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As enchentes e inundações foram os eventos naturais que ocasionaram a maior incidência de desastres no mundo entre 1900 e 2012, segundo o The International Disaster Database, totalizando 4.134 registros. As tempestades vieram logo em seguida, com 3.559 registros. Ao analisar os eventos hídricos no Brasil, o Centro Universitário de Estudos e Pesquisa em Desastres (Ceped) apontou que os alagamentos passaram de uma média de 4,5 eventos por ano, entre 1991 e 2001, para uma média de 42 eventos por ano, entre 2002 e 2012. Como possíveis causas estão a urbanização desordenada, aliada à ausência de um bom planejamento urbano, e os eventos climáticos extremos.

Por que, no Brasil, insiste-se em atuar mais na resposta aos desastres, se o valor de reconstrução custa muito mais que a prevenção?

No Paraná, temos constatado de maneira contínua os efeitos desses eventos hídricos. Entre 1991 e 2010, as inundações bruscas representaram a segunda maior causa de desastres no estado (388 casos registrados, atingindo 299 municípios) e os registros demonstram que, ano a ano, esses eventos têm ocorrido com maior intensidade e magnitude. Em 2011, os eventos ocorridos no Litoral do Paraná, denominados “Águas de Março”, em um curto período de chuvas concentradas que corresponderam ao dobro da média histórica para o mês, ocasionaram danos e prejuízos da ordem de R$ 210 milhões nos municípios de Morretes, Antonina, Paranaguá e Guaratuba. No ano seguinte, os eventos não foram tão pontuais como os ocorridos no Litoral, mas ocorreram em diversos municípios do estado e superaram em 16 vezes os recursos gastos em 2011 para reconstrução e recuperação.

Em junho de 2014, muitas cidades do Paraná passaram concomitantemente por enchentes, inundações e alagamentos. Em União da Vitória, o rio atingiu 8 metros de profundidade, sendo que seu nível normal é próximo de 2,5 m. Os prejuízos foram estimados em R$ 1 bilhão, sendo decretado estado de calamidade pública. Nesse mesmo período, outros 163 municípios foram atingidos pelas chuvas e, destes, 147 decretaram situação de emergência. Esses históricos têm se repetido e intensificado a cada ano, seja pela influência das mudanças climáticas ou outros fenômenos desencadeados pela maneira com que se faz a ocupação do solo, bem como pela maneira com que o espaço urbano se produz, com desmatamentos, sistemas de drenagens ineficientes e grandes áreas impermeabilizadas.

Iniciamos 2016 com problemas conhecidos desses meses mais chuvosos: alagamentos, inundações, quedas de barreiras, comunidades isoladas. Apesar de não se ter controle sobre as precipitações hídricas, segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira, a cada R$ 1 que poderia ser gasto em prevenção a desastres no Brasil, o Poder Executivo gasta R$ 37 para a recuperação e reconstrução. A grande questão é: Por que, no Brasil, insiste-se em atuar mais na resposta aos eventos, se o valor de reconstrução e/ou reparação após um desastre acaba custando muito mais que a prevenção e a mitigação dos danos dos mesmos? Não investir na redução de risco de desastres no período de normalidade, bem como em prevenção e mitigação de danos, faz com que os problemas ocasionados por eventos de origem natural, como inundações e alagamentos, se tornem crônicos, aumentando a magnitude dos prejuízos econômicos e socioambientais.

Patrícia Sottoriva é professora de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental da Universidade Positivo.
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