma máquina eficiente na produção de incertezas, de aporias, de apontamento de lugares vazios

A máquina cultural ocidental, moldada no pensar greco-romano, aprimorada com a moral judaico-cristã e atualizada nas várias versões de modernidade, é, para nossa bem-aventurança, o maior instrumento opressor que existe. Oprime o engano, o ímpeto infantil de nossas mentes, o totalitarismo de pensamento político e nos move, com esse impulso, a construir um mundo que podemos possuir intelectivamente, por via daquilo que chamamos de arte, ciência e filosofia. Essa opressão, por certo, traz suas consequências, marcadamente a dor e a guerra – as quais, todavia, existiriam independentemente das atividades opressoras da civilização ocidental (salvo se acreditarmos na criatura edênica de um “bom selvagem”).

O ocidente é uma máquina eficiente na produção de incertezas, de aporias, de apontamento de lugares vazios, de faltas existências: e assim deve ser. A categorização franca de convicções entre falsas e verdadeiras, a possibilidade de abertamente dizer ao outro que um trabalho ou ritual é inútil ou desnecessário – fruto da liberdade individual de expressar o erro alheio – nos oprimiu a aceitar a fugaz transitoriedade do conhecimento, interditando-nos de gozar a ideia de um absoluto estático em nós mesmos, moldando nossas vidas a hiatos de existência entre momentos de angústia (amém!).

Se cogitarmos que desde a dialética socrática, passando pela ideia de existir uma recta ratio, escolástica e moderna, e até a quase-contemporânea paradigma da linguagem, fomos radicais em combater o conforto de pensar ter ou ter tido o Ser humano pleno e completo conhecimento sobre algo, pois o conhecer existe quando e se comunicado (tornado comum a um outro), encontraremos nossa maior fortaleza e casamata: uma dúvida opressora, resistente a tudo, inclusive a outro que diz não ter dúvida, e que não tolera posições intolerantes. Que assim sigamos!

Fernando Redede Rodrigues é defensor público.
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