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O cenário atual da economia brasileira, a despeito de colocar em posições antagônicas os críticos mais acerbos da situação caótica gerada pelo governo Dilma Rousseff e os que teimam em ver algo positivo no figurino impingido ao país, a cada dia recebe mais algumas pinceladas de uma crise que parece interminável.

O que mais choca a opinião pública e, por extensão, o setor produtivo da economia – ou seja, o empresariado do agronegócio, da indústria, do comércio e serviços, além dos milhões de brasileiros que sobrevivem da atividade informal –, é que o governo insiste em difundir a falsa impressão de que tem a situação sob controle, como se nada de anormal ocorresse, num momento em que o Brasil é assolado pela inflação, inadimplência gerada por preços e juros extorsivos, por uma das maiores cargas tributárias do mundo e, o mais cruel de todos os estigmas, o desemprego, que já se apresenta em números assustadores, além das causas na saúde, educação e segurança.

Mais uma vez o governo brasileiro despreza a possibilidade de tornar-se parceiro privilegiado de economias pujantes

Uma das demonstrações inequívocas de que o governo continua fazendo escolhas erradas é a ausência do Brasil entre os países signatários do recém-anunciado Acordo de Parceria Transpacífico (TPP), que deverá abranger os mercados de 12 países, destacando-se os Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Japão, Cingapura, México, Chile e Peru, entre outros, representando mais de 40% da economia mundial e 800 milhões de habitantes.

A avaliação preliminar dos técnicos da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) indicou que, além dos prejuízos sofridos pela dificuldade de acesso aos mercados abrangidos pelo TPP, obrigatoriamente o Brasil terá de se adaptar às novas regras comerciais internacionais.

Consultores sustentam que a consequência imediata será o isolamento ainda maior do país nas transações internacionais. O ex-embaixador brasileiro nos EUA Rubens Barbosa, hoje presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), sublinhou que certamente o Brasil ficará ainda mais marginalizado nas negociações que darão nova fisionomia ao comércio internacional. Foi uma oportunidade de ouro perdida pelo Brasil no incremento das trocas com países de economia forte, com visível perda para o nosso comércio exterior.

Na visão do diplomata, não houve interesse por esse acordo, e sim a insistência oficial na ênfase à política Sul-Sul, por assim dizer, um equivocado intercâmbio político e econômico entre países em desenvolvimento, com anêmicos resultados concretos. Trata-se de uma clara opção ideológica que prioriza os alinhamentos bolivarianos defendidos pelo partido da presidente.

Outro aspecto a salientar é que países exportadores de produtos semelhantes aos nossos ganharão com a redução tributária e exigências burocráticas. Enquanto as economias industrializadas e em desenvolvimento firmam acordos comerciais bilaterais, a exemplo do Acordo Transpacífico, o Brasil persiste na aposta em acordos multilaterais segundo normas da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Ao que tudo indica, mais uma vez o governo brasileiro lança mão da política do faz de conta, desprezando a possibilidade de tornar-se parceiro privilegiado de economias pujantes, preferindo submeter-se ao ranço ideológico predominante em países atrasados do ponto de vista político, econômico e social. É uma perda lastimável, cujos resultados serão sentidos em breve.

Antonio Miguel Espolador Neto, empresário, é presidente da Associação Comercial do Paraná.
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