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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Todos os anos, os brasileiros, de uma forma geral, se deparam com uma questão que sempre será polêmica: o aumento da passagem do transporte coletivo, serviço essencial para o trabalhador brasileiro e para a qualidade de vida de qualquer cidade, uma vez que contribui para um trânsito melhor e menos estressante.

Nos últimos dias nos deparamos com uma discussão ainda mais polêmica, que é a questão de o governo subsidiar parte do valor da passagem para que o usuário pague menos. Qualquer um concordará comigo que, em um primeiro momento, é uma questão muito interessante, já que o beneficiário é o cidadão. Porém, creio que antes de pensarmos isso necessitamos entender e interpretar a realidade econômica de nosso país, para que possamos responder a pergunta-título desse texto.

Essa questão delicada surgiu nas últimas semanas na capital paranaense, em que a passagem passou de R$ 3,70 para R$ 4,25 – um aumento substancial de R$ 0,55; isoladamente, parece pouco, mas, para um trabalhador que usa todos os dias mais de uma condução, isso representa uma fatia importante de seus ganhos mensais.

O subsídio não seria uma forma de empurrar as responsabilidades para a gestão seguinte?

A responsabilidade econômica pelo transporte público

Seria socialmente injusto que os mais necessitados e de menor poder aquisitivo tivessem de sustentar este serviço público

Leia o artigo de Carlos Hardt, professor da pós-graduação em Gestão Urbana da PUCPR.

Vamos começar nossa reflexão com uma pergunta: o aumento da tarifa é necessário? Infelizmente, a resposta é sim, pois as empresas de transporte coletivo necessitam repassar os gastos que aumentam ao longo do ano. Por exemplo, o combustível e manutenção dos ônibus, e para manter ou melhorar a qualidade, o aumento justifica-se.

Mas o aumento tinha de ser tão grande?, questionará o leitor. É aí que entra o ponto polêmico da coisa.

Pensemos: em um país onde a economia é muito vulnerável às oscilações do mercado, o subsídio não seria uma forma de maquiar, enquanto se pode, um aumento de tarifa, empurrando as responsabilidades para a gestão seguinte? Ou uma tentativa sincera de ajudar o cidadão? Escrevo isso porque em Curitiba o aumento da passagem foi substancial, pois tal “benefício” foi cortado puramente para que o caixa do poder público não entre em colapso – ou seja, foi necessário. O peso cai nos ombros do gestor, que decide de forma responsável por não sacrificar o todo da cidade em prol de um ponto.

Obviamente que, como usuário do sistema de transporte, adoraria ver a passagem cada vez mais barata, mas há outros meios para isso, fora essa maquiagem. Se nosso sistema de transporte fosse realmente eficiente, grande parte dos trabalhadores dos grandes centros deixaria seus carros em casa para ir de transporte coletivo. O aumento da demanda por si só contribuiria para a manutenção, mas sabemos que essa não é nossa realidade, infelizmente. E pior: nossa realidade nos traz para uma disputa entre empresários e poder público em que a corda arrebenta sempre do lado mais fraco – motoristas e usuários. Pois, para forçar o governo a aumentar a tarifa ou mesmo melhorar o subsídio, os empresários deixam de pagar salários, forçando greves e prejudicando quem mais necessita do transporte.

Precisamos crer que as novas gestões municipais deixarão de lado um pouco essa velha forma de fazer política e chegarão a um acordo profissional que dê uma basta nesse jogo. Dar condições mais dignas aos nossos trabalhadores é uma necessidade real, mas não vejo no subsídio das passagens uma alternativa viável, pois, quando este não pode ter uma continuidade, o usuário é o mais prejudicado com aumentos, digamos, fora dos padrões.

Glavio Leal Paura, especialista em trânsito e mobilidade urbana, é professor dos cursos de Engenharia da Universidade Positivo (UP).
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