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| Foto: Felipe Lima

Mais de um ano após a aprovação da adesão do HC/UFPR à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (adesão esta que ocorreu de forma turbulenta e questionável em 29 de agosto de 2014), pouca coisa mudou para melhor dentro do Hospital de Clínicas. Até o momento, o que temos visto são muitas “medidas cosméticas” (como alteração de nome de unidades), propostas desastradas para a gestão da força de trabalho e nenhuma melhora efetiva no atendimento à população. O discurso da flexibilidade, um dos que mais se fizeram presentes entre os defensores do modelo, vai se mostrando uma falácia.

A adesão à Ebserh não modificou a forma de financiamento do HC

Mudança e expansão em curso

Estamos quase na metade do período de transição administrativa entre o modelo de gestão anterior e o novo modelo de gestão compartilhada entre a Ebserh e a UFPR

Leia o artigo de Flavio Tomasich, superintendente do Complexo Hospital de Clínicas

Essa “flexibilidade” tem se mostrado bastante mentirosa, especialmente no tocante à gestão da força de trabalho. Aproveitando-se da descoberta de um escândalo de médicos fantasmas, a Ebserh vem fazendo uma gestão baseada no medo e suposta “caça às bruxas”. Para comandar tal operação, foi nomeado um ex-gestor da prefeitura de Colombo, afastado após ação do Ministério Público.

As decisões da Ebserh neste âmbito mostram que seus gestores pouco sabem acerca da forma de funcionamento de um hospital. Um exemplo: para poder ter três dias de folga no fim de ano (na semana do Natal ou na semana do ano-novo), cada trabalhador terá de compensar as 18 horas de trabalho. Até aí, tudo normal. Mas, segundo determinação do RH, essa compensação deveria ser de uma hora por dia. Para uma área administrativa, tudo certo. Para a área de assistência, um desastre, visto que de nada adianta que uma equipe na UTI (ou outra área como essa) fique uma hora a mais, visto que já terá acontecido a troca de plantão e uma equipe ficará “moscando”. Tal determinação, bem como a que impedia os trabalhadores vinculados à Funpar de ter este mesmo direito, só foi revertida após uma assembleia com mais de 300 trabalhadores ter ameaçado um dia de paralisação de atividades. Agora os trabalhadores poderão fazer a compensação por hora ou em plantões de seis horas.

Tais determinações vêm sempre de cima para baixo, sem nenhuma possibilidade de negociação com cada gerente de unidade e/ou supervisor técnico, que são aqueles que de fato administram o HC lá na ponta, no local onde as coisas acontecem. Outros exemplos poderiam ser dados, como a impossibilidade de horários mistos – por exemplo, das 10 às 16 horas, possibilitando que alguns serviços, que têm poucos funcionários, atendam pela manhã e pela tarde.

Por fim, vale lembrar, como nos cansamos de argumentar, que a adesão à Ebserh não modificou a forma de financiamento do HC. Ou seja, em bom português, não há dinheiro novo. A única coisa que foi modificada, nesse âmbito, foi a contratação de mais trabalhadores pela Ebserh. Mas o funcionamento de um hospital não depende apenas do trabalho dos médicos e dos profissionais da enfermagem. Para abrir leitos e ocupar toda a capacidade instalada do HC, é necessária uma ampliação do orçamento que não aconteceu, ainda mais nestes tempos de ajuste fiscal. A Ebserh não trouxe, como era prometido, a abertura dos leitos que atualmente estão fechados.

O que podemos concluir é que, mais de um ano após a adesão à Ebserh, nada de fundamental foi alterado no HC e as efetivas melhorias continuam dependendo de maior financiamento por parte do governo federal, o que poderia ser feito independentemente da adesão.

Bernardo Pilotto, sociólogo pela UFPR e mestrando em Saúde Coletiva pela Unifesp, é assistente administrativo no HC/UFPR.
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