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Os recentes números da economia brasileira não são animadores. O desemprego já beira os 10%, com taxa básica de juros em 14,25%. Pelo menos a inflação dá pequeno sinal de recuo, com o IPCA em fevereiro e março abaixo do previsto, projetado para fechar o ano em cerca de 7%, contra 11% visto em 2015.

À primeira vista, seria tentador dizer: o alto desemprego está causando a queda da inflação. Calma! Não há uma relação causal entre eles, apesar de seu aparente caminhar conjunto.

A estratégia correta de combate à inflação passa pela atuação independente do Banco Central

A relação negativa entre inflação e desemprego é conhecida como Curva de Phillips e dela vem a noção (errônea) de que é possível aumentar o emprego com um pouco mais de inflação ou, de forma inversa, reduzir o emprego para derrubar a inflação. Essa ideia de causalidade foi abandonada na década de 70, pelo menos por economistas que prezam pela evidência empírica.

O Brasil sofreu com a estagflação da década de 80, que nos “presenteou” com alta inflação e alto desemprego – o inverso do que diz a Curva de Phillips. Desde então, melhoramos o nosso arcabouço institucional para reduzirmos o uso de mecanismos que podem levar a uma aceleração inflacionária (dentre eles, a proibição de operações de crédito entre o governo e bancos controlados por ele).

E nesse nosso esforço reformista, entregamos o papel de guardião da moeda a alguém com nome e sobrenome: Banco Central do Brasil. Assim, mesmo que o desemprego suba ou desça, o controle da inflação deve ser feito com os instrumentos disponíveis ao BC, após análise das demais variáveis que afetam-na. E seu trabalho é afetado por variáveis sob controle do governo, como a política fiscal. Trocando em miúdos: contas públicas em ordem.

A atual recessão é responsável pelo alto desemprego e o arrefecimento da inflação é fruto tanto da desaceleração econômica quanto do menor efeito de choques de preços administrados e do câmbio que nos afetou em 2015. Mas a pequena queda do IPCA nos últimos dois meses, ao mesmo tempo em que o desemprego sobe, dá a impressão que existe uma estratégia de derrubar a inflação ao custo do emprego. Ledo engano.

A estratégia correta de combate à inflação passa pela atuação independente do Banco Central para utilizar seus instrumentos em diversos canais, como expectativas e crédito, contando ou não com a ajuda de outras políticas que garantem estabilidade macroeconômica. Quaisquer invenções vindas de gabinetes do Planalto, como controle de preços administrados, arrocho salarial serão apenas tiros que sairão pela culatra.

É bem provável que observemos a inflação dentro do intervalo da meta com desemprego alto em 2016. Aí, muitos dirão que a inflação foi derrubada com o aumento do desemprego. Bom, até aí, toda a vez que visto minha camisa favorita do Corinthians, ele ganha! Acho que se eu não usá-la nessa semana, não levaremos três pontos para casa.

Leonardo Palhuca é mestre em Economia pela Albert-Ludwigs-Universität Freiburg e editor do site Terraço Econômico.
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