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Dortmund, na Alemanha, tem 600 mil habitantes. O Borussia, que representa a cidade, hoje está bem distante da disputa do título alemão e ficará satisfeito se permanecer na Primeira Divisão. A temporada é difícil, mesmo para o vice-campeão da Uefa Champions League em 2013. Apesar do momento delicado, o bom senso ensina que a recuperação técnica da instituição é uma tarefa dela própria.

Mesmo assim, o estádio Signal Iduna Park mantém seus 80 mil lugares ocupados em todos os jogos, há várias temporadas. Todos sabem que a confiabilidade da liga alemã é fundamental para a reabilitação do clube. Não será mudando a fórmula de disputa da competição que as coisas vão melhorar.

Criada para substituir competições regionais, a Bundesliga é um sucesso, mesmo sem a quantidade de clubes grandes que encontramos no Brasil. Temos potencial para criar o maior campeonato de futebol do planeta, mas preferimos perder tempo com questões secundárias, como a volta do mata-mata.

Lamentavelmente, ainda não conseguimos evoluir a ponto de perceber que o sucesso de um clube é resultante de um conjunto de fatores, dos técnicos aos comerciais. O sistema de pontos corridos premia o planejamento e determina organização aos competidores.

Todos merecem uma segunda chance

Defender um Campeonato Brasileiro com o bom e velho mata-mata parece-me um tanto quando desafiador – afinal de contas, tenho a impressão de que faço parte de uma minoria bem pequena que defende uma mudança no formato do principal torneio esportivo do país.

Leia o artigo de Henrique Pelosi, consultor de marketing esportivo

Quando todos se enfrentam, sem invencionices, dificilmente o melhor trabalho deixará de ser premiado. O normal, então, seria que todos tentassem se organizar e não impor a sua incompetência aos demais.

No lugar de estimular a competição por uma gestão melhor, a saída de sempre é o fantasma do mata-mata, cujo objetivo prático é misturar o benfeito com o malfeito, no sentido de transformar a boa administração num acaso e dar oportunidade a quem não soube trabalhar.

Talvez a ideia seja brilhante do ponto de vista do marketing. As fases decisivas são emocionantes, promovem os fracos, eliminam favoritos, geram grandes arrecadações e aumentam a audiência da tevê, que vem despencando. Mas será que isso vai salvar o futebol brasileiro? Não custa lembrar que a crise de hoje começou lá atrás, nos tempos do mata-mata!

E o ponto de vista técnico, alguém já refletiu sobre ele? No médio prazo, os pontos corridos podem salvar muitos clubes da falência, como alguns já perceberam. Essa fórmula, nas Séries A e B, deve ser a base do calendário nacional, pois os demais já são disputados no mata-mata, como os estaduais, a Copa do Brasil, a Sul-Americana e a Libertadores.

Você sabe por que a Bundesliga tem a melhor média de público do planeta? Simples: os gramados são bons, os estádios são ótimos, o torcedor é bem atendido, o ingresso não tem custo exorbitante, a seleção não desfalca as equipes, as federações não tomam dinheiro dos clubes e o sistema se mantém. E os investidores têm segurança para colocar seu dinheiro em uma competição sólida e organizada, na qual os torcedores confiam.

Se você quer mudanças, olhe para os estaduais, que não atendem às necessidades dos grandes e têm acelerado a morte dos pequenos. Ao final deles, 12 mil jogadores serão demitidos. E você ainda acredita que o problema do futebol esteja na fórmula do Brasileirão?

O mata-mata como solução é simplista demais, uma enganação. Quem realmente busca alternativas de verdade deve ajudar a substituir a administração retrógrada do esporte por medidas estruturantes que possam premiar o acerto e não o erro.

Paulo Calçade é jornalista dos canais ESPN.
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