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| Foto: Marcos Corrêa/PR

À medida que se aproxima o início do prazo para a implantação da Reforma do Ensino Médio, já a partir de 2018, começam a ser construídas barreiras corporativistas, decorrentes da preocupação com a perda de certas condições estabelecidas, como atribuições de aulas e preservação de um currículo fixo, o que beneficia a manutenção de um modelo de aula comprovadamente improdutivo.

É importante reforçar as evidencias que comprovam o quanto ineficiente é o modelo ainda adotado no país. Além dos elevados índices de evasão e reprovação do Ensino Médio, assustam ainda mais os indicadores que comparam o desempenho dos estudantes brasileiros com os de outros países. Os principais vêm do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), uma avaliação internacional que mede o nível educacional de jovens de 15 anos por meio de provas de Leitura, Matemática e Ciências.

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O exame é realizado a cada três anos pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), entidade formada por 30 países que têm como princípios a democracia e a economia de mercado. Outros que não integram a OCDE também podem participar do Pisa, caso do Brasil, convidado pela terceira vez consecutiva por conta da sua baixa eficiência nos resultados, o que tem preocupado governos internacionais.

No último levantamento, os estudantes brasileiros ficaram em 63º lugar em Ciências, 59º em leitura e 66º em Matemática, entre 70 países. Os jovens de elite (25% mais ricos do Brasil) apresentam resultados inferiores aos 25% mais pobres da OCDE.

O desempenho, obviamente inferior ao da média, estagnou após apresentar melhora entre 2003 a 2012.

Outro fator importante da reforma relaciona-se a uma terminalidade efetiva que propicie empregabilidade para os estudantes no Ensino Médio, que é, para a grande maioria, a última etapa da educação formal, já que apenas 11,6% da população brasileira concluem o Ensino Superior. Essa taxa de não continuidade de estudos cresce a cada ano. Segundo o Censo da Educação de 2016, há apenas 8 milhões de brasileiros no Ensino Médio. Para o ENEM de 2017, houve 7,6 milhões de inscritos, dos quais apenas 2,2 milhões ingressaram no Ensino Superior.

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Dos 8 milhões de jovens matriculados no Ensino Médio, 1 milhão estão em escolas privadas. Destes, 80% se matriculam no Ensino Superior. Já entre os 7 milhões que frequentam a rede pública, apenas 20% chegam à universidade. Além das dificuldades vividas pelo segundo grupo quanto a suportar financeira e fisicamente os estudos por mais tempo, há entre esses estudantes dificuldade em identificar a graduação como meio de se aproximar do mercado de trabalho, o que se deve à educação formal, que mantém distantes “saber” e “fazer”. A discussão é histórica e afeta o modelo educacional brasileiro desde os tempos do chamado “científico”, quando o Ensino Médio tratava das ciências sem oferecer preparação para a vida profissional.

As opções de trajetórias formativas previstas pela reforma do Ensino Médio (Linguagens e Códigos e Suas Tecnologias, Matemática, Ciências Humanas e Suas Tecnologias, Ciências da Natureza e Suas Tecnologia e Educação Profissional) trazem a opção de estimular os estudantes e garantir uma continuidade no desenvolvimento de saberes adequados, seja à vida no trabalho, seja no Ensino Superior. Para os milhões de brasileiros que concluem o Ensino Médio a cada ano que não escolhem a graduação, a opção pela Educação Profissional ainda na formação integrada ao Ensino Médio é a garantia de se tornar capaz de produzir e gerar renda na vida adulta e impulsionar o crescimento da economia nacional.

Cesar Silva é presidente da Fundação FAT, entidade sem fins lucrativos que desenvolve cursos e treinamentos nas áreas de educação e tecnologia.
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