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| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

O Brasil encerrou 2016 com 12,3 milhões de desempregados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desocupação média foi de 11,5% no ano passado – três pontos porcentuais acima do registrado em 2015. Ainda que a taxa média paranaense fique abaixo da nacional (8,5%), o estado fechou o terceiro trimestre de 2016 com o maior índice de desocupação da Região Sul.

Mas a pura geração de emprego não é suficiente. A qualidade das vagas oferecidas está na essência do processo de desenvolvimento e do bem-estar social. É preciso não apenas elevar a produtividade em todos os setores, mas também a proporção de trabalhadores em empregos de alta produtividade. Assegurar a redução da informalidade do mercado de trabalho (que no Paraná chegou a 31% em 2014, segundo o IBGE) é outro ponto importante, ainda que possa elevar os custos para os empregadores. Ignorar a informalidade traz impactos relevantes, como as distorções produzidas pela concorrência desleal, a existência de trabalhadores desprotegidos ou em condições análogas às da escravidão, além de criar ambiente propício para atividades ilícitas.

No Brasil a “desindustrialização” do emprego se deu mais rapidamente que em outros países

Além dos fatores conjunturais que impõem desafios para a geração de emprego de qualidade no Brasil, existem também questões estruturais, com destaque para a redução da participação da indústria na geração de empregos e o impacto da digitalização na atividade econômica.

A criação de vagas no setor industrial brasileiro voltou a cair em dezembro de 2016, segundo o IBGE, após ter interrompido 22 meses consecutivos de queda em novembro, e tem hoje o pior patamar em 12 anos. No Paraná, o volume de vagas no setor industrial caiu 10% no terceiro trimestre de 2016 em comparação com o mesmo período de 2015, seguindo exatamente o mesmo ritmo de queda visto em nível nacional no mesmo período. Se por um lado isso pode ser interpretado como a evolução natural do estágio de desenvolvimento das economias, no caso brasileiro a “desindustrialização” do emprego se deu mais rapidamente que em outros países que passaram pelo mesmo processo, e segue em ritmo acelerado. Além disso, resulta em uma participação do emprego industrial inferior à de economias que servem como referência.

Estudos realizados recentemente nos EUA, Europa e Brasil constatam que a digitalização pode contribuir de forma expressiva para acelerar o crescimento do PIB, e que um dos principais mecanismos pelos quais isso ocorre é o melhor funcionamento do mercado de trabalho. A digitalização permite trazer para a força de trabalho pessoas que, de outra forma, não o fariam. Também contribui para reduzir o tempo de busca por emprego e para alinhar o perfil de um trabalhador com as vagas disponíveis. Por outro lado, a digitalização traz também uma grande ameaça: o potencial de automação eleva significativamente o risco de perda de emprego. Mesmo que o impacto econômico final seja bom, a transição para as pessoas envolvidas certamente será difícil.

A recuperação dos níveis de emprego e a melhoria de sua qualidade no Brasil representam desafios agudos de política econômica. Um pré-requisito é a retomada do crescimento econômico, sem o qual não se abre espaço no curto prazo para a reposição de vagas perdidas, nem, em longo prazo, para a ampliação de vagas em atividades de alta produtividade. Além disso, pesquisa do McKinsey Global Institute destaca outras medidas a serem tomadas, como iniciativas que contribuam para adequar as capacitações dos trabalhadores às necessidades de uma economia em evolução (como a educação para o emprego); políticas que aumentem a competitividade para elevar a participação em mercados globais (investimentos em infraestrutura); e ações que desacelerem/revertam a queda na participação do setor industrial e a remoção de obstáculos ao empreendedorismo (como a burocracia que atravanca a abertura de empresas). Governos estaduais e municipais também têm papel fundamental na implementação deste tipo de medidas e poderão auxiliar o Brasil a se aproximar das melhores práticas internacionais, fornecendo suporte para a recuperação dos patamares de emprego nos próximos anos.

Vicente Assis é presidente da McKinsey no Brasil. William Jones é especialista sênior em Estratégias e Finanças Corporativas da McKinsey. Pedro Guimarães é líder da McKinsey na Região Sul.
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