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Adoidadas, irracionais, diferentes forças políticas empenham-se em enfraquecer o governo sem perceber que ao mesmo tempo ferem e debilitam o Estado. Há momentos em que os dois entes se superpõem e se confundem, sobretudo quando a crise – ou as crises – espraia-se em diferentes esferas, que interagem e se realimentam. É o que acontece agora. E quem não concorda com o diagnóstico vai dançar no baile da Ilha Fiscal.

A tremenda tensão política por causa dos escândalos na Petrobras, somada à inédita e demorada disputa institucional entre Executivo e Legislativo (com perigosos desdobramentos nas áreas vizinhas), exacerba as péssimas condições da economia. Como se não bastassem tais beligerâncias, vem das ruas uma persistente inquietação. Com a agravante de que nos últimos tempos os sinais de instabilidade eram atalhados por medidas de emergência – geralmente cosméticas e deletérias – que, desta vez, não poderão ser adotadas. O controle da inflação e a retomada do crescimento levarão tempo para materializar-se e devem produzir desconfortos. Significa que, no curto prazo, aumentará a sobrecarga das pulsões negativas e o agravamento do estresse.

Indócil, impaciente, sem qualquer traço de estoicismo, a sociedade brasileira é incapaz de resignar-se aos apertos e carências. Insuficientemente treinada para as inevitáveis tardanças do jogo democrático, traduz a bizantina discussão sobre o impeachment como autorização para berrar o sumário “fora Dilma”.

A sociedade brasileira é incapaz de resignar-se aos apertos e carências

Nesta demoníaca simplificação, com apenas quatro sílabas e nove letras imantam-se os desgastes do governo e do Estado. Os contestadores da presidente, nas oposições ou infiltrados na base aliada, não perceberam ou fingem não perceber a extensão da ruptura que pretendem provocar. Querem um terremoto e esquecem o indefectível tsunami que o sucede.

A alucinada busca de justificativas para iniciar o processo de impeachment (agora é a recusa do TCU em aprovar as contas do primeiro mandato da presidente) cria uma dinâmica irreversível. Estão brincando com fogo. E com fogo não se brinca quando falta água.

Também os comandados por Dilma Rousseff, cegos pelo desespero e incapacitados de avaliar a mortífera capacidade de retorno dos bumerangues, assumem riscos suicidas. Na vã esperança de travar a Operação Lava Jato, ao fomentar a disputa entre o Ministério Público e a Polícia Federal, fomenta-se irremediavelmente o ânimo dos movimentos de protesto oferecendo pretextos concretos para uma mudança de patamar. Equivale a oferecer isqueiros aos portadores de bananas de dinamite.

Estão brincando com fogo: as redes sociais são gigantescos espaços de lazer e entretenimento que rapidamente transformam-se em campos de batalha onde qualquer faísca vira labareda e qualquer fagulha significa incêndio.

Uma imprensa firme e convicta é capaz de apagar esses focos virais de exaltação e incandescência. Desde que esteja firme e convictamente empenhada em preservar setores vitais do Estado e vencer a tentação de provocar novos abalos no governo.

Esta é a hora da maioridade cívica, cidadã. Hora de cessar o jogo político habitual, rasteiro e iniciar a partida decisiva – aquela que não pode ter vencidos nem vencedores.

Alberto Dines é jornalista.
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