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O boicote ao Queermuseu – evento onde crianças eram expostas a perversões que iam desde zoofilia até “experiências táteis” – e seu encerramento por parte do Santander provocaram ondas sísmicas de histeria progressista. Cidadãos indignados com a campanha de erotização precoce foram atacados com um caminhão de rótulos: nazistas, fascistas, censuradores, ultraconservadores. Curioso como não apenas a esquerda, mas também muitos ditos liberais participaram deste coice coletivo contra noções básicas de moralidade dentro da sociedade brasileira, hoje atribuídas ao conservadorismo.

É claro que demagogos da esquerda, apoiadores de ditaduras socialistas, são inimigos declarados do liberalismo. Mas os liberais progressistas têm preocupação mais genuína com os direitos individuais e uma ordem social que preze pela liberdade. Infelizmente, uma facção do movimento liberal brasileiro vem corroendo esta visão ao apostar numa imagem de “isentão”, nem esquerda nem direita, vendendo-se como “moderno”, tão distante da ideologia marxista quanto da cultura judaico-cristã.

Estes que acusam os brasileiros comuns de serem “censuradores” tentam intimidar o povo a se calar e não expressar o que pensa em praça pública

Primeiro problema: isso é historicamente falso. A dignidade humana, universal e inalienável, e a responsabilidade individual, fruto do livre arbítrio que nos dá a chance de escolher fazer o bem, estão inequivocamente atreladas à nossa tradição religiosa, a fonte de nossos mitos fundadores e moralidade. Os valores originados daí não apenas entram em harmonia com a ideia de sociedade livre como, de fato, basearam a civilização ocidental, o concreto ápice da autonomia individual e do florescimento da liberdade no mundo.

O segundo problema é que o termo “moderno” na verdade é uma fachada para impor a ideologia progressista dentro do liberalismo. Não apenas ignora-se o fato histórico como também o teórico: se o liberalismo pressupõe que o indivíduo é livre para escolher e expressar seus valores, a ideia de que ele é obrigado a apoiar ou mesmo se calar diante do que julga ser nocivo para si e sua comunidade é falsa. É legítimo que ele fale contra e boicote o pós-modernismo, idem para defender a moralidade e os valores tradicionais. Afirmar o contrário, como se o cidadão sob a ordem liberal fosse obrigado a portar-se como um revolucionário, é no mínimo ignorância e, hipótese mais grave, desonestidade intelectual deliberada.

Rodrigo Constantino: A evolução do Ocidente é indissociável do cristianismo (6 de setembro de 2017) 

A resposta dos liberais progressistas ao caso do Queermuseu não é só perigosa como injusta e danosa ao liberalismo. Se a defesa da exposição de crianças à bizarrice sexual é grave, negar a liberdade do cidadão de protestar e boicotar esta iniciativa é sabotar a causa. Uma das grandes virtudes liberais é o empoderamento de indivíduos, e ficou claro na ocasião que a liberdade a ser defendida era a de expressão. A “liberdade” de impedir críticas tem outro nome: censura.

Ironicamente, estes que acusam os brasileiros comuns de serem “censuradores” tentam intimidar o povo a se calar e não expressar o que pensa em praça pública. É como se ter opinião conservadora fizesse de alguém um cidadão de segunda categoria, indigno de participar do debate.

Opinião da Gazeta:Livres para rejeitar (editorial de 14 de setembro de 2017)

Carlos Ramalhete:A subversão dos idiotas (14 de setembro de 2017)

Mesmo sob intensa difamação, essas pessoas simples acharam que a proteção das crianças contra as doentias ambições dos expositores valia o custo. Perseveraram, e venceram a batalha.

Para além do feliz encerramento desta barbárie sob patrocínio estatal (na forma de renúncias fiscais), o caso do Queermuseu foi exemplar no que diz respeito à defesa civilizada de valores morais. Conservadores devem ser encorajados, mesmo pelos liberais progressistas, a lutar a favor de uma sociedade livre e contra o controle estatal sobre a cultura. Não se trata de preferir um conjunto de valores ou outros, mas reconhecer que a sociedade civil estará melhor decidindo estas questões por conta própria. Todo defensor da liberdade deve ter em mente que é melhor debater com seu vizinho que ter políticos e burocratas ditando o que podemos fazer.

Luiz Guilherme de Medeiros é diretor do Instituto Liberal do Centro-Oeste.
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