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Houve um tempo em que tínhamos um Brasil sem liberdades. Uma só ideia oficial era permitida. Os trabalhadores sofriam todo tipo de arrocho sem poder questionar. Os jovens foram silenciados. O governo não permitia ser afrontado ou fiscalizado. Toda forma de expressão autônoma era subversiva. Houve torturas, exílios, desaparições.

Mas, um dia, as pessoas conseguiram reunir forças para se organizar, em um partido dos trabalhadores. De baixo para cima. Um partido sem pedir licença.

Uma parte desta sociedade nunca aceitou a existência do PT

O governo mandou reprimir. Levaram o Lula para a cadeia. Não adiantou. Eles estavam em toda parte, resistindo, se expressando coletivamente. Retomaram sindicatos até então ajoelhados ao regime. Fizeram greves. Organizaram núcleos nos bairros, nas igrejas, universidades e nas artes. Uns barbudos, mulheres e jovens militantes falavam em dar poder aos trabalhadores, eleições diretas, fortalecer políticas públicas universalistas, reduzir desigualdades, dividir riquezas e a terra, combater toda forma de opressão. Uma novidade.

Aos poucos, o PT conquistou amplas camadas da sociedade e essa massificação do partido significou a derrota definitiva da ditadura.

Contudo, uma parte desta sociedade nunca aceitou a existência do PT. Preferiu a ditadura. Minoritários, é verdade. A maioria queria a liberdade e a democracia.

Muita água passou por esse moinho. O PT mudou muito, não é mais aquele partido da década de 1980. É menos barbudo, menos militante, mais vertical e com um discurso bem mais comportado. Topou as regras do jogo eleitoral, amplas alianças, recebeu financiamento das mesmas empreiteiras que os demais partidos, fez a carta aos brasileiros. Acertou e errou. Acreditou que para acertar, precisava errar.

Ainda assim o incômodo daquela minoria autoritária sempre foi ao velho PT, habitado, de certa forma, ainda hoje, dentro e fora deste novo PT. Senhores e jovens senhores, que ainda repetem os jargões da guerra fria, mantém a intolerância ao partido que afrontou a ordem da ditadura e produziu uma nova consciência política nas massas oprimidas no Brasil. O que gera a repulsa nessas pessoas não são os erros cometidos pelo PT, pois são adeptos dos mesmos, ainda que os condenem quando cometidos exclusivamente pelo PT. O que não aceitam é o que o PT representa.

Acusam o PT de ter criado a luta de classes no Brasil, quando na verdade o partido decidiu organizar e dar voz aos explorados. Condenam o PT por ter separado brancos e negros, quando o que fez o partido foi se recusar a encobrir o nosso passado escravocrata e lutar contra o racismo. Atacam a tal “ideologia de gênero” implantada pelo PT, quando o partido apenas defendeu o respeito básico às diversidades. Denunciam o PT por ser uma “ditadura comunista”, quando são eles que não suportam o contraditório, a soberania popular e a democracia.

Este petismo (e os petistas), para essa minoria de saudosos da ditadura, deve ser completamente exterminado (“despetização”), numa repetição trágica da mesma razão que produziu os momentos mais sombrios da história da humanidade. Uma minoria autoritária que nem se cora ao ver torturadores sendo homenageados no Congresso Nacional e que apoiam aqueles que se impuseram, através de um golpe, no comando do país. Um golpe muito mais profundo que o impeachment da Dilma ou a criminalização do PT, mesmo que estas sejam medidas essenciais para o sucesso dele. Um golpe que representa a volta da submissão do país aos rentistas, das altas taxas de desemprego desejadas pelos tecnocratas do Banco Central, do desmonte da nação, dos direitos sociais e das liberdades civis.

O golpe de hoje retoma o enfrentamento do velho PT em suas origens: de um lado, aqueles que defendem a democracia e os direitos humanos e, de outro, uma minoria totalitária que não tolera qualquer avanço social. Ambos, numa diversidade de tonalidades dentro de cada campo, disputando a hegemonia na sociedade.

O petismo – o mais genuíno – nunca foi tão importante e necessário.

André Machado, historiador, mestre em Tecnologia pela UTFPR, dirigente do PT municipal de Curitiba.
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