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| Foto: Dan MacDonald/Free Images

Vivemos em um mundo cada vez mais impulsionado pela ciência e dependente da tecnologia. Da água que bebemos ao jornal que lemos, nas atividades mais banais e nas mais sofisticadas, a nossa vida está atrelada à capacidade científica da humanidade. Sem nem mesmo perceber, obtemos conforto e praticidade por meio dos avanços científicos, mas também geramos pressão e degradação sobre o meio ambiente. Essa dupla ignorância, tanto da origem do benefício quanto da geração do problema, ocorre devido à falta de incentivo que recebemos ao longo de nossas vidas no que diz respeito à alfabetização científica.

Diferente do estereótipo “einsteiniano” que a maioria das pessoas tem do cientista e da ciência, ela é simplesmente a curiosidade humana moldada na forma de raciocínio, uma maneira única que temos de interrogar o universo frente à falibilidade da compreensão humana. O cientista, por sua vez, não é nada mais que uma pessoa curiosa que busca entender as questões pertinentes ao universo que o cerca por meio do ceticismo e da experimentação. Todo esse processo de curiosidade, experimentação e descoberta é algo fundamental em nossas vidas e está presente em nós desde o nascimento.

Quem está executando a ciência e a tecnologia em uma democracia, se as pessoas não sabem nada sobre isso?

Pensemos, por exemplo, nas crianças e no que elas fazem. Elas exploram cientificamente o ambiente à sua volta, virando, abrindo, cheirando, mordendo e cutucando as coisas. E o que nós, adultos, fazemos? Evitamos que esses estímulos de curiosidade se revelem. Nós investimos um ano ensinando nossas crianças a andar e falar, e passamos o resto de suas vidas dizendo para sentar-se e calar. Que tipo de ambiente é esse? Desde as nossas casas inibimos a alfabetização cientifica do cidadão.

Qual é o perigo disso tudo? Quando essa pessoa chegar ao momento formal da aprendizagem, dirá “Eu não sou bom nisso, eu não quero saber nada sobre isso”. E assim, tendo em vista que nós organizamos uma sociedade baseada na ciência e tecnologia em que ninguém entende nada sobre esses assuntos, quem, então, são as pessoas que tomam todas as decisões sobre ciência e tecnologia e que vão determinar o nosso futuro? Quem está executando a ciência e a tecnologia em uma democracia, se as pessoas não sabem nada sobre isso? Mais cedo ou mais tarde, essa mistura inflamável de ignorância e poder irá explodir bem na nossa frente.

Isso não significa que todas as pessoas devam ser cientistas; o que importa é que todas sejam alfabetizadas cientificamente e que mantenham essa capacidade ao longo de suas vidas, independentemente da profissão que venham a seguir. O principal benefício disso é que esse conhecimento nos fortalece para não sermos pegos em desvantagem por outros que também o possuem, pois a ciência influencia nossa saúde, nossa segurança e todos os assuntos que estão à nossa frente politicamente. Se nós não somos alfabetizados cientificamente, é como se estivéssemos desprivilegiados no processo democrático e nem soubéssemos disso.

Flavio Tincani, biólogo, é doutor em Ecologia e Conservação.
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