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Felipe Lima

A Igreja lança todos os anos, no tempo da Quaresma, um tema na linha social para a nossa conversão e que gere vida às pessoas. Na perspectiva do papa Francisco e de sua encíclica Laudato Si (“Louvado seja”), que trata da ecologia integral, o tema da Campanha da Fraternidade deste ano será “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, com o lema “Cultivar e guardar a criação”, baseado em Gênesis 2, 15.

Nos biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampas e Pantanal – existe muita vida e muita cultura, mas também muita exploração desordenada. Assim, a realidade da exploração tem levado a uma saturação e cansaço da própria natureza. A proposta do papa Francisco, na encíclica Laudato Si, é por uma ecologia integral, ressaltando a dignidade da pessoa humana e o respeito à natureza. Não é uma questão apenas de defender o meio ambiente, mas de defender também a pessoa humana tão ameaçada por tantas realidades. “A cultura da morte” ameaça o humano e sua dignidade, e também destrói a natureza, não respeitando a biodiversidade.

A Igreja Católica tem levantado a voz profética a respeito do valor da vida humana e da natureza, de modo especial na defesa dos mais pobres. Neste sentido, a Igreja aponta as causas que levam a vida a ser tão vulnerável, e ao mesmo tempo aponta caminhos de superação. A reflexão é feita à luz da fé, que exige um compromisso ético de cada pessoa de boa vontade na defesa de um mundo melhor.

A Igreja pede uma ecologia integral, em que a pessoa e a natureza sejam respeitadas

No histórico das Campanhas da Fraternidade, o tema da defesa da vida e do meio ambiente tem estado presente: em 1986, a questão da terra; em 2004, da água; em 2007, da Amazônia; em 2011, “vida no planeta”; e, em 2014, “Casa comum, nossa responsabilidade”. Todos esses temas foram tratados na perspectiva da dignidade humana, da defesa dos oprimidos e de vida digna para todos.

A Campanha da Fraternidade intenta ajudar a edificar uma cultura de fraternidade, ressaltando os princípios de justiça, denunciando ameaças e violações contra a dignidade humana e promovendo a solidariedade. Esta abordagem é urgente, porque em nosso país a injustiça social ameaça milhões de vidas, o poder econômico é retido nas mãos de poucos e pouco se promove na linha da promoção humana e da dignidade dos desvalidos.

A campanha de 2017 também busca construir um novo paradigma econômico-ecológico que atenda a todas as necessidades de todas as pessoas e famílias, respeitando a natureza. Ela procura levar ao compromisso as autoridades públicas para que assumam a responsabilidade social com o meio ambiente e a defesa dos povos oprimidos.

Nesta campanha, o objetivo é “cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho”. Esta caminhada é feita em mutirão articulado com outras igrejas, organizações da sociedade civil, centros de pesquisa e todas as pessoas de boa vontade.

Todas as paróquias brasileiras e entidades católicas, além de várias igrejas cristãs, estarão trabalhando a temática da defesa da vida e da fraternidade a partir desta Quarta-Feira de Cinzas. A cerimônia das cinzas recorda que todos nós necessitamos de conversão. “Convertei-vos porque o Reino de Deus está próximo” (Mt 3,2). A nossa conversão passa também pelo respeito à criação de Deus, que é a pessoa humana e a natureza.

A Campanha da Fraternidade é um ato profético da Igreja na proclamação da dignidade humana e na defesa de uma ecologia integral, em que a pessoa e a natureza sejam respeitadas. É importante que nós nos unamos na busca de um mundo melhor.

Joaquim Parron, padre missionário redentorista, é mestre em Educação, doutor em Ética Social pela Catholic University of America (Washington) e professor na Faculdade Claretiana, em Curitiba.
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