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A ação política no Congresso revela que o esporte preferido da maioria dos partidos é a briga com a lógica econômica. Divertem-se em culpar o neoliberalismo por qualquer coisa que lhes pareça ruim, o que é uma bobagem robusta, pois se há algo de que o Brasil jamais pode ser acusado é de ser um país liberal.

A expressão “neoliberalismo” foi cunhada para se referir a um liberalismo (novo) com face humana, isto é, uma economia livre de mercado com forte presença do Estado em ações sociais. Na América Latina não se pratica o liberalismo; praticam-se vertentes do dirigismo estatal: a patrimonialista, a intervencionista, a mercantilista. A acusação menos pertinente é justamente a de “neoliberalismo”, um rótulo imerecido.

Os políticos que gritam contra o neoliberalismo o fazem por má-fé ou por ignorância mesmo, ou ambas. Esses fariam bem em se informar sobre o grau de liberdade vigente na América Latina antes de acusar o neoliberalismo, como fizeram há poucos dias na 7.ª Cúpula das Américas, realizada no Panamá. Não faltaram críticas ao “demônio liberal”, feitas por políticos populistas que não são propriamente competentes na arte de identificar inimigos.

Sendo os seres humanos desiguais, o que nos resta é a administração humana da desigualdade

Estudos mostram que nenhum país latino-americano figura entre os países com maior liberdade econômica. O Brasil anda sempre rumo à lanterna do ranking. Entre os 100 países com maior grau de liberdade, figuramos no 97.º lugar. Um país que tem cinco fiscos, cujo governo gasta 41% do Produto Interno Bruto e mantém centenas de empresas estatais, tem a infraestrutura quase toda estatizada e sempre praticou um nacionalismo suicida – que gosta de tomar empréstimos e rejeitar investimentos estrangeiros – pode ser acusado de qualquer coisa, menos de ser liberal.

Os populistas latino-americanos denunciam corretamente a desigualdade e a pobreza, mas atribuem incorretamente ao liberalismo a culpa por esses males. Estão atirando no inimigo errado. As três principais causas da pobreza são o baixo investimento em educação básica, a inflação e a elevada carga tributária. Quanto à desigualdade, o governo tem sido o principal responsável por seu agravamento. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta o efeito concentrador de renda decorrente da ação do governo, inclusive pelos salários e aposentadorias especiais dos funcionários públicos, superiores aos do setor privado. O Ipea é um órgão do governo federal, logo, insuspeito.

Lamentar as desigualdades é obrigação humana. Mas, infelizmente, Deus não é socialista e fez os homens desiguais. Na mesma família podem nascer um Einstein e um Jack, o Estripador. Sendo os seres humanos desiguais, o que nos resta é a administração humana da desigualdade. Não raro, acusam o mercado pela desigualdade. Estão errados! O inverso ocorre. O mercado livre não é perfeito, mas é o melhor mecanismo de liberação das pessoas para o máximo exercício de sua criatividade; ele oferece o acesso, mas não garante o sucesso. Os populistas são perigosamente desinformados sobre o funcionamento da economia.

Outras doenças causadoras de pobreza são o estatismo, o protecionismo, o intervencionismo e o nacionalismo. Não são doenças liberais e todas são evitáveis. A pobreza brasileira não é destino; é fruto de nossa estupidez histórica e de nosso abuso do direito de errar, sempre em nome de ideologias fracassadas temperadas com ignorância econômica.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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