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No fim de abril, o assassino de Victor Hugo Deppman foi solto. Em 9 de abril de 2013, seu último dia de vida, Victor tinha 19 anos. Seu assassino estava a três dias de completar 18. Victor não reagiu, apenas entregou o celular e recebeu um tiro na cabeça. Sua mãe ouviu o disparo.

O leitor dificilmente saberá o nome do homicida que ficou apenas um ano e 11 meses em reclusão, nem conhecerá seu rosto. Seu registro foi apagado de qualquer documento legal e, aos 19 anos (idade de Victor quando foi covardemente morto), está livre para viver a vida que negou ao universitário. Após o crime, o bandido foi entregue à polícia por sua mãe evangélica, uma cristã da vida real, daquelas que são diariamente difamadas por roteiristas de novela e sociólogos de botequim.

Com Victor, todos nós morremos um pouco. A sociedade brasileira falhou com ele, com seus pais, com seus amigos e familiares, e principalmente com todos os jovens que optaram por trabalhar e estudar em vez de roubar, estuprar e matar, independentemente da faixa de renda. O crime não depende do quanto se tem na carteira, mas do quanto se deseja saquear da carteira alheia.

Numa reportagem reveladora do jornal O Globo publicada em 2010, ficamos sabendo que nenhum dos 22 colegas de primário de Fernandinho Beira-Mar, o traficante mais famoso do país, entrou para o mundo do crime. Nenhum. Como disse um deles, “não é porque você nasce e mora numa comunidade carente que você vai virar bandido. O jovem se torna um criminoso quando não tem apoio da família. Você é o que deseja ser”. A mesma educação, destinos totalmente diferentes.

A morte de Victor, como na música, não tem sentido, nem nunca terá

Deixo para especialistas a tarefa inglória de entender como alguém coloca a cabeça no travesseiro e dorme defendendo que psicopatas como o assassino de Victor estejam nas ruas, algo que nem sua própria mãe biológica quis, enquanto o rapaz está morto e sua família, destroçada. As próximas vítimas desse criminoso também não terão a oportunidade de saber.

Os pais de Victor hoje lutam pela redução da maioridade penal, mas, como suas ideias não reforçam a narrativa dominante na imprensa, foram alijados do debate – assim como 90% da população brasileira. Mas, para qualquer artista, esportista ou subcelebridade que queira emergir das trevas do ostracismo, basta repetir as palavras de ordem da esquerda que sempre haverá um jornal ou blog para repercutir.

A morte de Victor, como na música, não tem sentido, nem nunca terá. Nada poderá trazer Victor de volta, mas a cada dia que seu assassino estiver livre nas ruas o país que trabalha, estuda e produz é esbofeteado, ameaçado e humilhado.

Enquanto a sociedade é hipnotizada por narrativas construídas a partir de cartilhas políticas, pessoas de verdade, de carne e osso, estão morrendo nas ruas. Criminosos são incensados pela pior escória moral da política e da imprensa, os sociopatas que cospem nos cadáveres de inocentes enquanto simulam indignação em casos frívolos ou simplesmente fabricados para substituir o bom senso por fetiches ideológicos. Edmund Burke classificou esse tipo de hipócrita como alguém que ama a humanidade e detesta o próximo.

Mais uma vez, o crime compensou no Brasil. Outro criminoso está nas ruas, com ficha limpa, buscando o próximo Victor. Que a morte de inocentes como ele assombre para sempre os defensores da legislação que garante a impunidade de seus assassinos. Enquanto isso, fica a esperança de que os “poetas delirantes” e “profetas embriagados”, os que não têm vergonha nem nunca terão, tenham ao menos algum respeito pelas famílias das vítimas.

Alexandre Borges, publicitário, é diretor do Instituto Liberal.
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