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Para a ética, a política é o serviço em vista do bem comum, promovendo a dignidade e os direitos de todos. Para o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), a pessoa humana é um ser social e político, e a política tem como meta levar as pessoas à felicidade. Nesta mesma linha, o filósofo Santo Agostinho de Hipona (354-430 d.C.) afirma que as organizações políticas só terão êxito quando seus membros se conscientizarem de que o bem da coletividade deve sempre prevalecer sobre interesses de grupos particulares que monopolizam a função política, colocando-a apenas em vista do bem particular. Embora hoje a prática dos políticos profissionais tenha mostrado o contrário, com a corrupção e interesses escusos dominando o tema na mídia, a política deve ser entendida como exercício da cidadania, e que os eleitos entendam que assumem um serviço em prol do povo e, de modo especial, do bem comum.

Considerando que a política, em seu verdadeiro sentido, é a prática do bem em vista do bem comum, a participação das pessoas, exercendo a cidadania, levará a um fortalecimento da democracia e ao fortalecimento das estruturas que ajudem a construir uma sociedade mais justa e solidária. Claro que não é fácil acreditar que a política possa ser algo honesto, diante de tantos desmandos e tanta corrupção dos políticos profissionais; no entanto, faz-se necessário que todos nós nos conscientizemos do valor da participação, para que os corruptos não permaneçam no poder.

Alguns passos positivos já foram dados no Brasil, devido à participação popular, como a campanha vitoriosa da Ficha Limpa (Lei Complementar 135/2010, que alterou o dispositivo da Lei Complementar 64/ 1990 para elevar à inelegibilidade políticos corruptos de três para oito anos, bem como trazer novas hipóteses de inelegibilidade e a eficácia da sua aplicação). Outro exemplo foi a Lei Contra a Corrupção Eleitoral (Lei 9.840). A Lei da Ficha Limpa e a Lei Contra a Corrupção Eleitoral só foram possíveis devido a campanhas lideradas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e várias outras entidades em favor de uma política séria.

Essas entidades assumem a ética como um elemento fundamental na política, pois, sem uma atitude de respeito pelo bem comum, não é possível construir uma sociedade democrática. Essas instituições não fazem política partidária, mas trabalham em mobilizar a sociedade em vista de uma política do bem comum.

Não podemos esconder o desencanto do povo pela política partidária no Brasil, pois a cada dia a mídia publica figuras da política nacional e regional envolvidas em esquemas de corrupção. Por sua vez, não faltam vozes a clamar, com evidente razão, por mais ética na política. E essa ética deve ser manifestada pela classe política com atitudes concretas voltadas ao bem comum. E nós, cidadãos, por nossa vez, somos chamados a não cruzar os braços – pelo contrário: cobrar dos eleitos ações que edifiquem uma política transparente e voltada ao bem da coletividade.

Política vai muito além da eleição, mas também é eleição, e ensina a cada um de nós a discernir bem em quem votar e, ao mesmo tempo, organizar com entidades idôneas a defesa dos direitos e a promoção da solidariedade. Projetos de iniciativa popular, caso das duas leis citadas, tiveram êxito devido à mobilização dos cidadãos; por isso, é importante que novos desdobramentos sejam realizados em prol de uma política limpa e transparente. Participar de entidades sérias, que combatem a corrupção eleitoral, é um exemplo de caminhos por onde devemos caminhar. Assim exercemos a nossa cidadania e ajudamos a edificar uma nação melhor.

Joaquim Parron, padre missionário redentorista, é doutor em Ética Social pela The Catholic Universisty of America (Washington, DC) e mestre em Pedagogia Universitária pela PUCPR.

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