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| Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Na semana passada, a Câmara dos Deputados votou pela arquivação da denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer. Um aspecto importante a ser analisado, observando as negociações que levaram ao resultado daquela votação, é seu impacto nas reformas em curso – reformas de que o país realmente precisa e que o governo pretende implantar. A princípio, a vitória de Temer na Câmara tenderia a ajudar, mas a situação não é tão simples assim: o andamento das reformas depende da colaboração do Congresso, e a experiência mostra que os congressistas colocam interesses pessoais acima do interesse nacional. Acrescente-se a isso que cada reforma tem seu viés impopular, e parlamentares não querem correr riscos eleitorais.

Normalmente, um governo com forte respaldo popular tem mais facilidade de receber apoio do Legislativo. Porém, isso não ocorre com o governo Temer: mesmo tendo sido vitorioso na Câmara, sua popularidade está em um dígito, fato que leva parlamentares a remar contra, visando benefícios pessoais, político-eleitorais ou de outro teor.

As reformas tem viés impopular, e parlamentares não querem correr riscos eleitorais

Há poucos dias, o bloco denominado “centrão” passou a usar a reforma da Previdência para exigir cargos, segundo informações de bastidores. Mais recentemente, o PSDB assumiu postura no mínimo incoerente: quando a situação de Temer estava incerta, antes da votação da denúncia, os tucanos ameaçavam desembarcar do governo e metade de sua bancada votou contra o presidente. Agora, o partido mudou de posição e anuncia que continuará aliado do governo – e, naturalmente, com seus ministérios e outros cargos nos escalões inferiores.

É com esse tipo de parlamento que o governo terá de negociar, o que indica futuro incerto para a aprovação das reformas, que são necessárias e inadiáveis – aliás, não somente essas em curso, como outras, que incluem a tributária, política, eleitoral, fiscal e do Judiciário.

Leia também:Temer e o preço das reformas (editorial de 6 de agosto de 2017)

Leia também:O encolhimento do capitalismo (artigo de José Pio Martins, publicado em 4 de agosto de 2017)

Enquanto o Congresso não pensar grande e entender que seu importante papel é trabalhar em favor do país, do povo, independentemente de quem seja o presidente ou que popularidade tenha, cada projeto de interesse nacional será oportunidade para estabelecer um balcão de negócios. Lamentável, mas é a realidade, enquanto não se faz a maior de todas as reformas: da mentalidade, da ética e do patriotismo dos políticos.

Luiz Carlos Borges da Silveira, empresário, médico e professor, foi ministro da Saúde e deputado federal.
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