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Há quase 15 anos, em 2002, exercendo a presidência da Associação Comercial do Paraná (ACP), mergulhei de corpo, alma e cidadania na batalha contra a privatização da Copel. Ex-copeliano, engenheiro forjado nessa companhia, percebi, à época, que o governo Jaime Lerner, mesmo bem-intencionado, não podia colocar em risco o patrimônio de todos os paranaenses, duramente construído em mais de 50 anos.

Recebi inúmeras críticas, fui taxado de conservador, num período em que a privatização era a coqueluche do momento, e anti-governista. Mas, para mim, o argumento de que não se podia (e não se pode) dispor de patrimônio para preencher lacunas do caixa de governos, quaisquer governos, era indestrutível. Arregimentei parceiros nas classes empresariais e na sociedade organizada e, num grande mutirão cívico liderado pela ACP, vencemos o bom combate. Hoje, a Copel continua nas mãos dos paranaenses e é frequentemente apontada como uma das maiores e mais bem-sucedidas empresas brasileiras.

Nessa luta memorável, a maior que enfrentei em minha vida profissional, uma lição fundamental ainda permanece: para empreender qualquer batalha é necessário conhecer o outro lado, saber exatamente qual é o objetivo da ação de um governo que busca solução emergencial para colocar em dia suas contas.

Recorro ao passado para chamar a atenção para o presente, no momento em que o governo Beto Richa anuncia a edição de mais um ajuste fiscal para resolver problemas de seu fluxo de caixa e busca o aval da Assembleia Legislativa para vender ações da Copel.

A bem da verdade, há três meses o próprio governador Beto Richa convocou as principais lideranças empresariais ao Palácio Iguaçu – e eu tive a honra de ser convidado em nome do Movimento Pró Paraná – para expor uma situação grave do ponto de vista do nosso equilíbrio financeiro. Razões específicas à parte, o governo atribuiu o déficit à crise brasileira e deixou claro que não poderia arcar com os aumentos previstos para o funcionalismo estadual nem em 2016 nem em 2017. Diante de representantes das classes produtoras, as quais já vêm dando suas cotas de sacrifício – aumento de impostos em quase 100 mil produtos, decretado pelo ajuste fiscal de 2015–o governo foi taxativo: todos devem entrar com sua parte para resolver o problema, inclusive o funcionalismo.

Para empreender qualquer batalha é necessário conhecer o outro lado, saber exatamente qual é o objetivo da ação de um governo que busca solução emergencial para colocar em dia suas contas.

Nesses momentos, as lideranças empresariais, ávidas para que o equilíbrio nas contas governamentais seja retomado e, em consequência, o crescimento econômico, sempre se prontificam a colaborar. E assim foi feito. Mais uma vez as entidades, e o Movimento Pró Paraná entre elas, deram o voto de confiança necessário ao governo estadual.

Ao tomar conhecimento do pacote divulgado agora pelo governo Beto Richa, no qual se coloca claramente a intenção de vender ações da Copel para contribuir no equacionamento do déficit de caixa, concluo que faltou clareza e transparência na exposição feita às lideranças empresariais naquela tarde no Palácio Iguaçu pelo secretário da Fazenda, Mauro Ricardo. Minha experiência me permite chamar a atenção do governo Beto Richa–a quem não nego boas intenções para reequilibrar as contas estaduais–que o bom combate só tem chance de vitória quando há transparência na exposição de motivos e clareza nas intenções.

E o empenho das fileiras numa guerra só acontece quando se tem convicção absoluta de que estamos lutando do lado certo, pela coisa certa. O patrimônio da Copel é de todos os paranaenses, e deve continuar intocável. Do contrário, começa a se desenhar o cenário para uma nova edição da grande luta que, há 15 anos, manteve no Paraná a nossa maior companhia e toda a história de trabalho, esforço, investimentos e dedicação dos paranaenses em geral e dos copelianos, em particular, que a construíram.

Marcos Domakoski, empresário, ex-presidente da ACP e atual presidente do Movimento Pró Paraná.
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