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Neste sábado, 28 de março, no contexto das atividades quaresmais, os cristãos no Brasil são convidados a se abster não apenas de alimentos, mas também de gasolina, eletricidade, plástico, papel, madeira e daí por diante. Não se trata apenas de jejum-penitência. Trata-se, também, de jejum-protesto. Rezemos, nesse dia, com especial fervor pela renovação da relação humana com o meio ambiente.

Não façamos como aqueles que têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não veem; têm ouvidos, mas não ouvem; têm pés, mas não andam. Sejamos sensíveis aos sinais dos tempos: “a terra está de luto e doente, o mundo definha, está doente, com a terra, o céu murchou. A terra foi poluída sob os pés dos moradores, pois passaram por cima das leis, violaram o mandamento, romperam a aliança eterna” (Is 24, 4-6). “Não foi o braço do Senhor que ficou curto demais para salvar, nem ficaram surdos seus ouvidos e ele, incapaz de escutar. Ao contrário, vossas injustiças é que viraram um abismo a distanciar-vos do vosso Deus, foram vossos pecados que esconderam a divina Face, impedindo-o de escutar” (Is 59, 1-2).

Busquemos forças, em Deus, para renunciar ao mal. Que o egoísmo e a indiferença não encontrem repouso em nosso coração. Protestemos e criemos obstáculos às forças destrutivas que procuram devastar o “canteiro de flores” que é a Terra, nossa morada.

Recebemos a Terra como herança. Temos o dever de preservá-la e transmiti-la às futuras gerações

Deus está ao nosso lado. “Fortalecei esses braços cansados e firmai os joelhos vacilantes” (Is 35, 3). Reconciliados com a natureza, voltaremos a passear no jardim da criação. “O que era deserto voltará a ser um bosque e o que era um bosque será uma floresta” (Is 32, 15). “Mandarei que o trigo seja abundante e já não vos imporei fome. Multiplicarei os frutos das árvores e os produtos do campo” (Ez 36, 29-30). “As águas vão correr no deserto, rios na terra seca” (Is 35, 6). “Quem fizer casas, nelas vai morar; quem plantar vinhedos, dos seus frutos vai comer. (...) A vida do meu povo será longa como a das árvores” (Is 65, 21-22).

Sejamos dignos das promessas de Deus. Recebemos a Terra como herança. Temos o dever de preservá-la e transmiti-la às futuras gerações. Coloquemos um freio no consumismo, combatendo a cultura do descarte; lutemos pelas florestas, boicotando atividades que promovem o desmatamento; não aceitemos com naturalidade a poluição das águas; respeitemos o habitat dos pássaros; utilizemos e apoiemos o transporte público; recusemos o desenvolvimento industrial anárquico como via para o desenvolvimento. Consagremos o mundo novamente a Deus, para que o mundo, como disse o papa Bento XVI, se torne “hóstia viva”.

A natureza, lembremo-nos, é um evangelho que nos fala de Deus: “a grandeza e a beleza das criaturas fazem, por comparação, chegar ao conhecimento do seu Autor” (Sb 13, 5). “Esta capacidade de contemplação e conhecimento, esta descoberta de uma presença transcendente na criação, deve conduzir-nos a redescobrir a nossa fraternidade com a terra, à qual estamos ligados a partir da nossa mesma criação”, conforme notou o papa João Paulo II.

Neste sábado, façamos, em conjunto, um apelo a Deus em favor da natureza. Atravessemos a Quaresma com Jesus Cristo, colocando-nos cada vez mais à disposição do Criador. Com Cristo renasceremos, prontos a fazer mais para proteger a Terra, nossa morada, sinal reluzente da bondade e da grandeza de Deus.

Felipe Dittrich Ferreira, sociólogo, representa no Brasil o Movimento Católico Global pelo Clima.
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