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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Vários modelos de negócios vêm mostrando ao mundo que desenvolvimento e conservação da natureza têm uma forte relação, devem andar juntos e, diferentemente do que se pensava, não barram o desenvolvimento da economia. Ao contrário, podem ser rentáveis. Bons exemplos dessa aliança vêm do setor de turismo, com o turismo ecológico e o ecoturismo.

Atualmente, o turismo ecológico, que se resume a atividades de lazer em áreas verdes, segundo definição da Organização Mundial de Turismo (OMT), cresce de 15% a 25% ao ano. Em todo o mundo, 10% dos turistas buscam esse tipo de atração. Para estimular o mercado de turismo em áreas naturais, a Organização das Nações Unidas (ONU) determinou que 2017 será o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento. Isso porque essa modalidade de turismo movimenta bilhões de dólares por ano em consumo dos turistas, o que motiva a diversidade de produção de bens e serviços e possibilita o lucro e a geração de emprego e renda.

Este comportamento global também ocorre no Brasil. A busca por atrativos turísticos que proporcionam contato com a natureza tem um impacto relevante na economia do país. Uma tese de doutorado apresentada durante o Congresso Mundial da Conservação, realizado em setembro de 2016 no Havaí, revelou que o turismo em Unidades de Conservação (UCs) no Brasil movimenta aproximadamente R$ 4 bilhões por ano, gerando 43 mil empregos e agregando R$ 1,5 bilhão ao Produto Interno Bruto (PIB). Em abril do mesmo ano o Serviço de Parques norte-americano publicou que o gasto dos visitantes em 2015 foi recorde e forneceu US$ 32 bilhões de dólares à economia americana, apoiando 295 mil empregos. Mais importante ainda: constatou-se que, para cada US$ 1 investido nos parques, havia um retorno de US$ 10 à sociedade.

Quando estimulamos o ecoturismo, o desenvolvimento das comunidades locais aumenta

A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza realizou, recentemente, um estudo valorando o impacto de cinco parques paranaenses. Juntos, eles geram, ao todo, cerca de R$ 80 milhões em benefícios locais, regionais e globais. Em Curitiba, por exemplo, a UC valorada foi o Parque Natural Municipal Barigui, que sozinho “devolve” R$ 43 milhões ao ano à sociedade. Neste caso, constatou-se que, para cada R$ 1 investido, havia um retorno de R$ 12,50 em benefícios econômicos e sociais.

São dados como esses que enriquecem a discussão sobre a importância da criação e manutenção de Unidades de Conservação. Se conseguirmos convencer os administradores locais de que a conservação é um bom negócio e engajá-los para que invistam em UCs e apliquem o montante gerado por elas no bem-estar das comunidades locais e na proteção do meio ambiente, estaremos estimulando o crescimento do ecoturismo.

O ecoturismo, diferentemente do turismo ecológico, não só preconiza o contato de turistas com áreas naturais como busca minimizar os impactos causados pelo homem à natureza e estimula a economia e a cultura local da área conservada. A contratação de mão de obra local e a capacitação da comunidade para as atividades turísticas são fundamentais para a implantação bem-sucedida dessa viagem responsável às áreas naturais. Um bom exemplo na prática é a capacitação de chefs de cozinha nativos, que podem exaltar a culinária local e gerar empregos.

Não é uma tarefa simples, mas, como cidadãos, podemos nos mobilizar e contribuir para que o ecoturismo ganhe força, seja atuando profissionalmente (como turismólogo, biólogo ou outros profissionais do setor), ou escolhendo destinos para nossas viagens levando em consideração esses fatores. Sempre questione o fornecedor do serviço que irá utilizar e saiba quais impactos ele está gerando para a região. Quando estimulamos o ecoturismo, o desenvolvimento dessas comunidades locais aumenta e contribuímos, consequentemente, para a valorização da cultura, o cuidado com o ecossistema e, por existir um investimento na região, a melhoria da qualidade de vida das comunidades.

Precisamos de mais investimentos em iniciativas que sigam os princípios estipulados pela Sociedade Internacional do Ecoturismo (Ties, na sigla em inglês). Ações que desenvolvam consciência ambiental, cultural e respeito, gerem benefícios financeiros para os moradores locais e para o setor privado e que proporcionem experiências interpretativas memoráveis aos visitantes.

Exercer a nossa cidadania é cobrar medidas para priorizar e facilitar a criação de mais unidades de conservação, pedir por incentivos para fazer com que parques nacionais tenham melhor infraestrutura para receber os visitantes e trabalhar com educação ambiental nessas áreas, fazendo com que as pessoas entendam que preservar a natureza é garantir o nosso presente e o futuro das próximas gerações.

Leide Takahashi é doutora em Conservação da Natureza, consultora em planos de manejo e uso público em diferentes unidades de conservação federais, estaduais e privadas, membro da Comissão Mundial de Áreas Protegidas CMAP/IUCN-Brasil e gerente de Projetos Ambientais da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
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