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Os sinais de que a economia enfrenta graves problemas são inúmeros e claros, como, por exemplo, as retrações do PIB e do emprego; a queda nas taxas de confiança dos empresários e consumidores (que já se encontram em patamares muito baixos); a elevação da inflação, com fechamento, em 2015, bem acima do teto da meta; a deterioração do perfil da dívida e do déficit público; e o crescimento da dependência de capitais externos, entre outros.

O atual cenário econômico é determinado, basicamente, por quatro fatores: erros sistemáticos de políticas econômicas adotadas a partir do segundo mandato do governo Lula; cenário externo debilitado, com efeitos relevantes nos preços das commodities; fragilidade política do Poder Executivo, decorrente dos escândalos de corrupção e inabilidade política da presidente e de seus assessores mais próximos; e medidas de ajuste adotadas recentemente.

O quarto item nada mais é do que uma consequência do primeiro, mas que agrava o cenário econômico no curto e médio prazo. As medidas de corte de gastos e estímulos fiscais, além dos aumentos de impostos e da taxa de juros, ainda vão afetar o desempenho da economia brasileira ao longo do segundo semestre de 2015, talvez com maior força, visto que os efeitos dos juros demoram de seis a nove meses para serem sentidos com toda a intensidade. Cabe lembrar que ainda estamos em um ciclo de elevação dos juros básicos da economia.

Existe, ainda, uma dificuldade no ajuste fiscal decorrente do enfraquecimento do Executivo e da própria economia brasileira, com redução da arrecadação nas diferentes esferas do governo. Dessa forma, o superávit primário provavelmente ficará aquém do planejado pelo Ministério da Fazenda, o que também retarda a recuperação da economia.

Os efeitos dos juros demoram de seis a nove meses para serem sentidos com toda a intensidade

O cenário externo ainda é de instabilidade, com perda de dinamismo da economia chinesa e grande incerteza proveniente da Grécia em um momento em que a economia da Europa Ocidental ainda se encontra fragilizada.

Por fim, a debilidade do Poder Executivo ainda é uma incógnita, podendo ainda se deteriorar de acordo com as delações premiadas que estão sendo realizadas pelas pessoas envolvidas na Operação Lava Jato. O problema é que o Executivo está com uma capacidade muito reduzida para a realização das reformas necessárias, e uma piora nesse cenário pode paralisá-lo completamente.

Portanto, as causas do cenário econômico pessimista ainda estão presentes e podem piorar ainda mais a situação da economia brasileira ao longo do segundo semestre de 2015, e até mesmo do primeiro semestre de 2016. Mesmo que as reformas sejam bem sucedidas e que as exportações comecem a reagir à depreciação do real e à recuperação da economia americana, a melhora ao longo dos próximos anos será lenta e não é improvável que amarguemos mais uma década perdida, visto o fraco desempenho econômico desde 2012.

Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da FEA-RP/USP e pesquisador do CNPq.
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