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A primeira reunião do Copom sob a batuta do novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, não trouxe surpresa. Apesar do discurso mais firme contra a inflação em sua posse, foi decidida por unanimidade a manutenção da Selic em 14,25% ao ano. Mas com mudanças substanciais na comunicação do BC, agora mais precisa.

Assim, podemos preparar a festinha de aniversário. Desde 29 de julho de 2015, a Selic está em 14,25%, quando o ciclo de aperto monetário iniciado em 2014 foi encerrado. Como a próxima reunião do Copom está marcada para setembro, já podemos encomendar o bolo.

Apesar do aumento de juros em 2015 e sua manutenção ao longo de 2016, a inflação teima em permanecer acima da meta sob qualquer medida – IPCA cheio, Núcleos, Preços Livres etc. É bem verdade que a inflação de 10,7% de 2015 não se repetirá, mas tampouco chegaremos à meta estabelecida pelo CMN de 4,5% em dezembro. Será que em 2017?

A inflação cheia parece convergir para a meta, mas os preços livres teimam em resistir à política monetária

Para que a política monetária surta efeito na economia é preciso um pouco de paciência, ou o que os economistas chamam de defasagem. O aumento dos juros só começará a impactar a inflação seis meses adiante (segundo cálculos do próprio BC). Ou seja, como o Banco Central finalizou o ciclo de aperto monetário em agosto de 2015, poderíamos esperar que a inflação começasse a ceder no começo deste ano.

Na comparação do IPCA trimestral entre os anos de 2015 e 2016, temos os seguintes números: no primeiro trimestre, 3,8% contra 2,6%; no segundo trimestre, 2,3% contra 1,7%. Se olharmos para os preços livres (os que teoricamente seriam mais afetados pela política monetária), o cenário é parecido: no primeiro trimestre, 2,5% contra 2,9%; no segundo trimestre, 2,0% contra 1,6%. Moral da história: a inflação cheia parece convergir para a meta, mas os preços livres teimam em resistir à política monetária, o que pode ser um risco para a inflação futura, mesmo com o discurso mais firme do BC.

Vale notar que a inflação no meio do ano tende a ser mais baixa, o que os economistas chamam de sazonalidade. Caso os preços sigam o padrão histórico, devemos ter os próximos números do IPCA superiores aos que vimos em maio e junho, o que pode fazer com que a inflação no fim do ano dê um repique.

O clima de otimismo, justificado pela competência da nova equipe econômica, deu um ânimo aos agentes econômicos, que revisaram para baixo suas projeções de inflação. Algumas delas já cravam o IPCA de 2017 em 4,5% – na meta. Difícil de acreditar, dada a grande incerteza até o fim do próximo ano, o risco de qualquer choque em preços fazer com que a inflação se desvie de sua rota, o carregamento da inflação de 2016 em reajustes de contratos, a resiliência dos preços livres e o natural viés de euforia (inclusive deste que vos escreve) com a nova equipe econômica. Nunca é demais notar que, ano após ano, as projeções de inflação de prazos mais longos são sempre mais otimistas que a inflação observada.

Torcemos sempre para que a inflação recue e se mantenha em patamares civilizados. Mas ainda permanecemos céticos quando nos deparamos com projeções muito otimistas e as confrontamos com a resiliência dos preços no Brasil. Desde a adoção do regime de metas de inflação, o IPCA ficou abaixo de 4,5% somente em três anos (2006, 2007 e 2009). Cantaremos parabéns para a nossa Selic no fim do mês, mas com aquele sentimento de que ela amadureceu tarde demais.

Leonardo Palhuca é mestre em Economia pela Albert-Ludwigs-Universität Freiburg e editor do site Terraço Econômico .
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