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Logo que José Serra foi nomeado para o cargo de Ministro das Relações Exteriores pelo governo interino de Michel Temer, em maio de 2016, o chanceler declarou que o Itamaraty deixaria de refletir “preferências ideológicas de um partido e de seus aliados no exterior”. Após quase quatro meses como ministro, Serra tem conduzido no rompimento das tradicionais diretrizes e vetores que orientaram o processo de formulação e implementação da política externa brasileira desde a redemocratização do país, em 1985.

Temer e Macri tal qual Lula, Dilma e Kirchner, nada mudou

Cogitar o bloqueio da presidência venezuelana de um bloco que possui mecanismos legítimos e democráticos de controle, nada mais é que mais do mesmo, é lançar mão das mesmas armas estúpidas dos governos anteriores alinhados à esquerda

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Iniciativas como rever o voto na 199ª Sessão da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) no sentido de não apoiar mais o Estado da Palestina; reduzir o número de embaixadas brasileiras no exterior; investir em acordos bilaterais ao invés de acordos multilaterais no âmbito da Organização Mundial de Comércio; afastamento das relações do governo brasileiro com países como Cuba, Bolívia e Venezuela; representam, por sua vez, na quebra da continuidade das principais agendas internacionais adotadas pelos governos anteriores desde a redemocratização do Brasil.

A mais recente polêmica refere-se a crise instalada no Mercosul pelo fato do ministro Serra defender que a Venezuela não poderia assumir a presidência do bloco por não cumprir a Cláusula Democrática, estabelecida pelo Protocolo de Ushuaia, em 1998. O chanceler brasileiro tem exigido que para a Venezuela ser membro efetivo do bloco, o país deveria convocar um referendo para a realização de novas eleições, de forma a cumprir esta cláusula. No entanto, tal medida poderia ser aplicada também ao Brasil, uma vez que o processo de impeachment de Dilma Rousseff se caracterizaria no descumprimento da cláusula democrática do Mercosul, caso não haja a real comprovação do delito causado pela presidente.

Com o apoio da Argentina e do Paraguai, Serra conseguiu que a atenção fosse direcionada para a Venezuela, alegando que a entrada do referido país no Mercosul ocorreu por meio de um golpe orquestrado pelo governo anterior brasileiro devido a afinidades político-ideológicas. Destacamos que a aproximação do Brasil com a Venezuela não fora iniciada no governo Lula, mas sim no de Fernando Henrique Cardoso, em que este enviou tropas brasileiras para auxiliar no controle de uma greve geral no território venezuelano. O crescente diálogo e entendimento entre os presidentes Hugo Chávez e Lula, respectivamente, intensificou as relações entre os países, contribuindo para que a Venezuela solicitasse sua entrada como membro do Mercosul em 2006, oficializada em 2012, com a suspensão do Paraguai no bloco, único país que ainda não tinha ratificado o ingresso do país.

Em que pese as dificuldades e desafios que marcam o processo de aprofundamento de integração econômica do Mercosul, desde o governo Collor o bloco tem sido considerado instrumento relevante para a inserção internacional brasileira. Ao impedir a Venezuela de presidir o Mercosul, o governo brasileiro tem contribuído na paralisia do bloco devido a ausência de uma liderança bem como na redução da cooperação e da solidariedade entre os países da região, aumentando a insegurança e a desconfiança entre os mesmos.

Janiffer T. Gusso Zarpelon é doutora em Sociologia Política pela UFSC e professora do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba; Rafael Pons Reis é doutorando em Sociologia Política pela UFSC e professor do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
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