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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

É comum entre economistas comparar o voo da águia com o da galinha: o primeiro, referindo-se a uma trajetória de longo prazo de crescimento econômico sustentado, caracterizada pela expansão permanente de investimentos e da oferta; e o segundo, a uma situação de curto prazo, de caráter passadiço e normalmente associada a aumentos na demanda.

A alegoria decorre de que águias voam a grandes alturas e percorrem longas distâncias, e galinhas voam poucos metros e baixo. Surge, então, a pergunta relevante: a recuperação de nossa economia, o controle da inflação e a trajetória descendente da taxa básica de juros, que vêm se verificando há poucos meses, são permanentes ou estão condenadas a não serem mais do que uma bolha?

A chamada Nova Matriz Econômica, perpetrada pelo governo petista, uma salada heterodoxa de estímulos artificiais à demanda, taxa básica de juros falsamente baixa, controles de preços e tarifas, subsídios a grandes empresas amigas do governo, forte participação do Estado e fechamento da economia, apenas ratificou o que a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos vem apontando há mais de um século: o fracasso. Após um breve período, em que incautos imaginaram que a águia estava planando altaneira, mergulhou nossa economia na maior crise de sua história, infectando-a com as principais doenças econômicas, como inflação, desemprego, desinvestimentos, quebra de empresas e ausência de perspectivas. Em suma, tudo não passava de uma galinha não poedeira pulando a cerca.

Reformas estruturais não dependem da equipe econômica, mas do sistema político, sempre refratário à liberdade

Quando Temer assumiu, sua equipe econômica prontamente anunciou que colocaria o país nos eixos, com uma mudança no regime fiscal e importantes reformas estruturais, como a abolição da política de campeões nacionais do BNDES, cortes de ministérios e despesas, reformas trabalhista – para erradicar a decrépita república sindical – e da Previdência, abolição dos controles de preços e tarifas, abertura da economia, privatizações de estatais e redução da carga tributária e do peso do setor público na economia.

Como esperado, os agentes econômicos receberam essas notícias com bons olhos e houve numa reversão de expectativas. Em outras palavras, o novo time econômico conseguiu rapidamente frear o pessimismo generalizado e colocar a esperança de tempos melhores na ordem do dia. Após alguns meses, veio, enfim, a boa notícia, a da incipiente recuperação da economia e do emprego e a queda da inflação de preços.

Na metáfora, Henrique Meirelles e seus acólitos deixaram crescer as asas da galinha, que já voa alguns metros mais longe. Mas a má notícia é que a águia continua acorrentada, na angustiante espera da expedição do alvará de soltura anunciado pelo governo. De todo o prometido, o que de fato foi feito, além de uma reforma trabalhista incompleta e do presente esforço para colocar em votação uma reforma previdenciária claramente débil?

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Reformas estruturais não dependem da equipe econômica, mas do sistema político, sempre refratário à liberdade da águia e que vive uma gigantesca crise, com a agravante da desarmonia entre os três poderes. Muitos parlamentares estão envolvidos em investigações e processos, incluindo senadores, ministros próximos ao presidente, ex-ministros e o próprio chefe de Estado.

Assim, aprovar reformas não é apenas impopular, é impossível. Como fazê-lo, se o presidente, eleito pela atual oposição e, portanto, sem compromisso prévio com elas, bem como diversos de seus adjutores, estão envolvidos em graves denúncias e mais preocupados em se manter no poder? Como, sem base parlamentar e no oceano de corrupção em que o país está mergulhado, em meio a uma crise institucional e sabendo que o ano de 2018 será de eleições e, portanto, de diversos tipos de incerteza?

Portanto, o voo ainda é de galinha. E, dependendo do desenrolar da crise política e institucional, de quem será o vencedor no próximo ano e se terá base, até mesmo a simpática ave poderá ter como destino a panela.

Ubiratan Jorge Iorio, economista e diretor acadêmico do Instituto Mises Brasil, é professor associado da Uerj.
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