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Domingo, 3 de maio de 2015: os curitibanos bem que poderiam aproveitar a visita de um Prêmio Nobel à cidade para declarar Curitiba “cidade da paz”. Economista por formação, trata-se de alguém que enxerga na adversidade oportunidades para criar novas formas de fazer negócios e de organizar as forças produtivas para diminuir as diferenças sociais e econômicas, promover o desenvolvimento das comunidades, estimular o empreendedorismo, a geração de renda, empregos e dignidade.

Este homem é Muhammad Yunus, cidadão do mundo, reconhecido e premiado por propor um mundo sem pobreza. Tornou Bangladesh, seu país natal, e os seus conterrâneos mais pobres laboratório para testar na realidade os dogmas teóricos da ciência econômica e lidar com a escassez de maneira a criar mais riqueza. Desenvolveu um sistema simplificado e eficaz de concessão de microcrédito; criou o Banco do Povo (Grameen Bank), financiou milhares de empreendedores individuais – em sua imensa maioria mulheres pobres, chefes de família e únicas mantenedoras de sua prole –, lançando as bases de uma rede de confiança nas comunidades beneficiadas. Na sua imensa criatividade, tornou os emprestadores sócios do próprio banco, donos do capital.

Seu método foi copiado em escala no mundo todo, incluindo países desenvolvidos. Em cerca de 30 anos desde sua implantação são centenas de milhões de dólares de financiamento a milhões de indivíduos pobres, com taxa quase nula de inadimplência. Um sucesso no mundo das finanças.

É preciso fomentar o empreendedorismo e o investimento social privado em projetos inovadores

Percebendo as limitações impostas pelo capitalismo tradicional altamente concentrador de riquezas do mundo moderno, Yunus foi além ao propor uma nova forma de fazer negócios: empresas lucrativas voltadas para a produção de bens e serviços às pessoas situadas na base da pirâmide social, das classes C, D e E; organizações econômicas nas quais o componente da inovação tecnológica leva à obtenção de produtos e serviços com qualidade a preços muito baixos, no limite da capacidade de compra desta camada da população. Para Yunus, os indivíduos deste grupo social são como bonsais: limitados em seu desenvolvimento pelas armadilhas impostas à sua capacidade de obter educação, saúde, saneamento, moradia, qualificação para o trabalho, dignidade e demais benefícios de um progresso econômico que costuma não chegar a todos de maneira igual.

Como quebrar essa barreira? Yunus ensina que é preciso criatividade e intencionalidade. Não só o crédito em pequena monta a quem não atinge os critérios para abrir uma conta bancária e não tem bens para dar em garantia. É preciso fomentar o empreendedorismo e o investimento social privado em projetos inovadores, colocar o capital financeiro em negócios lucrativos cujo core business seja medido em impactos sociais relevantes, mensuráveis e replicáveis em escala: os negócios sociais.

Ambientes em que são mantidas as desigualdades socioeconômicas são propícios à marginalidade e à violência num ciclo vicioso geração após geração. Poucos conseguem escapar da sina. Para os demais, fica a cada dia mais difícil conviver com essa situação.

Muhammad Yunus vem falar de suas experiências como empreendedor, sensibilizar outros empreendedores e investidores a “tirar leite de pedra”, prosperar e estimular o desenvolvimento, contribuindo para um ambiente de paz. Homem de visão, ele sabe como fazer a diferença.

Ana Lucia Jansen de Mello de Santana, economista e professora na UFPR, é coordenadora do Projeto Empreendedorismo com foco em Negócios Sociais e do Congresso Internacional Negócios Sociais e Empreendedorismo, que ocorre em Curitiba em 3 e 4 de maio.
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